Abandone narrativas lineares e expositivas, Angel’s Egg é uma experiência visual abstrata, um aglomerado organizado de simbolismos bíblicos e existenciais que atropelam lentamente seu cérebro, lhe dando pequenos espaços de tempo para absorver o conteúdo apresentado. A trama gira em torno de uma misteriosa menina que carrega consigo um ovo gigante o qual não sabemos o que pode eclodir daquela casca e isso não é apresentado diretamente ao espectador, deixando para o observador ter sua própria interpretação. O filme não entrega essa resposta por escrito, ele provoca uma inquietação constante.
O diretor, Mamoru Oshii, também conhecido por seu trabalho em “Ghost in the Shell”, constrói um cenário solitário, quase vazio, onde o silêncio e o som ambiente parecem pesar mais que diálogos. A direção de arte é simples, podendo até mesmo ser chamado de minimalista, mas carregados de um clima opressivo e melancólico, ideal para os amantes de estilos próximos aos apresentados por Stanley Kubrick, essa estética única torna o anime uma obra-prima do terror psicológico transmutado em animação.

A obra é fora da estética atual dos animes mainstream, desafiando o público a sair do habitual, conhecido, confortável. Angel’s Egg rompe os padrões já estabelecidos em sua data de estreia, em 1985. Seja eles os estéticos ou temas universais sobre fé, perda e a busca de um motivo em um mundo fadado ao fim. Não aguarde por respostas fáceis, esteja preparado por sensações, questões e reflexões induzidas por um lindo visual, sendo ideal para os teoristas, entusiastas de filosofia e amantes de simbologia.
Apesar da complexidade, o anime cativa pelo mistério e ousadia estética. Para fãs de cultura pop que desejam ir além do óbvio e consumir algo que realmente estimule a mente, este anime é uma joia a ser redescoberta, especialmente agora com seu relançamento. Se você abraça a curiosidade com o que é alternativo e não tem medo do desconforto, talvez esse seja seu novo vício.