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Pobres criaturas: A espetacularização da ignorância e os horrores da sabedoria

Das páginas dos livros de Alasdair Grey para as grandes telonas, “Pobres Criaturas” conta a história de Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher que é trazida de volta à vida por um experimento do Doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe). Ela tem o desejo de conhecer o mundo, mas quando é barrada pelo cientista e seu ajudante (Ramy Youssef), decide fugir com um advogado (Mark Ruffalo) para viajar mundo afora. Das onze indicações ao Oscar, quatro são de principais categorias: Melhor Filme, Melhor Atriz, com a indicação de Emma Stone, Melhor Ator Coadjuvante, com Mark Ruffalo e Willem Dafoe, e Melhor Direção, de Yorgos Lanthimos.

Pobres Criaturas traz de volta aos cinemas grandes atores que, mais uma vez, surpreendem o público com a força, intensidade e veracidade de suas atuações impecáveis. No papel da protagonista Bella Baxter, a renomada ganhadora do Oscar Emma Stone dá vida a mais um personagem intenso, cômico e complexo, entregando tudo que prometeu e muito mais. Com um corpo forte de coadjuvantes, o longa traz Mark Ruffalo como o advogado Duncan e Willem Dafoe sendo Godwin. Também se juntam ao elenco Ramy Youssef(Hulu Ramy), interpretando Max, Margaret Qualley (Era uma vez em Hollywood), como Felicity e Christopher Abbott (Santuário), dando vida à Alfie. Yorgos Lanthimos, diretor de “A favorita” e quatro vezes indicado ao Oscar, foi responsável pela direção.

A proposta do filme é um tanto bizarra, que gera uma estranheza inicial por ser um cérebro de uma criança num corpo adulto, porém ao entender que essa situação serve como uma grande metáfora para o amadurecimento, empoderamento feminino e uma crítica às convenções sociais, percebe-se que a trama é bem mais profunda do que aparenta ser. O roteiro é bem original e bastante inovador por falar de temas tão presentes e complexos de uma forma tão criativa.

O filme mostra toda a jornada da emancipação de Bella, desde a sua luta por liberdade até quando finalmente a consegue. No começo, a personagem manifesta um grande desejo de querer conhecer o mundo, mas sempre tinha alguém que a segurava pelas “rédeas”: Doutor Godwin, Max, e Duncan. A trama fortemente aborda de diversas formas a questão da emancipação feminina. No caso dessa situação, há uma forte crítica à repressão e a falta de incentivo à liberdade feminina. Os homens da história tentam proibir e reprimir os desejos de Bella, em prol de interesses próprios. Para Godwin, era por ser unicamente um experimento, pelo menos inicialmente. Já para Max e Duncan, o amor. Apesar de Max ter sido mais compreensivo que Duncan, inicialmente ainda há uma tentativa de impedir Bella. Ambos gostam muito dela, no entanto nunca perguntavam o que ela queria.

Um ponto negativo no desenvolvimento da emancipação foi a forma como a prostituição é expressa no filme. Bella começa a se prostituir para ganhar dinheiro e assim, ter sua liberdade. A proposta de reforçar a valorização do corpo feminino e quebrar as convenções sociais sobre a nudez é bem interessante. Choca quem assiste por ser algo fora dos padrões sociais. Porém, a prostituição foi um pouco romantizada, já que não mostra as dificuldades e consequências que a personagem certamente enfrentaria. E essa situação gera um questionamento, de até onde ela é livre totalmente, porque por um lado ela ganha dinheiro e é livre, mas por outro lado, seu corpo fica temporariamente em posse de outros e vários homens.

Emma Stone foi, de longe, impecável. Bella Baxter é uma personagem muito complexa porque passa por várias transformações intensas e bruscas ao longo da trama. Num momento é bem inocente e boba, em outro é uma mulher séria e empoderada. A atriz consegue representar bem todas as fases dessa mudança e é capaz de causar várias reações no público, das gargalhadas nas cenas cômicas à angústia nas cenas tensas.

Os elementos e recursos visuais ajudaram a incrementar e fortalecer o desenvolvimento da transição da inocência até o amadurecimento de Bella. O filme começa em preto e branco e possui um cenário que lembra o filme Frankenstein. A ideia que passa é que ela não era nada mais que um simples experimento para Godwin e que, a escolha de um cenário mais grotesco e cores neutras, representa a sensação de se sentir presa e ser tudo o que conhece.

O uso de cores vívidas e bem chamativas, além dos elementos surrealistas, mostra a felicidade da personagem em conhecer o mundo, mas por ser muito inocente, tudo é incrível e perfeito. Por fim, da metade da história para o final a imagem ainda é colorida, mas não são cores tão fortes e não conta mais com tantos elementos bizarros, o que indica o amadurecimento de Bella. Durante a história, ela enfrenta situações que mostram a verdadeira face cruel do mundo, como por exemplo, o momento em que descobre a pobreza. Essa trajetória percorrida mostra como a sabedoria pode ser boa, mas também uma maldição.

É nítido também que, em alguns momentos, houve dois jogos de câmera: um passa a impressão de ser uma visão em primeira pessoa e o outro é como se estivesse “espiando” a cena por um olho mágico. Isso foi propositalmente feito para o espectador se sentir ao mesmo tempo dentro da trama, porém incomodado por estar lá. A sensação que passa é de estar invadindo um momento privado. Dá vontade de querer sair dali por serem situações inusitadas e muitas vezes desconfortáveis.

Pobres Criaturas é um filme que provoca uma reflexão sobre a nossa sociedade e as convenções sociais impostas. A inocência de Bella ao dançar loucamente pelo salão faz pensar sobre se algumas regras da sociedade realmente são necessárias e nos fazem evoluir, ou se simplesmente nos forçam a criarmos máscaras e fingirmos algo que não somos, somente para sermos aceitos. Se todos fossem como Bella, o mundo com certeza seria mais colorido e alegre.

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