A sequência de Five Nights at Freddy’s chegou aos cinemas carregando o peso de um sucesso improvável. O primeiro filme, lançado em 2023, foi massacrado pela crítica, mas virou um fenômeno absoluto entre o público jovem e fãs da franquia. O problema é que Five Nights at Freddy’s 2 parece ter interpretado esse sucesso como um salvo-conduto criativo e entrega um filme mal escrito, confuso, desleixado e sem final de verdade.
É um daqueles casos em que nada funciona direito, mas tudo é tratado como se estivesse ótimo.
Um filme que se move tão mal quanto seus animatrônicos
Assim como os animatrônicos possuídos que arrastam seus corpos de metal pelos corredores, Five Nights at Freddy’s 2 avança de forma truncada, pesada e estranhamente desajeitada. As transições entre cenas simplesmente… não existem. Personagens surgem em lugares aleatórios, fazem coisas sem propósito e desaparecem sem consequência narrativa.
Um exemplo emblemático envolve um professor de ciências interpretado por Wayne Knight, isolado apenas para ser morto. O roteiro corta abruptamente para ele andando por um corredor da escola, à noite, falando ao telefone sobre buscar chaves em um escritório que nunca vimos e que não tem qualquer relevância para a história. É cinema por aproximação: parece um filme, soa como um filme, mas não funciona como um.
Scott Cawthon sozinho no roteiro: o maior problema da sequência
Diferente do primeiro longa, Five Nights at Freddy’s 2 foi escrito exclusivamente por Scott Cawthon, criador da franquia de games e isso fica dolorosamente evidente. Cawthon entende de lore, referências e fan service, mas não de estrutura dramática, progressão narrativa ou escrita cinematográfica. O roteiro é uma colcha de retalhos de ideias jogadas na tela para justificar eventos futuros, sem qualquer naturalidade.
Tudo é excessivamente explicado, antecipado ou preparado de forma artificial. Nada flui. Nada surpreende.
O filme é movido a conveniências. Um personagem entrega uma caixinha de música “porque sim”, apenas para que ela seja usada mais tarde como solução mágica e o próprio roteiro parece saber o quão absurdo isso é, chegando a verbalizar o quão “estranho” o pedido soa, como se isso resolvesse o problema. Não resolve.
Esses atalhos constantes transformam o filme em algo previsível e preguiçoso, tirando qualquer peso dramático das ameaças.
Marionette, nostalgia e fan service acima de tudo
O grande vilão da vez é Marionette, uma entidade vingativa ligada ao passado de William Afton. A ideia é boa. A execução, nem tanto.
O filme se esforça para agradar fãs com confirmações de teorias, participações especiais, easter eggs em excesso e referências diretas aos jogos então, para quem conhece profundamente o universo da franquia, isso pode ser suficiente. Para qualquer outro espectador, sobra confusão.
O elenco sofre nas mãos de um texto fraco: Josh Hutcherson parece completamente desinteressado, limitado a reagir a acontecimentos aleatórios, enquanto Elizabeth Lail entrega bons momentos isolados mas exagera em outros.
Curiosamente, os melhores desempenhos vêm justamente dos vilões: Matthew Lillard, mais uma vez subutilizado, aparece pouco demais para alguém tão carismático; Freddy Carter, como Michael Afton, constrói uma presença inquietante que merecia um filme melhor e Skeet Ulrich é simplesmente desperdiçado.

Um final que não é final
O desfecho de Five Nights at Freddy’s 2 tenta estabelecer um gancho para um terceiro filme e acaba traindo o próprio protagonista, que age fora de caráter nos últimos segundos apenas para criar um falso impacto. Não é ousado. É descuidado. O filme simplesmente acaba, sem catarse, sem resolução emocional e sem sensação de encerramento.
O que funciona? Pouca coisa
É justo reconhecer alguns acertos: os animatrônicos, criados pela Jim Henson’s Creature Shop, têm um visual excelente. Os jump scares, ausentes no primeiro filme, aparecem com mais frequência e o filme é, involuntariamente, engraçado em vários momentos. Mas nada disso salva um roteiro tão fraco.
Vale assistir? Curiosamente, talvez. Desde que você ajuste MUITO suas expectativas, encare como um filme ruim e esteja disposto a rir do absurdo
Como terror, Five Nights at Freddy’s 2 falha. Como cinema, falha ainda mais. Como fan service descompromissado? Funciona para alguns.
É um filme ruim. Mas, às vezes, isso é suficiente para entreter desde que você saiba exatamente no que está se metendo.