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O Macaco

“O Macaco”: Absurdos contados em tom de piada não se tornam mais palatáveis

O Macaco, novo filme de Osgood Perkins, diretor de Longlegs, estreou nesta quinta nos cinemas

O mecanismo de Rube Goldberg é um experimento em que uma engenhoca intrincada, cheia de pequenos passos, realiza uma função simples das formas mais complexas imaginadas, gerando uma reação em cadeia. Por exemplo, para acender uma lâmpada, você empurra uma bolinha de metal que está em uma rampa inclinada que, ao rolar para baixo, atinge uma sequência de peças de dominó que caem até a última, acionando uma pequena alavanca que libera um estilingue… e assim sucessivamente. É uma ideia com a qual muitos de nós estamos familiarizados e que pode ser vista em todo canto em filmes, séries, programas de televisão – como, por exemplo, na abertura do clássico Rá-Tim-Bum.

Em O Macaco, o diretor Osgood Perkins parece utilizar o princípio da máquina supracitada como base para sua narrativa e as mortes decorrentes da presença da criatura-título. O resultado visto em tela, entretanto, faz jus à impressão que uma invenção como essa pode deixar em alguns de nós: o desejo de que o problema fosse resolvido de forma menos copiosa e o posterior questionamento de qual foi o propósito nisso tudo.

Talvez pensar assim seja acabar um pouco com a diversão proposta pelo filme ao retratar a tragédia geracional da família Shelburn como uma comédia de absurdos: o brinquedo vai parar nas mãos dos gêmeos Hal e Bill após vasculharem o armário do pai que os abandonou, e logo descobrem que seu uso tem consequências drásticas. Pessoas próximas a eles morrerão das formas mais gráficas imagináveis. Uma delas, a título de demonstração, é decapitada por um sushiman.

Vinte e cinco anos após os eventos traumáticos vividos pelos irmãos, a vida de ambos se encontra em estado de suspensão, e entre eles, impera um rancor mal resolvido.

Em essência, iremos acompanhar, daí em diante, dois homens, espelhos um do outro – não à toa a escolha de criar irmãos gêmeos ao adaptar o conto original de Stephen King – e que nunca cresceram, enfrentando os traumas vinculados ao sentimento do quanto a morte pode ser absurda e alheia aos próprios termos.

E é aí onde o filme começa a deslizar. O arco inicial da infância de Hal e Bill tem bom ritmo, as piadas funcionam, é bem atuado – destaco aqui Christian Convery (interpretando ambos os irmãos Shelburn) e Tatiana Maslany (sempre maravilhosa) – mas quando a narrativa passa a ser liderada por Theo James nos papéis principais, se estabelece um limbo onde o humor não é tão convincente e o drama e o horror são inócuos.

Restam alguns bons momentos esparsos ao longo da projeção: boas sequências de morte (a da piscina no hotel de beira de estrada); ou as sacadinhas da direção de Perkins que tornam a presença do Macaco – para todos os efeitos, um simples brinquedo de corda – em algo realmente enervante, com seus olhos pétreos e sorriso mecânico filmados em ângulos e disposições de luz diferentes, editados sob uma mão firme de terror comprometido com o medo que quer evocar. Esse ainda é o cara que dirigiu o bom Longlegs (2024), afinal.

Mas, no fim, a frequente confusão tonal – afinal, não há um compromisso tácito com a comédia escrachada, ou, quando há, o elenco e o roteiro simplesmente não sustentam – macula irreversivelmente um filme cheio de potencial.

Várias peças foram dispostas na máquina de Rube Goldberg de O Macaco, mas alguma coisa no mecanismo insistia em falhar. Fica a sensação de que era só ter apertado o interruptor e acendido a bendita lâmpada de uma vez.

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