Junji Ito, o mestre do terror japonês, retorna ao streaming com uma nova adaptação de suas histórias arrepiantes. O projeto foi revelado oficialmente durante a Japan Expo 2025, em Paris, com um título simples, Junji Ito: Crimson.
Ito comentou brevemente sobre o projeto, e sua empolgação é contagiante:
“Atualmente, está em produção um anime chamado Junji Ito: Crimson, baseado em minhas obras originais. Só de ouvir esse título, fico animado e cheio de expectativas. Me disseram que irão escolher contos antigos e novos que possam explorar ao máximo a cor vermelho profundo como o sangue.”
O pouco que se sabe já é suficiente para deixar os fãs inquietos. A série será inspirada em contos antigos e novos do autor, todos guiados por um conceito central: monstros. A animação será exibida na Crunchyroll e contará com uma música-tema interpretada por Yumi Matsutoya. A canção “Karasuageha”, foi apresentada junto com o anúncio, o que é de fato uma colaboração inesperada. A produção ainda não revelou detalhes sobre direção, elenco ou data de estreia.
A cor como fio condutor narrativo
E aqui, o “crimson” não é só mais um vermelho qualquer. Estamos falando daquele tom denso, escuro, quase seco. Um vermelho que lembra sangue parado, tecido saturado, olhos vítreos. Enquanto o red tradicional grita na tela, o crimson é mais silencioso e sufocante. Ele não chama atenção, ele prende.
Essa ideia de cor como eixo narrativo abre possibilidades interessantes. Obras como Tomio: Red Turtleneck e o conto Kakashi (sobre um espantalho assombrado com um vestido vermelho marcante) são apostas óbvias, mas há outras histórias menos conhecidas de Ito que também poderiam se beneficiar desse foco visual.
Ghost Heights Management Association, por exemplo, mistura o paranormal com o cotidiano urbano em cenários que poderiam ganhar peso dramático com o uso de tons vermelhos, seja em portais, símbolos ou ambientes carregados de tensão. Já Mimi’s Ghost Stories, com suas narrativas curtas e intimistas, pode explorar o vermelho como elemento de ruptura, o sangue que aparece onde não deveria, o detalhe fora de lugar que sinaliza o horror.
O vermelho além do terror
Além do próprio Ito, vale lembrar que o vermelho já é um elemento marcante em outras obras visuais. A animação de Carmen Sandiego, com a capa vermelha, por exemplo, transforma a cor em identidade, presença e mistério. O mesmo pode ser dito de lendas japonesas sobre yōkais, que frequentemente usam o vermelho em trajes, máscaras, portais torii e cenas de possessão.
- Aka Manto: espírito de banheiro com capa escarlate que oferece escolhas fatais.
- Shōjō: criatura do mar amante de saquê, reconhecida pelo rosto e cabelos vermelhos.
- Tengu: ser montanhês de rosto e nariz vermelhos que guarda templos e desafia guerreiros.
- Hannya: máscara teatral cujo vermelho indica fúria consumada.
Adaptações anteriores e a promessa de Crimson
Vale lembrar que adaptações anteriores do autor oscilaram entre o memorável e o esquecível. Junji Ito Collection (2018) e Maniac: Japanese Tales of the Macabre (2023) trouxeram uma seleção de histórias clássicas como Balões Enforcados, Sonho Longo e os infames episódios de Sōichi. Já o aguardado Uzumaki, lançado pelo Adult Swim em 2024, começou com elogios, mas perdeu força conforme a qualidade da animação despencava. Ainda assim, atualmente é possível assistir Uzumaki na plataforma de streaming MAX.

A questão permanece: será que Crimson finalmente conseguirá fazer justiça à complexidade visual e emocional do trabalho de Ito? Ainda é cedo para cravar qualquer resposta, mas se o título já é uma promessa de sangue, tensão e criaturas inquietantes, a gente já está com os olhos grudados no vermelho.
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