Eu que sou miserável além de todas as coisas vivas!
Nas sombras enevoadas da noite, Guillermo del Toro, o alquimista das telas, conjura uma nova encarnação do mito. “Frankenstein”, o nome que ecoa através dos séculos como um lamento soturno, ressurge em sua forma mais sinistra e sublime.
Num mundo onde o tempo se desfaz como as páginas amareladas de um livro proibido, o Dr. Victor, com olhos enlouquecidos, rastreia o monstro de Frankenstein. Todavia, o fogo que deveria tê-lo consumido há quarenta anos não o silenciou. É então que Mia Goth, a cientista de cabelos desgrenhados, junta-se a essa busca insana.
Enquanto as paredes do laboratório rangem sob o peso do passado, a luz da lua penetra pelas janelas quebradas, dançando com as partículas de poeira. Ao mesmo tempo, a trilha sonora, um lamento de Alexandre Desplat e Gary Ungar, ecoa pelos corredores úmidos. Assim, o ar está impregnado de segredos inomináveis e imundo com o cheiro de restos mortais.
O Deus de Frankenstein
Jacob Elordi, com olhos vazios e cicatrizes profundas, personifica o monstro. Sua carne costurada, uma colcha de retalhos de carne humana, estremece sob a luz trêmula das velas. Ele não é apenas uma aberração; é a personificação da nossa própria solidão e desespero para Guillermo, que é o Deus dos monstros.
O maldito Del Toro, como um necromante literário, respeita os rituais antigos. Ele evoca os temas que Mary Shelley gravou em nossos corações: a busca pelo saber vedado, a soberba do criador e a tragédia da solidão e do preconceito. A criatura, com olhos injetados de sangue, estende suas mãos mórbidas, clamando por compreensão.
Frankenstein de Guillermo del Toro é um relicário de pesadelos. As sombras entrelaçam-se, os gemidos ecoam, e nos lembramos de que a linha entre o humano e o monstruoso é tênue.
“Todos os homens odeiam os desgraçados; como devo ser odiado, eu que sou miserável além de todas as coisas vivas! Ainda assim, tu, meu criador, detestas e rejeitas a mim, tua criatura a quem estás preso por amarras que apenas a aniquilação de um de nós pode dissolver.”
Aguardemos, pois, a estreia dessa obra maldita, quando o véu entre os mundos se rasgará e nos perderemos nas profundezas do desconhecido.
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