Em um futuro onde a tecnologia se mistura sem esforço à vida cotidiana, Make a Girl, filme do animador Gensho Yasuda, propõe uma reflexão sensível sobre o amor e a inteligência artificial.
A trama acompanha Akira, um jovem prodígio da robótica frustrado por não conseguir concluir as pesquisas iniciadas por sua falecida mãe. Levando ao pé da letra a ideia de que ter uma namorada pode ajudá-lo a “subir de nível”, o rapaz decide construir Zero, uma andróide perfeita. O que começa como um experimento de programação logo se transforma em um dilema existencial, quando Zero passa a desenvolver emoções próprias.

Inspirado em seu curta Make Love e realizado por meio de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding, o longa marca a estreia de Yasuda e reforça sua reputação como uma das figuras mais promissoras da animação 3D. Ainda mais impressionante é o fato de o diretor assinar sozinho o roteiro, a direção e a animação, tendo controlado todo o processo criativo do começo ao fim.
O resultado é um filme marcante que reflete a dedicação do autor à tecnologia 3DCG e ao Blender que, até pouco tempo atrás, era associado apenas à publicidade e à indústria de videogames, e não à produção cinematográfica narrativa. Porta que também se abriu com a vitória de Flow no Oscar de Melhor Filme de Animação em 2025.
O que acontece quando a inteligência artificial aprende a amar?
Apesar de partir de um conceito familiar em obras do gênero, o longa aborda a relação entre homem e máquina com olhar atento aos detalhes. Akira é retratado como alguém totalmente dependente da tecnologia, capaz de delegar desde tarefas domésticas até gestos simples, como assinar uma folha de papel, a seus dispositivos. E, à medida que a andróide começa a demonstrar empatia, curiosidade e até mesmo dor, a narrativa deixa de lado o fascínio pela fantasia tecnológica e se concentra na fragilidade emocional do próprio criador.
Yasuda transforma essa dinâmica em um espelho da solidão moderna. Akira não é apenas um gênio da robótica, mas também um jovem isolado, incapaz de se conectar de forma genuína com outras pessoas. E em Zero, ele projeta a parceira ideal, obediente, previsível, “perfeita”. Mas o surgimento repentino de emoções mais profundas na andróide desmonta essa fantasia. A partir daí, o filme passa a questionar a própria noção de autenticidade: se um sentimento nasce de um código, ele deixa de ser real?
Mesmo com tropeços narrativos e personagens secundários pouco explorados, incluindo o antagonista, a animação se destaca por tratar a inteligência artificia não como uma ameaça, mas como um espelho da fragilidade humana. No final, fica a sensação de que, por trás de cada linha de código, pode existir um desejo genuíno de entender o que nos torna vivos.
Produzido pelo Estúdio Gensho Yasuda, em parceria com a Kadokawa, Make a Girl estreia nos cinemas brasileiros no dia 13 de novembro, com distribuição da Sato Company. O longa conta com as vozes de Shun Horie como Akira e Atsumi Tanezaki (conhecida por interpretar Anya em Spy x Family) no papel de Zero.
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