Para começar, Ulisses chega ao Cine Brasília como um dos projetos mais ousados de Cristiano Burlan. O diretor, conhecido por seu cinema intenso, une aqui o clássico e o contemporâneo. E faz isso com uma proposta experimental que abraça o caos, a poesia e os silêncios da cidade. Assim, o longa inaugura uma trilogia ambiciosa que ainda inclui Nosferatu e Dom Quixote.

Uma jornada fragmentada em uma São Paulo labiríntica
Logo de início, o filme apresenta Rodrigo Sanches como um Ulisses urbano, perdido entre memórias apagadas. A história se constrói como um mosaico de lembranças, afetos e ruínas. Por isso, cada rua que ele cruza vira uma pista. E cada rosto que encontra, um fantasma. Dessa forma, São Paulo assume o papel de ilha, de deserto e de labirinto ao mesmo tempo.
Uma cidade que reflete a mente do herói
Além disso, a fotografia em preto e branco de Helder Martins transforma a metrópole em estado emocional. Viadutos, muros e praças degradadas ganham um peso simbólico. Assim, a cidade vira espelho da confusão interna de Ulisses. Os fluxos interrompidos revelam angústias. As zonas de passagem se tornam cicatrizes.
Um filme que abraça o experimental
Como consequência dessa abordagem, Burlan mergulha fundo na linguagem cinematográfica. Vozes surgem sem aviso. Presenças aparecem e desaparecem. Ausências ganham forma. Tudo compõe um fluxo que desafia o público. Dessa maneira, o espectador entra na mente turbulenta do personagem, sentindo o impacto de cada fragmento.
Penélope como múltiplas presenças
Enquanto isso, Penélope surge em versões diferentes, interpretada por várias atrizes. Essa escolha reforça o caráter fragmentado da narrativa. Ela é memória, desejo e dor. E, sobretudo, é o símbolo de algo que Ulisses tenta alcançar, mas nunca segura por completo.
Cristiano Burlan e sua nova trilogia mitológica
Além do impacto visual, o filme marca o início de uma trilogia provocadora. Burlan revisita três figuras míticas — Ulisses, Nosferatu e Dom Quixote — para investigar como o passado ainda vive no presente. Assim, ele conecta mitos ancestrais a uma sociedade urbana, desigual e cheia de ruídos.
Um elenco que expande a experiência
Por fim, o elenco amplia o universo emocional do filme. Rodrigo Sanches entrega intensidade. Jean-Claude Bernardet traz presença marcante em uma participação simbólica. E atrizes como Ana Carolina Marinho constroem uma Penélope plural. Juntos, eles criam uma experiência sensorial que atravessa cinema, memória e poesia.
Uma experiência para quem ama cinema autoral
Em resumo, Ulisses é mais que uma adaptação. É um mergulho no inconsciente de uma cidade. É um diálogo entre arte e caos. E é, acima de tudo, um convite para olhar o mito com novos olhos. Assim, quem gosta de filmes ousados e cheios de camadas encontra aqui uma jornada intensa, sensível e profundamente atual.