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Look Back: Fujino sentada na carteira da escola, com um papel na mão

Look Back: uma metalinguagem poética e melancólica

Atenção: a crítica a seguir terá spoilers. Continue por sua conta e risco.

Look Back é a adaptação do one shot de mesmo nome de Tatsuki Fujimoto (Chainsaw Man), contando a história de Fujino, Kyomoto, a relação entre elas e a criação de mangás, e indiretamente sobre o autor da obra. É bem visível a relação mais íntima que o autor provavelmente possui com essa obra, e o porquê disso será detalhado depois.

Look Back: Fujino e Kyomoto comendo um pastel

A animação já começa com um jeito muito inovador, que foi uma surpresa muito bem vinda. Como as protagonistas são mangakás, o filme já começa com uma animação dentro da animação, contando a história que as personagens escreveram, respeitando também a forma que elas desenharam.

Como toda a trama tem como centro o desenvolvimento de mangás, esse foi um belo jeito de aproximar o telespectador do que está sendo criado. É uma pena que esse recurso fica mais limitado aos primeiros momentos do filme, porque apesar de depois o foco ir direto para as personagens, poderia ser visualmente interessante ter esses momentos intercalados, mostrando também o traço delas mudando conforme o tempo.

O filme também faz questão de mostrar como as duas personagens eram completamente diferentes. Enquanto a Fujino era mais extrovertida e tinha outros hobbies além dos mangás, a Kyomoto era introvertida ao ponto de não conseguir ir para a escola, o que também gerou uma obsessão por desenhar.

Dessa união improvável começa uma relação de amizade bem interessante, porque o que poderia ser uma rivalidade, já que as duas publicavam seus mangás no jornal da escola, passa por uma quebra de expectativa, visto que a Kyomoto era fã de Fujino. O filme acerta demais na escolha dos seus tons, e quando tem essa primeira reviravolta, o filme ganha seu período mais leve, mostrando as duas se influenciando e se ajudando com os mangás.

No entanto, como de costume em uma trama, aqui aparece o primeiro conflito, com Kyomoto querendo ingressar na faculdade e irritando Fujino, já que as duas não poderiam atuar mais juntas. O que a trama acerta demais aqui é porque esse caminho é feito propositalmente para parecer previsível, sendo esse o principal problema da trama, e a jornada seria o reencontro dessa amizade, mas é aqui que o filme surpreende e mais uma vez decide mudar o tom.

É nessa parte que vemos a história se transformar completamente, passando a ser uma completa reflexão pessoal de Fujimoto. Enquanto Fujino estava desenhando no escritório, como de costume, ela passa a olhar televisão, que noticia uma pessoa entrou em uma faculdade com uma picareta e matou alguns alunos. Agora qual faculdade seria essa? Justamente a que Kyomoto estudava. 

É impressionante como o longa é construído nesse momento para que o telespectador tenha a mesma reação de choque de Fujino. A notícia chega de forma tão abrupta e inesperada que mal dá tempo de processar, tanto que logo em seguida o filme já corta para um memorial fúnebre de Kyomoto, sem sequer ter tido a possibilidade de uma despedida decente. Tal qual acidentes reais.

O filme que antes se mostrava em tons coloridos e alegres agora usa de palhetas cinzas, simbolizando o luto de Fujino, que se culpa pelo que aconteceu e começa a imaginar situações onde os cenários poderiam ter sido outros. O principal que vem em sua mente é ter enfrentado o assassino e salvado sua amiga, em um cenário onde elas nunca se conheceram e teriam se afastado. 

Em um último respiro mais cômico da obra, vemos em cena justamente o que Fujino estava pensando, dando um golpe de karatê e resolvendo o problema, mas sem perceber, ficou com picareta nas costas. Essa cena seria ilustrada por Kyomoto como um mangá, com o nome de “Look Back”. Enquanto tinha esses pensamentos, Fujino vê o mangá que Kyomoto teria escrito, deixando para o telespectador interpretar se aquilo foi só imaginação ou se de fato poderia ter acontecido em uma realidade diferente que se cruzou com aquela.

Em 18 de julho de 2019, um homem entrou no estúdio da Kyoto Animation e ateou fogo no local, matando 33 pessoas. A obra de Fujimoto faz uma homenagem de forma muito sensível ao ocorrido, e também apresenta o impacto que o ocorrido teve no autor (Não à toa os nomes Fujino e Kyomoto fundidos dão Fujimoto). 

A animação consegue captar esse sentimento de forma primorosa, ainda dando mais elementos para que o telespectador possa se conectar. É uma pena que a obra seja curta, dando a sensação que poderia ser mais trabalhada a relação das duas amigas, mas como é uma adaptação do mangá (que por si só já é mais curto), não é algo que necessariamente seja um defeito. Look Back sem sombra de dúvidas é um dos maiores destaques de 2024.

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