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Um lugar silencioso – Reflexos cotidianos que marcam o filme

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E se, em uma sociedade movida a informação e constante estímulos auditivos e visuais, tudo mudasse de repente, sob a ameaça de uma espécie desconhecida, sensível ao mais leve barulho? Sobreviveríamos a tamanha repressão de sons, tornando aqueles que se comunicam por linguagem de sinais facilitadores de sua sobrevivência? Viveríamos bem em frente a constante ameaça de espirrar, rir, chorar, gritar, sob pena de enfrentar uma morte dolorida e sangrenta? Com os pés no chão e respiração presa, adentre tamanha aventura em um mundo silencioso, tomado pelo medo de se estar vivo.

Após a invasão da Terra por seres letais com extrema capacidade auditiva, observamos uma família em busca da sua própria sobrevivência, encarando um cenário que aparenta estar constantemente em aflição, apreensivos a qualquer som. O ecoar das ações adquire forma, quando se torna possível entender o motivo de tudo aquilo. Uma sessão de fandangos ainda intacta é prova viva do quanto tal sociedade já havia se moldado as circunstâncias aterrorizantes, apegados a hábitos que traziam para suas casas um lar seguro.

Numa produção da Sunday Night Productions, Platinum Dunes e dirigida por John KrasinskiUm lugar silencioso (2018) é o primeiro filme do que até os dias atuais se resume em dois longas, trazendo a perspectiva de um mundo pós apocalíptico, onde qualquer som adquire caráter maligno mediante seres inexplicavelmente letais, espalhados pelo que parece ser todo o cenário mundial. Acompanhando a história da família Abbott, retrata a dificuldade cotidiana de viver sob um constante vazio, ouvindo somente o farfalhar das folhas e a respiração tensa dos personagens. Pequenas abordagens sutis demonstram de maneira rotineira como a adaptação parece a forma mais sensata de se sobreviver, fazendo com que demonizássemos assessórios como sapatos, celulares com sons e pratos.

De fato, entender o filme em sua abordagem de caráter inclusivo e filosófico mostra como a importância de saber linguagem de sinais torna a comunicação viável em um mundo onde palavras significam morte. Trazer para si a bandeira da inclusão de forma tão natural é crucial ao enredo, como este aborda com Regan Abbott (Millicent Simmons), personagem com problema auditivo, por utilizar atores que realmente possuem essa deficiência e mostra comose portam dentro de uma realidade em que nada ouvem. Esse silêncio constante trás o entendimento de como seria viver um dia na pele de um deficiente auditivo, tornando a necessidade de aprendizado de uma linguagem acessível caso de vida ou morte, atribuindo drama ao que parece um simples acaso do social na contemporaneidade. 

Estaria nossa sociedade preparada para tal invasão? Onde palavras e frases ditam as leis sociais e morais, refletidas na linguagem que se é falada? Poderíamos viver sob a adversidade de parir uma criança, sem qualquer auxílio, segurando até o último minuto qualquer som de angústia? Onde estariam as músicas, que dançamos sob a premissa de felicidade genuína? Em Um lugar silencioso, foram engolidas pela arte de se estar vivo, mesmo que para isso seja necessário morrer emocionalmente.

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Helena Mota

Helena Mota

Redatora, Cientista Social em formação, Jornalista em construção, poetisa e escritora nas horas vagas. Amante da cultura clássica, filmes cult e o conhecimento como forma de edificação.

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