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Crítica: O potencial inexplorado do filme A Mulher no Jardim

Utilizando um cartão de visitas já bastante conhecido, A Mulher no Jardim se perde ao experimentar algo novo, ocultando suas principais particularidades nas sombras.

Dirigido por Jaume Collet-Serra, o filme acompanha Ramona (Danielle Deadwyler), uma mulher em luto após perder David (Russell Hornsby), seu marido, em um trágico acidente de carro. Sozinha em uma casa de campo, ela se vê no desafio de cuidar dos seus filhos, Taylor (Peyton Jackson) e Annie (Estella Kahiha), enquanto enfrenta o peso da culpa e da solidão. O que começa como um drama íntimo ganha contornos de suspense quando uma figura misteriosa surge em seu jardim: uma mulher envolta em sombras, interpretada por Okwui Okpokwasili.

A introdução do mistério é promissora. A presença silenciosa da mulher e seus poderes sobrenaturais despertam curiosidade e estabelecem um clima de tensão crescente. A interação entre Ramona e a estranha figura é carregada de inquietação, levantando questões sobre trauma, culpa e o que é real ou alucinado. No entanto, o que poderia se desenvolver como uma trama psicológica complexa se dilui em escolhas previsíveis de roteiro.

O uso do acidente de carro como ponto de partida emocional, aliado à estética “traumacore”, flashbacks e momentos fragmentados de memória, parece mais uma tentativa de alongar a narrativa do que de aprofundá-la. As tensões se armam, mas não se sustentam. As belas composições visuais, embora impactantes, muitas vezes soam como enfeites que desviam o foco do núcleo central: a representação subjetiva da culpa que consome Ramona.

A perseguição dentro da casa e o avanço simbólico da mulher pelas sombras são bons momentos de tensão visual, mas o ritmo do filme hesita. A narrativa, que poderia ter mergulhado mais cedo em uma linguagem mais subjetiva e ousada, demora a se assumir, deixando a virada estética para o final — quando o espectador já pode ter perdido o engajamento.

O drama familiar, por outro lado, é um dos pontos mais sólidos da obra. A relação entre Ramona e os filhos é bem construída, e os jovens atores se saem com competência, mesmo que o roteiro os subutilize. Faltam a eles cenas que explorem mais seus papéis dentro da trama psicológica da mãe.

Na cena final, em que tudo parece estranhamente voltar ao normal, o filme propõe questionamentos ambíguos que abrem espaço para múltiplas reflexões e interpretações. Teria Ramona superado sua luta diária contra o luto e a culpa, ou estaria apenas entregue aos seus pensamentos devastadores, vivendo uma última visão idealizada de sua vida? A pintura final, assinada com um “R” invertido, reforça a sensação de que aquilo que vemos é um reflexo distorcido da realidade — ou talvez uma tentativa de aceitar as imperfeições da existência, encontrar força e beleza mesmo nos momentos mais sombrios. Seria, então, uma rendição completa ou uma ilusão reconfortante?

A Mulher no Jardim é um filme com boas intenções, um elenco comprometido e momentos visuais de impacto. No entanto, tropeça ao equilibrar drama e horror, real e fantástico, desperdiçando a chance de transformar sua metáfora central em algo memorável. Fica a sensação de que havia um filme mais potente nas sombras, que os raios de sol que entram pelas janelas da casa não conseguiram emergir por completo.

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