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Emília Perez é prova viva de que o dinheiro não compra tudo

O grande queridinho do Oscar 2025, com 13 indicações, finalmente chega aos cinemas brasileiros. Emília Perez colecionou boas críticas ao longos dos últimos meses, alguns prêmios e 63 indicações em eventos diversos, mas não está sendo bem recebido na América Latina. O longa trata da história de um chefe de cartel que sonha em ser uma mulher e a advogada que o auxilia no processo de alcançar seus objetivos.

Analisando a produção primeiramente a partir de um ponto de vista técnico, é inegável o impacto do alto nível da equipe selecionada para o projeto. A direção de arte, em especial, se destaca muito e a caracterização das personagens é feita de maneira impecável. Tanto que, quando vemos Manitas e, posteriormente, Emília Perez, nos questionamos quem interpretou o chefe do cartel – surpresa: foi a própria Karla Sofía Gascón. O elenco traz emoção genuína e personagens muito vivas e marcantes. Ao longo de todo o filme, repetidamente me surpreendi com quão excepcionais são as atrizes selecionadas para dar vida a uma história tão delicada.

Então, por quê Emília Perez está sendo tão mal recebido?

Apesar dos pontos levantados anteriormente, devemos nos lembrar que cinema é arte e arte é política – especialmente quando o cinema decide abordar temas delicadíssimos. E, em se tratando de uma obra política, é impossível analisar somente o lado técnico. Quando um filme decide falar do tráfico em um país latino, de pessoas desaparecidas e da comunidade transgênero, é impossível pensar nele de forma tão leviana quanto pensamos em um filme de comédia na Sessão da Tarde. Dessa forma, se faz necessário analisarmos a obra como um todo, e inclusive pensarmos na forma como a ampla visibilidade que está recebendo comunica a realidade de países latinos.

Primeiramente, para um filme musical aclamado por sua trilha sonora original, a maior parte dos atos musicais é simplesmente sofrível, com mensagens pobres e desconexas do ritmo da trama. E, para além das polêmicas que envolvem o filme, ao assistirmos fica muito claro que Jacques Audiard não mentiu quando disse não ter estudado o México antes de produzir o longa. A falta de carinho e empatia para com as personagens e, principalmente, para com o povo retratado é muito clara. Uma das “lições” que a produção traz em sua história é justamente que o dinheiro não compra tudo, mas aparentemente a equipe não entendeu a mensagem que estava passando. Os problemas em relação a sotaques, representatividade e retratação cobrem com uma nuvem negra toda a beleza visual que o filme apresenta.

Para Jacques Audiard, faltou tato e sensibilidade

Além das questões anteriores, a falta de tato para com temas extremamente sensíveis é uma ofensa por si só. O desaparecimento de pessoas devido à violência do tráfico é uma grande dor do povo latino, mas foi tratada como um plano de fundo qualquer. Como se não bastasse, a redesignação de gênero da protagonista serve apenas como ferramenta ao roteiro. Assim, apesar de serem dois dos temas principais do longa, há pouquíssimo aprofundamento neles, que apenas aparecem sem receber a devida atenção.

E, por fim, é claro: as péssimas escolhas feitas em relação ao elenco. O longa por si só já carrega uma forte visão eurocêntrica de países latinos, mas a escolha do elenco principal torna isso ainda mais marcante. Dentre as quatro principais atrizes, somente uma é de fato mexicana – e é justamente a que possui menos tempo de tela. Sob a declaração do diretor de que não encontrou atrizes mexicanas para interpretar as três personagens principais, devemos relembrar que o elenco escolhido precisou da pós-produção para ajustar seus sotaques e sua voz nas músicas. Assim, se torna ridículo declarar que nenhuma mexicana seria capaz de dar vida às personagens, sendo que as atrizes estrangeiras também não o conseguiram.

É por esses motivos que, independentemente de quão bonita e interessante a produção seja, é impossível ignorar quão difícil de engolir ela é para os povos latinos. E, em comparação com o longa brasileiro Ainda Estou Aqui, é até frustrante que Emília Perez seja o maior indicado ao Oscar 2025. Nesses momentos, a importância de apoiar o cinema regional se mostra: é hora de tomar as rédeas da nossa narrativa. Já não é aceitável permitir que empurrem goela abaixo do mundo inteiro uma visão totalmente distorcida de como é viver em um país latino.

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