O Agente Secreto é o novo filme de Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau, Aquarius, e diversas outras obras premiadas e aclamadas. No longa, acompanhamos Marcelo em sua fuga de um passado violento e misterioso. Sua história se desenrola aos poucos, mostrando ao expectador que nem tudo é o que parece. Protagonizado por Wagner Moura e com a presença de Gabriel Leone, Tânia Maria e outros artistas fenomenais no elenco, o filme é o representante brasileiro ao Oscar 2026.
O Agente Secreto começa de forma um pouco distante, apresentando informações aos poucos. Diferentemente da narrativa que costumamos ver em filmes, aqui o enredo não se explica logo de cara. A história se explica conforme ela acontece, e talvez a forma como a todo momento pequenas novas informações surgem e vamos encaixando as peças para compreender o que está acontecendo seja o que faz as quase três horas de filme passarem voando. Produções com tamanha extensão costumam ter pedaços maçantes, mesmo que importantes para a narrativa, mas isso não acontece aqui – e é incrível.
Um dos grandes destaques do longa é, definitivamente, o seu elenco. Em coletiva de imprensa, Kleber Mendonça Filho revelou que trabalhou por cerca de dois anos no roteiro e que, ao escrever, ainda não há atores definidos para cada papel, algo comum no cinema. Entretanto, o diretor também disse que já pensava em Wagner Moura e que, ao escrever Sebastiana, não conseguia deixar de pensar em Tânia Maria. A atriz e o diretor já haviam trabalhado juntos em Bacurau, onde Tânia se destacou, mesmo com um papel pequeno. Wagner, por sua vez, já é uma das maiores estrelas brasileiras do cinema, sendo reconhecido internacionalmente, e sua performance em O Agente Secreto certamente traz o seu melhor como ator.

O Agente Secreto aborda temáticas importantes com naturalidade
É difícil falar sobre o enredo do filme sem entregar pontos importantes da narrativa. Isso se deve principalmente porque a magia do filme está em desvendá-lo enquanto assiste. Por outro lado, é impossível não citar a forma como Kleber Mendonça Filho traz assuntos importantes e delicados, de forma extremamente natural. A narrativa nos fala sobre o apagamento de histórias e pessoas, e sobre a importância de não esquecermos. E é isso que torna tão genial a forma como recebemos as informações: nós somos esse futuro que continua vivendo independentemente do passado. O ritmo da narrativa é como uma fofoca bem contada, onde vamos descobrindo conexões e pontos de virada aos poucos.
No meio disso tudo, ainda sobra espaço para mostrar como as pessoas vivem, apesar de qualquer coisa. Quando falamos de ditadura, tudo que pensamos são os horrores causados por ela. E Kleber não exclui isso da narrativa em momento algum, mas mostra também uma outra perspectiva. Apesar dos horrores, as pessoas continuavam vivendo. Pessoas comuns, fugitivos políticos, refugiados e malfeitores: todas as vidas continuam, apesar de tudo. As pessoas se adaptam, incorporam a nova realidade às suas rotinas, e seguem vivendo. Nas rodas de conversa, os horrores viram piada. E isso exprime brasilidade de uma forma tão sensível. Ver pessoas rindo de algo absurdo, enquanto seu olhar carrega o peso de uma tristeza inconsolável, é tudo que somos e mostra a dor e a alegria da nossa história.

Kleber ainda se utiliza de marcos culturais para fazer críticas políticas com leveza, pirraça e um humor ácido. Um excelente exemplo é o paralelo entre a Perna Cabeluda, uma figura icônica do imaginário pernambucano, e uma perna misteriosa que surge na boca de um tubarão. A associação disso tudo com o filme Tubarão, de 1975, e diversas outras menções do animal, conectam cada peça do quebra-cabeça. Mais que isso, nos leva além da narrativa central: além da história de Marcelo, O Agente Secreto nos apresenta um universo vivo, que não existe apenas com o pretexto de contar algo.
O poder da arte e a recepção do filme
Que a narrativa é um dos pontos altos da produção, certamente já ficou claro. Porém, toda a magia por trás desse enredo e da forma impecável como ele foi organizado na pós-produção exige uma direção de arte impecável. E O Agente Secreto tem exatamente isso. Assistir esse filme é como uma viagem no tempo. Desde o primeiro figurino, até cada objeto cenográfico e cada carro colorido, a direção de arte trabalha de forma incansável para sustentar o roteiro de Kleber Mendonça Filho. Tudo que citei anteriormente: a dor, o viver apesar disso, a alegria irremediável do brasileiro; está tudo lá, não só através da história e do elenco. A arte do filme é tão poderosa, que ela não deixa imersos não só na história, mas também nesses sentimentos e nessa época que já não pertence à memória da maioria de nós.

Com todas essas qualidades, O Agente Secreto vem chamando muita atenção por onde passa. O longa já é o representante brasileiro para o Oscar 2026, e promete dar as caras na premiação. Em coletiva de imprensa, Kleber explicou que obviamente, ao criar uma obra como essa, o pensamento não está nas premiações que ela pode receber. Porém, as expectativas se tornam cada vez maiores conforme vemos a excelente recepção para a produção e a série de indicações e premiações que ela vêm acumulando. Dessa forma, apesar de termos forte concorrência para essa edição, se espera ao menos uma indicação na maior premiação da indústria cinematográfica.
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