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Enigma do Medo: O suspense paranormal trajado a moda bootstrap

Enigma do Medo: O suspense paranormal trajado a moda bootstrap

Enigma do Medo é o mais novo jogo da desenvolvedora brasileira Dumativa. A obra é dirigida e escrita pelo influenciador Cellbit, também responsável por criar o RPG de mesa ao qual a obra é inspirada. O jogo é um puzzle game com teor de investigação aprofundada que conta uma história paradoxal com o paranormal como pano de fundo.

A obra mistura alguns elementos interessantes para criar um ambiente recheado de puzzles que privilegia bastante a investigação, seguindo os moldes dos jogos clássicos de terror que instigam o jogador a ler todos os lembretes e deduzir o que fazer a seguir. O terror criado não é necessariamente assustador, ele trabalha, mas com a criação de uma atmosfera tensa que deixa o jogador apreensivo, mas não necessariamente o assusta, ela está mais ligada ao suspense.

Tentando sair dos limites de um jogo somente investigativo, elementos de ação são adicionados, mas nada realmente complexo, apenas uma arma de fogo para dano à distância e um pé de cabra para dano corpo-a-corpo. Toda e qualquer batalha é somente uma necessidade para dar sequência aos acontecimentos, não é objetivo final em nenhum momento. O combate apresenta problemas ligados às diagonais, alguns ataques em certas direções têm dificuldade de identificação das direções dos inimigos, fazendo que em vários momentos o jogador ataque o nada, isto ocorre principalmente ao jogar no mouse e teclado. Desta forma algumas batalhas se tornam bem mais difíceis do que deveriam ser, sendo os momentos mais agravantes em combate contra chefes. Este problema é menor, praticamente inexistente, ao usar o analógico do controle.

Os puzzles têm um tom a mais em nível de complexidade. A partir do intuito de criar algo que levasse a uma dedução trabalhosa por parte do jogador, e colocá-lo na pele de um investigador que deve estar atento aos detalhes e observar todas as pistas, a obra perpassa certos limites do jogabilidade criando algo massivo e por vezes chato. A dedução vai além da ligação de diferentes dicas e textos, os puzzles mais complexos exigem a análise de palavras específicas em certos textos para a dedução. Desta forma cria-se algo que vai além do deduzível. Um exemplo disto é a quebra da quarta parede em um dos puzzles finais.

O conceito de paranormal é bem utilizado em todos os parâmetros do jogo, seja na criação dos inimigos, puzzles, temáticas e na própria história. Os ambientes de investigação possuem uma temática central e o resto do puzzle trabalha ao redor disso, como a Caverna de Cristais que está ligada a visão ou o Cemitério da Melodias que tem uma conexão com o som. Os inimigos não são complexos, na verdade são simples e ocupam uma posição tímida que é aceitável para o foco principal da obra que é contar uma história, investigar e deduzir.

A história é bem trabalhada e executada. Ela consegue não ser comum e ao mesmo tempo não ser complexa. Não há um plot, mas mesmo assim há surpresas que estão ligadas ao game design, principalmente com os diferentes rituais que podem ser feitos no menu inicial que permitem vivenciar este mundo de diferentes formas. O paradoxo de bootstrap é utilizado com uma roupagem diferente, colocando Mia como uma personagem essencial que faz sentido no contexto do loop temporal trabalhado. A escolha do passado recente permite a criação de uma atmosfera de investigação atual, mas ao mesmo tempo antiga, além de corroborar o uso dos clássicos gravadores e rádios que são característicos de cenários de suspenses investigativos.

A premissa de Deus do Medo e o cenário fechado, confinam as personagens numa proposta mais intimista e aterradora, afinal não há como fugir. O paradoxo de Bootstrap serve ao enredo de forma inovadora ao criar um ambiente infinito da repetição de uma história infindada, que não teve começo nem fim (assim como o paradoxo). O medo não perpassa dos personagens aos jogadores, apenas momentos tensos são possíveis de serem abstraídos. A personagem de Mia neste contexto é bem trabalhada e introduzida, ela faz sentido no contexto e não parece algo forçado, ela é o único corpo externo ao loop temporal que faria sentido ser adicionado para rompê-lo. A família Strach e todo o contexto da construção do Deus do Medo e o passado de Jaser dificilmente comovem, a presença e passado dos agentes da ordem acabam por ser mais relevantes e comoventes, até pelo fato de seus passados serem melhores explorados. A figura de Jaser como vilão é excepcional, tanto na aparência, atitude e personalidade. Sua importância e magnitude permanecem até o final onde a liberdade é dada ao maior prisioneiro do mundo e sua primeira decisão livre também é a última.

Enigma do Medo apresenta uma característica que em alguns casos pode ser um problema. A obra é pensada para um público específico acostumado a experimentar jogos de investigação mais complexos e próximos dos reais, por este motivo, mesmo no modo padrão de dificuldade, onde é possível ver todas as anotações encontradas até então, ainda não é suficiente para angariar todos os públicos. Os jogos possuem uma proposta e um público, mas isto é real até certo ponto, até porque eles não podem deixar de serem acessíveis aos jogadores. Proporcionar um ambiente onde dicas caso desejáveis fossem dadas, é essencial para que todos possam experienciar a história do jogo, mesmo os investigadores mais casuais.

Em relação aos aspectos estéticos a obra é fenomenal. O trabalho de arte é incrível, seja em relação ao cenário ou às personagens. O ambiente está bem pensado, mostrando um trabalho elogiável de level design. A jogabilidade apesar de simples atende a demanda e proposta do jogo. Por fim, a dublagem está simplesmente impecável, o elenco de dubladores escolhido foi espetacular, com grandes nomes marcando presença, entre eles Guilherme Briggs.        

Concluindo, Enigma do Medo é um jogo bom, sua proposta é concisa e bem trabalhada. As possibilidades de jogabilidade, puzzle e temática foram bem pensados para servir ao tema proposto de terror/suspense. Há problemas com os puzzles e a demasiada complexidade da investigação que torna em alguns momentos o jogo massivo e arrastado. Mudanças para melhorias neste sentido talvez fosse adicionar dicas acionáveis para os jogadores que desejam uma experiência mais suave. A experiência ao consumir a obra é boa e é entregue uma história diferente, mística e um tanto única. Os jogos brasileiros estão cada vez mais trilhando um caminho de maior excelência, Enigma do Medo é a prova disso.

Para ficar por dentro de notícias da semana do mundo dos jogos fique atento à BlackCompany em Games.

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