“As Boas Maneiras” emerge como um conto que destila o mais puro horror gótico, onde a fantasia sombria e o terror sobrenatural se entrelaçam, conduzindo o espectador a uma dimensão onde o obscuro e o imprevisto se tornam inevitáveis. Sob a direção de Marco Dutra e Juliana Rojas, o filme explora os labirintos obscuros da psique humana e os abismos do terror que se ocultam à espreita. Desde a abertura, a atmosfera densa e soturna submerge o espectador em um encantamento nefasto, criando um espectro perturbador e visceral que ecoa pelas sombras.
O Ritual de Sangue e Medo
A trama desce aos abismos do terror e revela o cotidiano de Clara, encarnada por Isabél Zuaa, uma mulher negra marcada pela periferia de São Paulo, que assume a função de babá de Ana, uma grávida de comportamento inquietante, vivida por Marjorie Estiano. Sob o poder sombrio das luas cheias, Ana sucumbe a distúrbios sinistros, transformando-se em algo além do humano. A relação entre Clara e Ana evolui para uma simbiose de desejos e horrores que desdobra o mistério em suas camadas mais perturbadoras. Quando a noite os consome, a transformação de Ana ressurge como um ritual feroz e denso, tornando a obra um espelho do próprio medo que espreita nas dobras da humanidade.
A Técnica Fantasmagórica
Estreando no Festival Internacional de Cinema de Locarno em 6 de outubro de 2017 e lançada em solo brasileiro em 7 de junho de 2018, As Boas Maneiras é uma produção da Dezenove Som e Imagens, Urban Factory, Good Fortune Films e Globo Filmes, distribuída pela Imovision. No elenco, destacam-se Isabél Zuaa como Clara Macedo, Marjorie Estiano como Ana Proença Nogueira, e Miguel Lobo no papel de Júlio Macedo. A direção de Dutra e Rojas consagra o filme em uma atmosfera de beleza soturna, enquanto a cinematografia de Rui Poças pinta cada quadro como uma tela assombrada pela escuridão, amplificada por uma trilha sonora espectral que transforma cada suspiro do vento em um chamado das profundezas.
A Beleza no Inferno
As Boas Maneiras desafia a expectativa com uma obra sublime e maligna, onde cada sombra esconde um medo antigo, e cada nota musical reverbera como um lamento do além. Trata-se de um filme onde horror e beleza coexistem em uma dança mortal, proporcionando uma experiência assombrosa e sedutora. Para os devotos do terror, As Boas Maneiras é uma experiência inescapável; para os que anseiam pelo sombrio, é um convite a percorrer os limites da escuridão e contemplar os mistérios da própria alma.