Nem sempre é o monstro que vê tudo, às vezes, é o cachorro. Em Bom Menino (Good Boy), o terror é narrado pelos olhos de Indy, um cão fiel que se muda com o dono, Todd, para uma casa de campo isolada. O que começa como uma tentativa de recomeço logo se transforma em uma experiência sufocante, marcada por presenças invisíveis, sons inexplicáveis e uma sensação constante de que algo os observa.
Dirigido e roteirizado por Ben Leonberg, em parceria com Alex Cannon, o longa aposta em uma perspectiva incomum: o olhar de um animal que entende o perigo antes dos humanos. E é justamente essa escolha que faz o filme se destacar em meio a tantos títulos sobrenaturais.
Uma casa com segredos
Todd, enfraquecido por uma doença, acredita que a vida no interior trará paz. Mas a casa herdada do avô esconde uma história de tragédias familiares e Indy é o primeiro a sentir que algo não está certo.
Enquanto o homem tenta ignorar os estranhos acontecimentos, o cachorro percebe o que os olhos humanos não alcançam: sombras que se movem pelos cantos, portas que se abrem sozinhas e presenças que sussurram no escuro.
Quando forças malignas começam a dominar o lugar, Indy se torna o único capaz de tentar proteger seu tutor, mesmo sem compreender totalmente o que está enfrentando.
Atmosfera e simbolismo
A força de Bom Menino está em sua atmosfera densa e intimista. A casa mistura o aconchego familiar americano com uma decoração que provoca desconforto: móveis antigos, retratos amarelados, animais empalhados e um quintal cercado por armadilhas de raposa. Tudo parece familiar, mas cada detalhe reforça a ideia de que algo está fora do lugar.
O design de produção é um dos pontos altos do filme, transformando o cenário em um personagem vivo. A sensação de isolamento, física e emocional, torna o terror mais humano e palpável. Indy, com sua expressão atenta e silenciosa, traduz a angústia que o roteiro evita explicar em palavras.
Cães e cinema: de heróis a testemunhas do medo
O cinema sempre teve uma relação especial com cães. De Lassie (1943) a Sempre ao Seu Lado (2009), eles foram símbolos de afeto e coragem. Bom Menino subverte essa tradição, transformando o “melhor amigo do homem” em testemunha e guardião de um horror doméstico.
A atuação de Indy é um espetáculo à parte: sem falas, sem efeitos exagerados, apenas com olhares e movimentos sutis, ele carrega o peso emocional do filme e dá vida a uma narrativa que, de outro modo, poderia parecer impossível.
Um olhar diferente sobre o horror
Ao longo de 1h13 de duração, Bom Menino equilibra sobrenatural, suspense e emoção. O filme não se apoia em sustos fáceis, mas na tensão crescente e na impotência de quem vê o perigo, mas não pode se comunicar.
Bom Menino é um terror curto, direto e surpreendentemente sensível. Por trás dos sustos e da atmosfera opressiva, há uma história sobre instinto, lealdade e o medo de perder quem amamos.