Abraço de Mãe é um filme de terror produzido pela Lupa Filmes, com colaboração entre Brasil e Argentina, que estreou na Netflix dia 23 de outubro. Com direção de Cristian Ponce, o longa conta a história de Ana (Majorie Estiano), uma bombeira com traumas de infância, que tem a tarefa de evacuar um asilo durante uma enchente (que realmente ocorreu, no Rio de Janeiro em 1996).
Apesar de ser um filme de terror, é difícil dizer qual é o subgenêro de Abraço de Mãe, já que muitos deles são utilizados, como o terror de asilo, fantasmagórico, de cultos e até mesmo o cósmico. Isso é uma decisão arriscada, com a possibilidade do filme se perder em meio a tantos caminhos, mas felizmente não é o caso, e a mescla desses subgenêros com o cenário brasileiro resulta em uma obra muito original.
Uma das grandes responsáveis pela qualidade do filme sem dúvida é Majorie Estiano. Mesmo com um filme relativamente curto (1h30), ela consegue entregar uma protagonista muito carismática, ao mesmo tempo que cheia de camadas. Além disso, a interação dela com Maria Volpe (que interpreta Lia, e é o segundo maior destaque na atuação) é muito boa.
Infelizmente, o grande desenvolvimento da personagem Ana não se aplica aos outros membros da equipe de bombeiros, que servem basicamente de escada para a protagonista. Isso por si só não seria um problema, mas o personagem Roque tem uma reviravolta na trama, e mesmo com a boa atuação de Reynaldo Machado, essa reviravolta faz parecer uma mera aleatoriedade no roteiro, tendo em vista de que não houve uma elaboração adequada para o personagem.
Apesar do filme deixar algumas coisas propositalmente interpretativas, senti falta de alguns elementos serem mais trabalhados, especialmente Cristina, mãe de Ana (Chandelly Braz), que já causa impacto no início e sempre está “presente”, mas ao mesmo tempo é algo deixada de lado ao longo da trama, representando somente um trauma de Ana, mas sem muito desenvolvimento além disso.
A escolha da história se passar entre uma enchente com o corpo de bombeiros foi um imenso acerto, pois além de ser original, traz o risco de vida desses profissionais, o que faz o filme ganhar mais tensão independente dos elementos de terror. Além disso, a enchente contribui para o asilo ganhar um teor mais sombrio, pois além de macabro, é um lugar completamente instável, com o risco iminente de desabar.
Os efeitos técnicos são impressionantes, ainda mais pensando na verba que os filmes nacionais possuem, muito diferente de um terror blockbuster. Para isso, as soluções são criativas e pontuais, fazendo com que toda presença sobrenatural tenha um grande impacto. De todos os momentos, vale o destaque principalmente para o ato final, com o design do monstro sendo muito criativo.
Outro grande ponto de destaque é a paleta de cores, que alterna entre tons mais azuis, mostrando um clima morto e introspectivo, utilizado principalmente no asilo, e o vermelho, dando um tom mais forte e urgente, presente nos momentos de trauma, que casa muito bem com a temática de fogo.
Abraço de Mãe é um filme que ousa misturando vários subgenêros conhecidos do terror, criando uma identidade completamente original. Os efeitos técnicos são impressionantes, e é inevitável pensar o que eles seriam capazes com uma verba maior. Infelizmente, nem todos os personagens tem o desenvolvimento adequado, mas isso não se aplica à Ana, que é uma das grandes responsáveis pela qualidade do filme, graças à atuação de Majorie Estiano.