Trechos desta matéria foram retirados da entrevista de Wagner Moura ao The Hollywood Reporter
Wagner Moura volta ao cinema brasileiro com O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. Para ele, o filme é mais que um papel. É um reencontro com a língua portuguesa no cinema depois de mais de dez anos atuando em inglês e espanhol.
O projeto marca também sua volta ao Brasil após um era, período em que artistas foram atacados, censurados e tratados como inimigos públicos.
Ditadura brasileira e os ecos atuais
Moura não fala de política como quem dá opinião em mesa de bar. Ele viveu isso na pele. Seu longa Marighella foi praticamente interditado pelo governo Bolsonaro, que cortou o financiamento da distribuição. O filme só chegou aos cinemas em 2021, mesmo tendo sido finalizado em 2019.
Não por acaso, O Agente Secreto bebe dessa fonte. Moura interpreta um homem comum, esmagado pelas pressões da ditadura dos anos 1970. Nada de herói revolucionário. Apenas alguém tentando manter seus valores enquanto o sistema cobra obediência cega.

A parceria com Kleber Mendonça Filho
O encontro entre Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho não é de agora. Eles se conheceram em Cannes em 2005 e mantiveram contato. Para o ator, O Som ao Redor foi a prova de que o crítico de cinema também sabia dirigir. Desde então, a vontade de trabalhar juntos só cresceu.
Quando o clima político no Brasil ficou insuportável para artistas, a pergunta era inevitável: “E agora, o que a gente faz?”. A resposta veio em forma de cinema. O Agente Secreto nasceu desse contexto de opressão e resistência.

A mesma cartilha de sempre
Moura não economiza palavras para fazer comparações. Para ele, alguns presidentes seguem a mesma cartilha: atacar imprensa, universidades e artistas. “É o manual do fascismo”, dispara o ator.
E a ironia da história é cruel. Tanto no Brasil quanto nos EUA, multidões invadiram instituições democráticas. No Brasil, em 8 de janeiro de 2023. Nos EUA, em 6 de janeiro de 2021. A diferença? O Brasil puniu. Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão.

A importância da memória histórica
Segundo Wagner Moura, os brasileiros não precisam de manual para entender o que é ditadura. Vivemos isso até 1985. Sabemos o preço da perda de liberdade. Por isso, quando a democracia foi atacada, o país reagiu rápido.
Para o ator, o filme é também sobre memória. Sem lembrar, a história se repete. E ele provoca: se o Brasil tivesse punido torturadores no fim da ditadura, talvez alguns deles jamais tivessem carreira política.
O Agente Secreto representará o Brasil no Oscar 2026. A estreia nos EUA será pela distribuidora Neon: 26 de novembro em Nova York e 5 de dezembro em Los Angeles.
Créditos: The Hollywood Reporter