Life is Strange: Double Exposure é a quarta edição da franquia (sem contar a DLC Before the Storm), desenvolvido pela Deck Nine e publicado pela Square Enix em 29 de outubro de 2024. O jogo traz a volta de Max Caufield, anos após os acontecimentos do primeiro jogo, já fora de Arcadia Bay.
Atenção: a crítica contém spoilers, continue por sua conta e risco.
Life is Strange sempre teve dificuldade de fazer um jogo a altura do que foi o primeiro. Enquanto o segundo tenta ir para uma rota completamente diferente e um pouco distante da franquia, o True Colors acaba “jogando seguro” até demais, em um nível que os plot twists ficam previsíveis com a estrutura do roteiro.
Com esse contexto, a volta de Max poderia gerar uma certa preocupação, já que o primeiro acaba de uma forma que não precisaria de continuações. No entanto, trazer uma personagem com a carga da Max foi um dos pontos altos do game. O jogo poderia ter ido para dois extremos muito negativos, que seriam o completo esquecimento da obra antecessora ou a incapacidade de contar uma nova história. Felizmente, a história consegue ganhar novos ares, mas se relacionando diretamente com os impactos do primeiro, de uma forma muito bem construída, sem ficar um fan service gratuito.
O jogo já começa com uma premissa muito interessante, com visual fantástico (um dos poucos defeitos do primeiro, ainda mais se for tentar jogar hoje em dia), trilha sonora muito boa, remetendo bastante ao estilo do primeiro, e a dinâmica entre os novos personagens. Além disso, o novo poder foi uma escolha criativa bem interessante, apesar de apresentar um problema que será comentado mais para frente.
Pode-se dizer que a primeira metade do jogo tem um saldo muito positivo. O problema, no entanto, começa justamente com a segunda metade. Todos os pontos que foram introduzidos no começo são resolvidos de forma questionável, com motivações confusas, pontos de roteiro esquecidos e fatos importantes que aparecem gratuitamente na trama.
Os únicos personagens que são devidamente interessantes são a Safi e o Moses (a Amanda é carismática, mas o possível romance com Max nunca avança, independente das escolhas que o jogador faz). É triste pensar como o primeiro jogo trazia personagens tão interessantes além da Max e da Chloe, como Kate, Warren, Rachel, Frank, David, Joyce e em Double Exposure, temos apenas três, enquanto os demais são esquecíveis.
A dinâmica dos poderes também é curiosa. O poder de dupla realidade é legal por ver duas facetas de uma mesma pessoa em situações diferentes. No entanto, ela é usada de forma muito maçante, e aumenta o cansaço com a falta de relevância dos outros personagens.
O poder da Safi poderia trazer uma dinâmica interessante, já que a perseguição entre ela e a Max, somada à sequência das duas conversando sobre a “vida diferente” que levam, são muito boas. No entanto, depois vira uma confusão, com efeitos colaterais dos poderes aleatórios, onde o funcionamento deles nunca vai ser explicado. E se não fosse suficiente dois personagens terem poderes, ainda há uma cena pós crédito onde fica subentendido que Diamond também o possui, gerando um péssimo gancho para uma continuação.
Life is Strange Double Exposure começa muito bem, apresenta elementos que poderiam ser explorados de formas criativas, mas opta por caminhos ruins e confusos na trama. Por mais que tenha seus méritos em dar passos que o segundo e terceiro jogos não conseguiram, uma continuação pode ser preocupante, pensando em qual das “metades” ele irá se apoiar mais.