LongLegs é um filme dirigido por Osgood Perkins (curiosamente filho de Anthony Richard Perkins, o icônico Norman Bates, de Psicose), distribuído pela NEON, que chamou muito a atenção do público devido aos seus trailers enigmáticos que pouco apresentavam a trama de fato, fugindo muito da estratégia de marketing tradicional. Sua estreia no Brasil foi no dia 29 de agosto.
O longa conta a história de Lee Harker (Maika Monroe), uma agente do FBI que entrou na investigação de um caso desarquivado sobre um serial killer que se autointitula LongLegs (Nicolas Cage), onde nunca houve evidências que ele esteve presente nas cenas do crime de fato, sendo somente uma carta codificada o padrão que o fazia ser reconhecido.
Antes de tudo, é necessário dizer que algumas pessoas podem ter uma expectativa frustrada justamente pelo que viram nos trailers. Diferente de algo mais chocante, como foi feita a direção do marketing, LongLegs se baseia muito mais no desconforto e angústia ao assistir do que propriamente no terror em si.
Para efeito de comparação, o filme seria uma mistura do gênero do jogo Alan Wake 2 (2023), onde a polícia precisa resolver um caso que abre dúvidas sobre possíveis interferências do sobrenatural ou não, ao moldes narrativos do filme A Bruxa (2015), que possui mais foco nos personagens e como eles são afetados do que as próprias situações em si, com desenvolvimento mais lento.
Com a proposta estabelecida, é necessário apresentar como o filme chega nesse objetivo. Os recursos técnicos mais utilizados são: planos abertos que instigam o telespectador a procurar algo que possa estar na tela mas não é mostrado diretamente, seguidos de planos fechados no rosto dos personagens, subvertendo a ideia anterior, fazendo com que a possível ameaça não seja vista, o que funciona muito bem, porque parece que algo ruim pode acontecer a qualquer momento.
Há um contraste interessante entre a atuação de Maika Monroe, que é mais contida, por influência de traumas do passado, em comparação com Nicolas Cage, mais expressivo e dramático, mostrando a completa insanidade e imprevisibilidade do personagem. Essa diferença mostra que mesmo sendo uma policial do FBI capacitada, estando no papel de perseguir o serial killer, nós sentimos que Lee pode ser a pessoa mais vulnerável da trama, já que tudo gira ao redor dela, independente do fator “protagonismo”, invertendo os papeis de “caça e caçador”.
Outro destaque é a atuação de Alicia Witt como a mãe da protagonista, Ruth Harker, que inicialmente não parece que terá muito destaque, e pode incomodar em um primeiro momento a aparente artificialidade da relação entre mãe e filha, porém, há um motivo para isso, e a trama se mostra muito qualificada para esse desenvolvimento.
No entanto, há alguns fatores do filme que devem ser criticados, incluindo até alguns que são inicialmente positivos: a construção da narrativa de tensão psicológica se dá sem a utilização de elementos explícitos que causam medo, o que funciona num primeiro momento, trabalhando com a própria imaginação do telespectador, mas não é equilibrado o suficiente, e na segunda metade do filme a falta desses elementos permite a possibilidade de se acostumar com essa ausência, diminuindo a tensão e o medo esperados.
Como o filme se baseia em vários fatores enigmáticos desde seus trailers, sempre apresentando esse teor investigativo, é normal que se crie uma expectativa para que o desenvolvimento da trama apresente as respostas gradualmente. No entanto, o final do filme é direto ao ponto, principalmente em relação à dúvida se os crimes têm interferência sobrenatural ou não, o que frustra com o teor de investigação que tinha sido proposto até o momento.
Mesmo com uma resposta direta à principal dúvida, é irônico que outras questões ainda ficaram em aberto, de forma negativa, principalmente a relação dos personagens com os acontecimentos e a motivação dos mesmos (principalmente o personagem do Nicolas Cage, que é interessante, mas não apresenta um background digno na trama). Além disso, há a presença das bonecas na história, mas não é revelado como elas atuam nos principais acontecimentos da trama.
LongLegs é uma obra que pode trazer estranheza para aqueles que basearam sua expectativa no que fora apresentado no trailer. A primeira metade tem um saldo muito positivo, na qual o telespectador espera o pior a qualquer momento, mas esse recurso não consegue se manter, com a angústia passando a ficar mais previsível. Além disso, a conclusão é muito abrupta, sem um desenvolvimento à altura dos enigmas propostos.