O anime é, definitivamente, absolute cinema
Após um ano e algumas pausas por causa do aumento dos casos de coronavírus no território nipônico, o último episódio de NieR:Automata Ver1.1a estreou na última sexta-feira, 27, dando adeus à história dos androids 2B, 9S e A2. Finalmente é possível dizer que a adaptação do jogo NieR:Automata, de 2016, tornou o trabalho de Yoko Taro mais brilhante ainda.
Tal como a obra original, a animação explora, ao longo da primeira parte, a jornada de dois androids — 2B e 9S — soldados do esquadrão militar YoRHa, que tem como objetivo derrotar todas as máquinas que dominaram o planeta Terra para, assim, os humanos poderem retornar para casa.
NieR:Automata Ver1.1a, acima de tudo, desenvolve com a maestria as personagens e as relações que elas têm umas com as outras, especialmente quando trata-se de A2. O jogo, infelizmente, revela apenas um pequeno pedaço do passado da android conhecida por ser fria e brutal; os fragmentos da história dela são contados através de diálogos em missões secundárias e de um arquivo resumindo os acontecimentos da missão Pearl Harbor Descent. O anime, por outro lado, fez justiça à A2, explorando completamente a sua história e aprofundando a sua percepção em relação aos outros androids, às máquinas e ao mundo em si.
Outro aspecto verdadeiramente fascinante é a demonstração da habilidade hacking. Em vez de transformar-se em uma nave e destruir obstáculos, 9S invade as memórias e os sentimentos de quem está hackeando. Durante uma missão no deserto, o parceiro de 2B acessa o passado de uma máquina, sendo teletransportado ao reino de Facade no instante em que o rei está casando-se com a sua amiga de infância, Fyra. Em outra ocasião, as aventuras de Emil também são brevemente narradas quando 9S e 2B encontram-no na floresta. Os dois flashbacks em questão aconteceram há nove mil anos, durante os eventos de NieR:Replicant, de 2010, e representam uma incrível homenagem ao primeiro jogo.
Como dissertou Fred Vieira, nosso redator na Black&CO, NieR:Automata dialoga com diversos filósofos. O mais impactante de todos é Friedrich Nietzsche, com a afirmação “Deus está morto”. Essa frase encaixa-se perfeitamente quando os androids, que foram feitos à imagem dos humanos, percebem que os seus criadores estão mortos. Ao descobrir a verdade e, principalmente, ao testemunhar a morte de 2B, o scanner 9S é tomado por loucura e insanidade jamais vistas durante o jogo. O anime conseguiu representar de maneira espetacular e dolorosa alguém que acabou de perder um grande amor e deseja destruir tudo, pois a existência não faz sentido sem aquela pessoa.
Curiosamente, o jogo tem 26 finais ao todo, cada um correspondendo a uma letra do alfabeto (“flower for m[A]chines“, “or not to [B]e” e “meaningless [C]ode“, por exemplo) e, justamente por haver tantas possibilidades, era realmente uma incógnita como a história do anime seria desenvolvida e encerrada. No fim, a produtora Aniplex, com o auxílio do criador Yoko Taro, optou por misturar os pontos de vista do trio 2B, 9S e A2, além de ter incorporado a visão humanizada das máquinas, o que resultou no quinto e último final principal, “the [E]nd of YoRHa“, mas com uma passionalidade e uma melancolia muito mais intensas do que no jogo.
Uma adaptação bem feita é aquela que consegue capturar a essência da obra e foi exatamente o que NieR:Automata Ver1.1a fez, diferente de Persona 5 the Animation, de 2018. Assim como NieR:Automata, o jogo Persona 5, de 2016, tem facilmente mais de 100h de gameplay e, apesar de ambas as animações terem praticamente a mesma quantidade de episódios, diversos elementos principais foram perdidos em Persona 5 the Animation, como o relacionamento entre os companheiros e a profundidade física e psicológica dos palácios.
Com o intuito de adaptar a história do melhor jeito possível, Yoko Taro decidiu mudar algumas coisas. “O título do anime tem o afixo Ver 1.1a porque NieR:Automata foi uma história que criamos para ser um jogo, então copiá-la da maneira que é não seria interessante para um anime”, explicou no decorrer de uma entrevista no Aniplex Online Fest 2022. Por fim, o diretor, com a sua genialidade, realizou, ao lado da produtora, um trabalho fenomenal.
O mundo de NieR
A história de NieR:Automata começa, na realidade, dez mil anos antes dos acontecimentos principais do título. No quinto final de Drakengard, de 2003, as personagens enfrentam a antagonista do jogo, Queen-Beast. Logo após ser derrotada, a final boss se dissolve em um material branco que, posteriormente, dá origem à doença White Chlorination Syndrome.
O jogo NieR:Replicant acontece mil anos depois da morte de Queen-Beast. Inserido em um mundo onde o homem está extremamente doente e frágil, o jovem Nier, ao lado dos amigos Kainé, Weiss e Emil, embarca em uma missão para resgatar a sua irmã mais nova, Yonah, contudo, ao salvá-la, ele destrói o que havia restado da raça humana.
Todos os episódios de NieR:Automata Ver1.1a estão disponíveis na plataforma de streaming Crunchyroll.