Mickey 17 estreou nos cinemas brasileiros dia 6 de março, sob direção de Bong Joon-ho (Parasita) e protagonizado por Robert Pattinson (The Batman). O longa mistura elementos de comédia, drama e sci-fi, adaptando o livro Mickey 7, escrito por Edward Ashton.

O filme apresenta a dinâmica de um futuro onde a clonagem é permitida para dinâmicas de trabalho no espaço. Os nomeados “descartáveis” fazem os trabalhos mais insalubres disponíveis, morrendo a maioria das vezes e sendo substituídos por novas versões impressas.
A crítica é bem clara sobre os níveis que a humanidade pode chegar para explorar uma pessoa, e é realmente angustiante ver o Mickey sendo uma cobaia das situações mais absurdas, sem um mínimo de empatia por aqueles que dão as ordens.
No entanto, todo o cenário da crítica perde muito o efeito com a escolha do estilo dos personagens. Já é comum que os filmes do Bong Joon-ho começam em um tom mais cômico e vá ganhando camadas aos poucos, mas em Mickey 17 essa transição é tão considerável como em suas outras obras, como Parasita ou Memórias de Um Assassino.
Essa escolha faz com que alguns personagens sejam ruins, mesmo que tenham sido criados propositalmente para serem desagradáveis. O caso mais claro é o de Mark Ruffalo, que faz esse tipo de papel recorrentemente, como em Pobres Criaturas (o que pessoalmente acho sempre o ponto fraco dos filmes); e Toni Collette, que tem muito do seu potencial como atriz desperdiçado aqui.
O próprio Robert Pattinson acaba sofrendo com essa escolha, já que ele interpreta tanto o clone 17 quanto o 18, e a escolha para diferencia-los é a forma mais caricata possível: a única personalidade do 17 é ser inseguro enquanto o 18 é o “durão”.
Além disso, há uma quantidade exagerada de personagens, e alguns deles tem participações bem irregulares, ora sendo grande destaque, ora sendo completamente escanteados na trama. Isso fica mais evidente com o Steven Yeun e a Anamaria Vartolomei.
Outra questão que também é trabalhada no filme é o os maus tratos aos animais. As criaturas são interessantes, e por mais que seja uma temática muito parecida com o que já foi apresentada em Okja, tem aqui um dos pontos fortes do filme.
Mickey 17 tem uma premissa curiosa e interessante, mas peca ao escolher o estilo que os personagens terão na trama, fazendo o que seria cômico se tornar caricato e repetitivo. Mesmo o final sendo a melhor parte, principalmente devido aos animais fictícios, não faz com que o filme consiga se sustentar como um todo.