E se esta também for uma vida passada e nós já formos algo além um para o outro na nossa próxima vida? Indicado ao Oscar 2024 nas categorias “Melhor Filme” e “Melhor Roteiro Original”, “Vidas Passadas” cria uma grande jornada explorando as ideias de destino, amor e escolha. A história traz Nora e Hae Sung, dois melhores amigos com uma super conexão, mas que são separados após a família da menina decidir mudar de país. Anos depois, ambos se reencontram na cidade de Nova York.
Greta Lee(Russian Doll) e Teo Yoo(Love to hate you) se juntam ao elenco como os protagonistas Nora e Hae Sung, respectivamente. Também compõem o elenco John Magaro (Umbrella Academy), no papel de Arthur, Kristen Sieh(The plot against America) como Heather, e Yonn Ji-hye(Whispering Corridors), sendo a mãe de Nora. Escrito e dirigido por Celine Song, diretora norte-coreana, “Vidas passadas” acumula várias outras indicações, e ainda conseguiu levar para casa o principal prêmio do cinema independente: Independent Spirit Awards.
O filme traz uma história sobre pessoas com conexões profundas e encontros casados pelo destino, independente dos caminhos escolhidos ao longo da vida. A ideia foge do típico clichê de “Destinados a ficar juntos” ou “Felizes para sempre”. Apesar de falar sobre vidas conectadas e interligadas serem destinadas a se encontrarem, a trama decide fugir do convencional. Ela aborda uma visão mais “realista”, mostrando que não necessariamente os encontros da vida terão um final feliz ou que acontecerão da forma desejada.
O desenvolvimento da narrativa foi impecável. Ela mantém a atenção do espectador presa a todo momento, do início ao fim, com situações que geram dúvidas sobre qual será o rumo dos protagonistas: Eles vão se encontrar? Vão ficar juntos? Cada um vai seguir sua vida? A perspectiva sobre o filme muda totalmente ao longo da trama, porém ainda consegue surpreender. O final acaba sendo imprevisível por constantemente trazer elementos que põem em dúvida qual será o destino daquela história. Os diálogos fluem naturalmente entre os personagens, tanto os verbais quanto os não verbais. Os momentos de silêncio, a troca de olhares e as expressões corporais e faciais dos atores conseguiam expressar a emoção da cena. Muitas vezes o que não é dito pode ter mais força do que é dito.
Os protagonistas tiveram uma química sensacional em todas as fases do relacionamento: desde a amizade até um possível romance. Os atores também conseguiram construir e sustentar toda a dramaticidade da narrativa: ambos se gostam e querem se ver, mas a distância era um obstáculo para a comunicação constante. O afastamento de Nora e Hae Sung foi muito bem elaborado e interpretado no filme. O destaque também vai para Celina Song, que além de ter conduzido bem as cenas de forma, soube dar a tensão dramática necessária à trama.
Os jogos de câmera foram sensacionais. Atribuíram muito mais força aos diálogos dramáticos. O uso de planos de câmera contínuos e abertos dava continuidade à ação. Isso valorizou e deu mais ênfase nos diálogos dos personagens. Também ajudou a manter 100% do foco do espectador naquele momento específico. É bom destacar também a forma criativa de mostrar a passagem do tempo. Usar movimentos de câmeras contínuos para mostrar uma transição temporal é difícil, mas a diretora conseguiu articular bem essas ferramentas ao próprio interesse.
Vidas passadas merecia mais reconhecimento. A história utiliza um tópico bem comum: a questão do destino relacionada com a paixão, porém o que diferencia é a forma como foi abordada e elaborada. Original, realista e única, a trama não só inova no roteiro mas também surpreende o espectador com os criativos jogos de câmera e uma fotografia linda. O filme já está disponível nos streamings, porém ainda está em cartaz, então se você ainda não viu e gostou da premissa, ainda dá tempo de assistir.
Streamings:
https://tv.apple.com/br/movie/past-lives/umc.cmc.tzz5x8oih45dccm7djuquugl?action=play
https://www.youtube.com/watch?v=M7x9nUASqpI
Leia mais:
Vidas Passadas – um filme bonito e doloroso ao mesmo tempo
