Baseado nos poemas A Arca de Noé, de Vinicius de Moraes, a animação brasileira conta a história bíblica já muito conhecida a partir de um ponto de vista diferente: o dos bichos. Afinal, é muito válido o questionamento sobre como juntar predadores e presas em um espaço apertado por 40 dias sem gerar grandes incidentes. No filme, acompanhamos as desventuras de uma dupla de ratinhos nesse contexto inusitado.
O longa, dirigido e roteirizado por Sérgio Machado, é uma obra feita por brasileiros e para brasileiros. Misturando uma história clássica, músicas que marcaram gerações e um humor atual e leve, a animação é simplesmente encantadora. A aventura musical de uma dupla de ratos cantores dá vida às músicas de Vinicius de Moraes, mas infelizmente é algo que não faz muito sentido fora do nosso país.
Para além das músicas, temos também muitas referências e homenagens nacionais, como à Suzana de Moraes, filha de Vinicius que faleceu em 2015. Além disso, o nome dos protagonistas (Vini e Tom) são outra homenagem óbvia e isso é apenas um dos infinitos detalhes que o filme traz. A Arca de Noé é um oceano de cultura brasileira, mas infelizmente acaba apelando demais aos sentimentos de nostalgia e pertencimento e, por isso, simplesmente não vai funcionar fora do Brasil.
Por fim, o longa trata de união, resiliência e perseverança. As interações entre Suzaninha, a neta de Noé, e os bichos é de uma doçura imensurável. Além disso, a animação é muito bonita e mostra claramente a evolução da indústria brasileira. Entretanto, deixa a desejar quanto à sincronia com a voz original em alguns momentos, especialmente nas músicas – que são justamente o foco principal do filme.