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F1: um espetáculo visual raso

Dias de Trovão (1990), Alta Velocidade (2001), Gran Turismo (2023)… Filmes sobre automobilismo não são novidade, e de tempos em tempos alguma produtora revisita o gênero, mas quase sempre vemos a mesma narrativa central: o piloto “bad boy” e extremamente talentoso que usa de métodos pouco ortodoxos para mostrar tudo o que sabe, e após certa rivalidade com outro piloto, aprende o verdadeiro valor do espírito de equipe. Tememos dizer que em F1, filme dirigido por Joseph Kosinski (Top Gun: Maverick) e produzido pela Apple Original Films e Warner Bros Pictures, há uma certa repetição dessa narrativa – mas também tem coisas boas.

F1: Uma super produção muito aguardada

F1 causou grande expectativa nos últimos dois anos por conta de sua premissa: aproveitar as etapas do calendário da Fórmula 1 para fazer filmagens, tomadas e até mesmo interações entre os atores e os pilotos e membros das equipes da maior categoria de automobilismo do mundo. Outro ponto que favoreceu a ansiedade do público estava no fato do filme ser dirigido por Joseph Kosinski, amplamente elogiado pelas tomadas de ação em Top Gun: Maverick (2022) – e podemos garantir: a mesma ótica do diretor está em F1 também.

Levando em consideração esses dois fatores, podemos dizer que F1 foi bem sucedido: a imersão no mundo da Fórmula 1 e as disputas eletrizantes a mais de 300 km/h são os pontos fortes da produção, inclusive com uma qualidade gráfica impecável, que realmente faz parecer que os carros da Apex GP estavam disputando curva a curva com os pilotos. Entretanto, em outros aspectos, F1 derrapa (com o perdão do trocadilho) e acaba entregando uma história genérica, apesar do espetáculo visual.

Era uma vez…

F1 narra a história de Sonny Hayes (Brad Pitt), um ex-piloto estadunidense (óbvio) de Fórmula 1 que era uma grande promessa, mas um acidente grave o tirou das pistas por uma década. Sem conseguir ficar longe da velocidade, Hayes começa a buscar oportunidades de correr nas mais variadas categorias, mas jamais criando laços fortes. Já na casa dos 50 anos e após fazer parte de uma equipe que venceu a famosa corrida de 24 Horas de Daytona, Hayes é abordado pelo seu antigo companheiro de equipe da Fórmula 1, Ruben Cervantes (Javier Bardem), que o chama para fazer parte do time do qual ele é dono, a Apex GP – a última colocada do campeonato de construtores. Tudo o que Ruben precisa para prevenir a escuderia de ser vendida a preço de banana para outros investidores é de “apenas” uma vitória nas próximas nove etapas do campeonato de Fórmula 1, e conta com um outro jovem prodígio: o britânico Joshua Pearce (Damson Idris).

A partir dessa premissa, somos apresentados ao caminho já esperado: o time é desunido e inseguro, Sonny e Joshua criam uma rivalidade quase imediata, e o início da empreitada é cheia de percalços. O final, entretando, você já deve imaginar qual é, mas não vamos dar detalhes. Em vez disso, falemos sobre o que importa: vale a pena assistir?

Suspensão de descrença

Talvez o maior pecado de F1 não seja a narrativa batida, mas ter se proposto a ser tão real e imersivo – a ponto de ir para as pistas e fazer parte do circo da Fórmula 1 para tal – e acabar falhando no que talvez seja o mais importante para os verdadeiros fãs do esporte a motor: a fidelidade. Comecemos com o fato do acidente de Hayes ter acontecido em 1993, durante uma disputa pela liderança em sua Lotus amarela (patrocinada pela companhia de cigarros Camel) contra o lendário Ayrton Senna. O grande problema é que a Lotus deixou de ter o patrocínio da Camel em 1991, e Senna já não tinha um carro competitivo naquela temporada (tanto que fez de tudo para assinar com a Williams no ano seguinte). Já nas cenas durante as 24 Horas de Daytona e em algumas tomadas das corridas pela Apex GP, as ultrapassagens impossíveis e diferenças absurdas de traçado e desempenho entre a pilotagem de Hayes e do restante do pelotão é capaz de tirar até mesmo o espectador mais leigo da imersão proposta – isso sem falar na cena de um certo acidente que parece ignorar todas as leis da física. Por fim, as táticas imorais utilizadas pelo personagem de Brad Pitt em vários momentos seriam severamente repreendidas por uma categoria séria como a Fórmula 1, mas no filme acaba se tornando até cômico.

Claro, esses pontos podem ser encarados como “achar pelo em ovo” para algumas pessoas, mas levando em consideração que a produção se propôs a trazer uma fidelidade quase total a ponto de se colocar em meio aos pilotos e carros da categoria, era esperado que levassem tais questões mais a sério.

Ainda assim, F1 é lindo

Ok, a história é rasa, as pataquadas tiram a pessoa expectadora da imersão e o filme é longo demais (2h36) para o que se propõe, mas não dá para negar: ao ignorar todos os problemas, é uma produção linda no quesito de imagens e som – definitivamente um filme para se ver nos cinemas, de preferência num IMAX. A sequência da última corrida da temporada, embalada pelo trabalho do fantástico Hans Zimmer, é capaz de nos fazer esquecer dos momentos cringe que ocorreram nos atos 1 e 2 do filme.

Quanto às atuações, Brad Pitt faz mais um papel… bem… de Brad Pitt. Todos os trejeitos, olhares sedutores e atitude de “bad boy” estão lá. Damson Idris dá a Joshua Pearce uma personalidade que é difícil de conseguirmos definir se queremos torcer por ele ou dar uns tapas para ver se o piloto toma jeito – e aqui fica difícil dizer se a questão é por conta do ator ou do roteiro que lhe foi entregue (provavelmente a segunda opção). Javier Bardem faz seu carisma falar alto e a melhor surpresa vem na atuação de Kerry Condon, que faz Kate, a diretora técnica da Apex GP. Apesar de cair no clichê de se tornar par romântico do mocinho, Kate apresenta várias outras facetas interessantes, além de exibir (pouco, é verdade) a dificuldade de ser uma mulher em meio a um esporte historicamente machista. Um filme nesses moldes, mas pela ótica de uma personagem como Kate poderia ser bem mais interessante do que a batida história do questionado piloto que encontra a sua redenção.

Conclusão

A proposta de F1 é quase totalmente entregue: uma produção que simula as corridas e o dia-a-dia da categoria de automobilismo mais famosa do mundo. Os deslizes ocorrem no momento onde forçam uma dinâmica que coloca a verossimilhança em xeque – o mesmo erro dos filmes citados no início dessa crítica. Mas sabe um filme de automobilismo que não está nessa lista? Rush – no Limite da Emoção (2013). E talvez aqui tenhamos o exemplo de onde F1 errou: Rush se baseia em uma história real que beira à incredulidade, mas não a ultrapassa – e se uma história real pôde fazer isso, por que não seria possível fazer o mesmo com um roteiro inventado?

Ainda assim, o filme se destaca dos demais concorrentes pelo esmero e qualidade na direção e pós-produção, provando que, ao menos no quesito de nos colocar dentro do circo da Fórmula 1, o filme cumpre seu papel. A pergunta que fica é: o que a próxima produção sobre automobilismo precisa fazer para trazer os expectadores o mais próximo possível do guard rail? Afinal, F1 parece ter chegado ao ápice – pena que escorregou no básico, que é contar uma história envolvente.

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