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Uma Família Feliz: A verdadeira potência do cinema brasileiro

Até onde a mente humana aguenta as mentiras moldadas sobre nosso caráter? Com uma leve(mas não tão leve assim, pois afinal, é Raphael Montes né?) crítica à superexposição  e uma pegada macabra, o thriller de suspense conta a história de Eva(Grazi Massafera), uma mulher que, ao dar a luz ao terceiro filho, entra em depressão pós-parto. Situações bizarras começam a acontecer na família e a mãe vira a principal suspeita. Questionada e perseguida por todos, até pelo próprio marido(Reynaldo Gianecchini), Eva tenta provar a todo custo que é inocente.

O filme é baseado no livro “Uma família feliz”, de Raphael Montes. Ganhador do Prêmio Jabuti em 2020, ele é um escritor e roteirista de literatura policial e suspense, que faz bastante sucesso com o público juvenil e a crítica. A obra literária foi lançada apenas um mês antes da estreia do longa. O livro pode ser encontrado e adquirido pela Amazon.

Grazi Massafera( Verdades Secretas) e Reynaldo Gianecchini( Bom dia, Verônica) dão vida aos protagonistas Eva e Vicente, respectivamente. Também compõe o elenco, Luiza Antunes e Juliana Bim, no papel das gêmeas Sarah e Clara. O filme foi dirigido por José Belmonte, renomado e premiado diretor e roteirista brasileiro.

Uma Família Feliz” estreia na competição oficial no Festival de Cinema de  Gramado

Com uma trama envolvente, “Uma Família Feliz” consegue te prender do início ao fim com momentos de tensão muito bem construídos e de tirarem o fôlego. A história em si foi muito boa. Os diálogos foram muito bem elaborados e fluem naturalmente. Eles conseguiram dar a dramaticidade e o choque necessário à trama. O longa coloca o espectador numa experiência imersiva, o levando junto com a protagonista Eva nessa busca pelo verdadeiro autor dos crimes. Foi muito interessante a escolha de focar mais na transformação de Eva, diante as acusações e o processo depressivo pós-parto, do que se preocupar em achar o responsável por aquilo tudo. 

Também foi muito bacana que até o final do filme, onde tem a grande revelação, fica a dúvida se foi Eva ou não que cometeu todos aqueles delitos. Então, além do filme colocar o espectador numa posição de “parceiro” da protagonista na busca pela verdade, quem assiste não sabe se, afinal, ela realmente cometeu os crimes ou não, até o momento que é revelado o autor dos delitos. O plot foi criativo e original, ele consegue surpreender porque é algo que o público não esperaria. Apesar de existirem filmes de thriller/suspense que já se utilizaram desse recurso, a forma como “Uma Família Feliz” foi contada não leva o espectador a crer ou imaginar que o personagem escolhido seria o responsável por todos aqueles crimes.

Crítica | Uma Família Feliz (2023) - Plano Crítico

Grazi Massafera deu um show. A atriz expressou muito bem a depressão pós-parto de Eva. Ela conseguiu articular essa transição de uma mãe e esposa feliz, para uma mulher depressiva e insatisfeita com a vida. Foi interessante a abordagem que Raphael Montes fez a respeito dessa questão, dela ser uma pessoa que supostamente teria tudo: dinheiro, um marido bonito e duas filhas que a amam, mas que mesmo assim está triste, e como que por isso as pessoas não entendem o porquê dela estar mal. A Grazi também conseguiu demonstrar muito bem a transformação brutal da protagonista diante das acusações e dos julgamentos. Eva fica transtornada e obsessiva, e até comete loucuras. A artista conseguiu convencer o espectador em todas as fases da personagem: de uma mãe feliz e normal, a uma mulher surtada e obcecada com as falsas acusações.

Apesar de terem muitos pontos positivos, a trama apresentou alguns problemas. O final foi bem surpreendente e criativo, porém poderia ter explorado mais a execução dos crimes, como que eles foram feitos. Teria sido bem interessante poder ver como que o autor elaborou os planos criminosos e o que ele teve que fazer para conseguir concretizá-los. Também faltou dar mais detalhes sobre a motivação para o responsável cometer aqueles crimes. A ideia( ou pelo menos o que deu a entender) era mostrar que a pessoa era um psicopata, mas até psicopatas têm um motivo. A partir da narrativa contada, havia um leque de possibilidades de motivações que podiam ser aproveitados. Se o objetivo era deixar em aberto, não ficou claro.

Uma Família Feliz: O mundo de aparências de Raphael Montes - [2024]

Por fim, a questão do acidente da ex-mulher de Vicente foi deixada um pouco de lado. Eva suspeita de que o marido é o responsável pelos crimes e acredita que até podia ter matado Alice, a antiga esposa, então a protagonista vai atrás dessa história. Porém depois o filme não retoma mais esse assunto e deixa em aberto o que realmente aconteceu.

Por mais que tenham tido alguns deslizes de desenvolvimento, o filme em geral foi muito bom. “Uma família feliz” tem uma trama envolvente e imersiva que leva o espectador a embarcar na investigação do crime e a transformação da protagonista: da normalidade à loucura. A pergunta que não quer calar: Quem é o culpado afinal? Se ficou curioso e quer saber o final dessa história, o filme ainda está em cartaz nos cinemas, então já garanta o ingresso.

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