O projeto fanmade de Berserk da Besicrild surgiu de uma indignação, timing, e um completo acaso. André Taveira sempre se perguntou porque Berserk nunca conseguiu receber uma animação de qualidade, e Filipe Albuquerque estranhava que os animes disponíveis não possuíam dublagem.
Dessa forma, enquanto André publicava as primeiras versões da animação, Filipe postou na mesma semana uma versão dublada do anime de 1997, que fez com outros dubladores. Hoje, eles estão trabalhando juntos, com mais uma equipe de dubladores e animadores.
Eles irão postar minisódios no YouTube, com previsão para o meio de 2025. Além disso, há também o desenvolvimento de uma história original para o Lobo, ainda sem data de lançamento. Em entrevista exclusiva, eles comentaram um pouco mais sobre seus projetos.
Porque especificamente Berserk e o Lobo foram selecionados para as animações?
André: Basicamente porque eu sou muito fã da obra, e sempre quis que tivesse uma boa adaptação de Berserk. Lá em 2018 pensava: “acho que eu mesmo vou fazer”, tanto que tem várias versões de teste que ainda pretendo divulgar futuramente, uma em preto e branco, outra com rotoscopia, uma que eu tentei emular o estilo do Studio Ghibli.
Filipe: Com relação ao Berserk, o sentimento foi mais de revolta, tanto pelo lado da animação quanto pela dublagem. O Lobo já era uma ideia que tinha a muito tempo, talvez uns 10 anos atrás, eu desenhava uns quadrinhos dele, e sempre quis trazer isso numa animação, mas nunca conheci alguém que pudesse me ajudar. Aí conheci o André, então pensei em fazer esse tributo, trazendo um pouco da alma do Simon Bisley, dessa coisa meio louca, suja e pulp, e como eu já tinha dublado o Lobo na animação da Justiça Jovem, então foi unir o útil ao agradável.
Quais outras obras vocês têm interesse em adaptar? Vocês têm vontade de criar uma história original?
André: Essa pergunta acaba indo justamente para o propósito da Besicrild, porque desde novinho eu queria trabalhar com arte, mas nunca gostei de fazer uma coisa só. Então além de um estúdio de animação, a Besicrild é um projeto de cultura pop no geral. No futuro, penso em fazer vídeos de coisas diferentes, como gameplay ou react. Em animação, minha pretensão é mais com Berserk, mas seria interessante fazer curtas de diferentes obras como um tributo, os que eu penso são Evil Dead, Dragon Ball, Crash Bandicoot e Conan, mas tudo no papel ainda.
Filipe: Agora eu sempre penso em coisas que combinariam com a arte do André. Na minha cabeça eu tenho Juiz Dredd, Sombra, Flash Gordon, Fantasma. Por mim qualquer coisa que tenha uma vibe anos 70, 80. Eu estou usando o Lobo para dar uma ensaiada nisso, porque o universo dele dá abertura para trazer qualquer personagem, então a gente vai testando com esquetes.
Quais são suas inspirações e métodos em seus devidos setores (animação e dublagem)?
Filipe: Eu falo que dublo o queixo das pessoas, é uma maluquice minha. Quando olho para um personagem, escolho a voz com base no queixo, porque ele define o estilo do personagem. No caso do Guts e do Lobo, ambos são brucutus, mas completamente diferentes, porque o Guts é um brucutu quebrado, então eu sempre tento extrair uma voz que ao mesmo tempo é jovem e grave, mas não pode ser densa o tempo inteiro, principalmente no início, quando ainda tenta esconder o que sente, toda raiva e desprezo, mesclando isso com uma certa aversão, para fingir que ele não se importa. Já o Lobo é o cara inquebrável, e ainda tem a questão dele fumar, então tem que ser mais carregada e suja.
André: Eu desenho desde criança e sempre gostei muito de quadrinhos, então meu estilo de traço tem um pouco de Jack Kirby e Tony Moore. Já na animação tem Bruce Timm, Masaki Yuasa, Naoki Tate, a própria Disney clássica, mas minha principal inspiração com certeza é o Genndy Tartakovsky, porque ele consegue misturar linguagem cinematográfica com animação de um jeito que virou escola.
Como foi a seleção das pessoas para os personagens na dublagem? Quais critérios foram usados?
Filipe: No processo de escalar a voz, a gente viu que vai muito mais do que simplesmente escolher uma voz parecida, depende da vibe de cada ator com o personagem. Por exemplo, a gente trouxe a Vii Zedek para dublar o Puck porque ela já é engraçada naturalmente, e o Puck é justamente essa figura mais cômica no meio de um mundo sombrio. Tem que trazer a pessoa que já tenha a essência. Nas outras escalações foi muito por conta dos outros personagens que os dubladores já tinham feito, o Raphael Rossato já tinha feito personagens parecidos com o estilo do Griffith e o Maurício Berger com o Zodd.
Além do estilo próprio de animação, vocês farão mais alguma adaptação na história de Berserk?
André: Sim, mas as alterações que a gente faz são muito pontuais, até porque algumas coisas que funcionam no mangá não funcionam no áudiovisual. Um exemplo que eu posso dar é o começo, porque além de precisar vender a obra, Berserk ainda estava em fase de protótipo, com o Miura ainda pensando em como seria o mundo. Então tem situações que não condizem com o que vem depois, tipo o Guts sofrendo com soldados normais, sendo que antes, cronológicamente, ele já havia enfrentado gente muito mais forte, mas isso foi a maior mudança, e é um trecho que o anime de 97 também mudou.
Filipe: O importante é respeitar a obra e entender a estrutura dela. Eu entendi o que o Miura quis fazer no começo, o problema é que quando ele amadureceu a narrativa, houve quase que um retcon de si mesmo. Mas no geral, a Besicrild tenta fazer o melhor possível, sem modificar nada do que compõe a essência da obra.
Qual vai ser o material que vocês vão adaptar inicialmente?
André: Por mim, eu adaptava tudo de Berserk, mas a gente vai começar com o arco do Espadachim Negro, porque o máximo de adaptações que esse arco teve foi o primeiro episódio do anime de 97, mas ele ainda muda muita coisa, não tem o Puck, por exemplo. Aí da Era de Ouro, o arco da infância do Guts, e depois vai ter um salto do período dele no Bando do Falcão, porque nenhuma outra obra conseguiu adaptar isso direito. O arco do Eclipse a gente também não vai adaptar por ter muito material que já trabalhou em cima, e eles são bem fiéis ao mangá. Aí a gente volta a adaptar do momento que o Guts acorda para frente.
Filipe: No caso do Lobo, a gente tenta adaptar a história “Starman vs Lobo“, mas ela vai começar depois da HQ “Lobo vs Papai Noel“, onde é a história que o Lobo é contratado pelo Coelho da Páscoa para matar o Papai Noel. Tem alguns quadros que o Simon Bisley fez, que seria uma continuação disso, onde o Lobo volta e quer matar o Coelho da Páscoa, mas só existem rascunhos dessa hsitória, aí eu vou dar uma viajada em cima disso.
Confira a entrevista completa: