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Ainda Estou Aqui é um dos principais destaques de 2024

Ainda Estou Aqui: diferenças entre o livro e filme

Ainda Estou Aqui é um filme dirigido por Walter Salles (Central do Brasil), e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. O longa é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, contando a história de Eunice Paiva e sua busca pelo marido, Rubens Paiva, que foi detido e assassinado pela Ditadura Militar. Para aqueles que se interessaram no livro, confiram alguns detalhes que são diferentes entre as duas obras.

Ainda Estou Aqui conta a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres

Ordem cronológica e perspectiva do narrador

O filme busca contar a história de forma cronológica e sob a perspectiva de Eunice Paiva. Já no livro, embora Eunice também seja o grande destaque, lemos tudo sob a perspectiva de Marcelo, que sempre intercala os acontecimentos principais com outros momentos da sua vida. Um exemplo é justamente como o livro começa, depois de alguns devaneios sobre a memória, a primeira cena relatada é a de Eunice tendo sua tutela transferida para Marcelo Rubens Paiva, devido ao Alzheimer.

O bilhete dentro da caixa de fósforos

Nas duas mídias, os soldados entraram na casa de Eunice, e ficaram vigiando enquanto Rubens era levado. No entanto, o filme não conta um detalhe interessante. Marcelo havia entrado em casa pela garagem, que não tinha sido verificada pelos militares. Dessa forma, Eunice pediu para que o filho saísse novamente, e entregasse um bilhete para a vizinha. Dentro de uma caixa de fósforos, estava a mensagem: “Rubens foi preso, ninguém pode vir aqui, senão é preso também”.

Rubens Paiva

O ex-deputado e engenheiro interpretado por Selton Mello tem uma participação impactante, mas curta no filme, justamente para trazer o tamanho da perda à tona. No livro, no entanto, sua vida é um pouco mais detalhada, mostrando que ele constantemente estava fora de casa, a trabalho, o que preocupava Eunice. A cena que mais marca isso é o noticiário sobre o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, enquanto eles assistem preocupados no filme, no livro, Rubens comenta que o embaixador devia estar fumando charutos naquele momento, em tom jocoso.

Destino das crianças enquanto os pais estavam presos

No filme, como acompanhamos a perspectiva de Eunice, temos a impressão que seus filhos ficaram em casa até o momento em que ela volta, depois de 12 dias detida. No entanto, após os amigos da família saberem o que estava acontecendo, levaram as crianças para diferentes lugares, para evitar que os militares os levassem também. Nalu foi para Petrópolis, enquanto Marcelo ficou em um sítio de Guingo Bocayuva.

Soldado que “não concordava”

No filme, é apresentado de forma rápida um soldado que, apesar de estar vigiando Eunice, trazia informações, como o fato de Eliana (sua filha) já ter sido solta. Quando Eunice foi liberada, o soldado comenta rapidamente “eu não concordo”. Já no livro, a interação dos dois é maior, porque ele constantemente pedia para Eunice comer, já que ela estava emagrecendo muito no período que ficou presa:

O mesmo soldado de antes, num dia, de surpresa, deixou um chocolate no beiral da cela. Não disse nada. Deixou e saiu às pressas. Este, ela comeu com gosto. Num outro dia, também de surpresa, ela acordou e lá estava ele, o soldado, encostado na cela. Parecia atordoado. Infeliz. Como se quisesse dizer algo. Como se fosse explodir. Assustado. Olhava indignado para a minha mãe. Então ele disse as únicas palavras que faziam algum sentido:
– Olha, queria que a senhora soubesse que eu não concordo. Só estou cumprindo ordens. Eu não concordo com isso. Isso vai acabar. Um dia, vai acabar. O que estão fazendo aqui não está certo. E quando acabar, e nos reencontrarmos um dia, em outras condições, espero que a senhora conte a todos que eu não concordava, que só cumpria ordens e que torcia pra isso acabar logo.
O desabafo trouxe um alívio instantâneo. Como se um raio de sol atingisse seu rosto, por uma fresta milagrosa da masmorra. O soldado fez um bem incrível a ela. Mostrou que o mundo não estava do avesso para sempre. Que o que ela vivia, sim, não fazia o menor sentido. Que existiam pessoas de dentro que não concordavam. Que nem toda a estrutura estava a serviço da loucura. Tinha humanidade naquele terror. Havia aliados da sanidade. E ela nunca mais se esqueceu dessa testemunha anônima do caos. Repetia para nós sempre a mesma história, em detalhes, com as mesmas palavras. Foi das poucas coisas que fez questão que sua memória registrasse naquele fim de janeiro de 1971. Do resto, se esqueceu de muito, ou não quis falar, ou não quis relembrar.

Feliz Ano Velho

Possivelmente a obra mais conhecida de Marcelo Rubens Paiva, e ela é citada nas duas mídias, mas de formas diferentes. Enquanto o filme mostra uma funcionária pedindo para o autor autografar em exemplar de “Feliz Ano Velho”, no livro há apenas uma pequena brincadeira, já que Marcelo descreve o ocorrido, mas não entra em detalhes, justamente por ter escrito antes: “No fim de 1979, sofri um acidente. Quando acordei na UTI, eu estava paralisado do pescoço para baixo. Ela (Eunice) ficou do meu lado. Mas aí é outro livro.”. Vale ressaltar que nas duas mídias é destacado que a mãe se incomodava com o uso de palavrões nas obras do filho.

Reação de Eunice Paiva ao ver Rubens pela TV

Esse é o momento “epílogo” do filme, mostrando Eunice pela face da icônica Fernanda Montenegro. Já com Alzheimer em estágio avançado, Eunice se comunicava pouco, e a cena na qual ela vê o marido pela TV é composta pelo completo silêncio. No livro é uma situação bem parecida, mas Eunice chega a comentar algumas coisas, mesmo com dificuldades:

“Enquanto eu papeava com a cuidadora, me desliguei, até ouvir minha mãe chamar nossa atenção:
– Olha, olha, olha!
Na TV, um noticiário sobre Rubens Paiva. Neste 2014, apareciam todos os dias notícias sobre o caso Rubens Paiva. Todos os dias, novidades. Ela sentadinha inerte na cadeira de rodas. Apareceram fotos dele de arquivo na tela. Era a foto do seu ex-marido, era o nome dele, falavam dele, desvendavam segredos sobre a morte dele:
– Olha, olha, olha!
Ela olhava. Com lágrimas. Ouviu a notícia. Começou a dizer baixinho:
– Tadinho, tadinho, tadinho…”

Ainda Estou Aqui

A frase que dá nome às duas obras também possui diferença. Enquanto ela não é citada no filme, no livro ela somente é apresentada quando a obra está se encerrando:

“Recentemente, uma nova fala cheia de significados entrou em seu repertório, especialmente quando um turbilhão de emoções a ataca, como rever uma filha que mora na Europa ou segurar no colo o meu filho, o que mostra uma felicidade e um alerta, caso alguém não tenha reparado: Eu ainda estou aqui. Ainda estou aqui. Sim você está aqui, ainda está aqui.”

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