Hora do Massacre (Wake Up) é um filme de terror e suspense que não se propõe a muitas proezas, mas cumbre muito bem o que promete. Dirigido pelo trio canadense François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, que também dirigiu Verão 84 (2019, o longa chega a ser divertido para aqueles que estão acostumados com brutamontes monstruosos cheios de armadilhas em hack n’ slash à lá Diablo. Com diversas referências e piadas com relação a inúmeros estereótipos da atualidade, Hora do Massacre ganha um espacinho no coração dos fãs.
Mesmo com a “licença poética” para o gore, mutilação e diversas outras atrocidades cometidas em filmes de slashers como Jason, Hora do Massacre aposta também em piadas bem conectadas (algumas nem tanto) e personagens mais inteligentes que o comum. Ao invés de protagonistas rasos com ideias burras e tomadas de decisão ainda piores, o filme traz um grupo de jovens com motivações clichê, mas que pensam com menos impulsividade (atente-se que não quer dizer mais inteligência) que o que estamos acostumados a ver. Além disso, o personagem principal, Kevin (Turlough Convery), tem uma motivação e passado muito mais interessantes do que o comumente proposto e bem melhor desenvolvido que o que vemos nos próprios jovens. Um homem perturbado e menosprezado por todos ao seu redor tenta desesperadamente entender os processos da vida em sociedade. Contudo, tudo muda ao perceber a invasão de jovens arruaceiros que ameaçam o emprego de seu amado (e babaca) irmão Jack (Aidan O’Hare).
Sem demérito aos jovens (que tiveram pouquíssimo ou nenhum desenvolvimento), o brilho do filme fica todo para Turlough Convery em sua atuação. A forma com que dá vida a Kevin é perturbante, destacando-se na maré mediana do restante do elenco. Além de ser um slasher que conta muito mais com a inventividade do que com poder bruto, a abordagem das lutas internas do personagem move o filme. Como já mencionado anteriormente, a inventividade é algo que arranca sorrisos nos fãs de filmes “mentirosos” de antigamente, já que Kevin age no melhor estilo Rambo, preparando cautelosamente e estando sempre 3 ou 4 passos adiante do resto da gangue.
Hora do Massacre não necessariamente conta com um plot que valha a pena menção ou explicação, já que, na verdade, é apenas um caminho para chegar à parte que todos querem ver: a perseguição implacável. Em contrapartida, vale muito a pena se esforçar para pegar todas as referências no filme, como piadas com a Ikea (famosa loja de departamentos), a plataforma de conversas online Discord e outros. Além disso, temas como o preconceito como a famosa frase “por que você não age como um cara normal, sei lá, vai arranjar uma mulher”, são abordados de maneira sucinta ao contrapor o sujeito “normal”, como um homem sem estrutura emocional, alcoólatra e que julga os gostos alheios por não serem como o dele. Com isso, sabemos que o filme não é a maior obra prima que o público terá à disposição neste ano, mas que com certeza vale a pena para causar desconforto com gore de qualidade, piadas, críticas e referências que arrancam sorrizos!
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