Lançado em 2014 e dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig, “O Predestinado” (Predestination) é uma adaptação do conto clássico de Robert A. Heinlein, “All You Zombies”. Apesar de ter mais de uma década, o longa segue relevante, intrigando novos públicos e permanecendo como uma das obras mais inventivas da ficção científica moderna. O filme representa novas perspectivas de um estilo que parece cada vez mais se apoiar em uma única cartilha. Assim, com uma trama que mistura viagens no tempo, dilemas existenciais e reviravoltas inesperadas, O Predestinado não apenas desafia as convenções do gênero, mas também explora temas universais de forma inovadora. Mas será mesmo que vale a pena assistir agora?
Uma história que não envelhece (Contém spoiler)
A narrativa segue um agente temporal (interpretado por Ethan Hawke) em sua missão de impedir os ataques do terrorista conhecido como Fizzle Bomber. Contudo, o filme vai muito além de um simples thriller de ação. Ele se aprofunda no Paradoxo da Predestinação, onde todas as ações estão interligadas de maneira inevitável, revelando que não se pode mudar o destino, mesmo que se tente diversas vezes.
O Predestinado: Entenda o que é o paradoxo da predestinação e alguns filmes e séries que abusam de sua lógica
Conhecido como um fenômeno teórico que ocorre quando um evento é tanto a causa quanto o próprio efeito dentro de um ciclo de causalidade temporal, esse paradoxo é também conhecido como loop causal. Assim, a história se apresenta como inalterável e de maneira predestinada, tendo qualquer ação feita no presente ou passado ocasionado o cumprimento desse evento.
Alguns filmes – além de O Predestinado – que abusam desse paradoxo são 12 Monkeys e a série Dark na Netflix. Em 12 Monkeys o protagonista Cole é enviado de volta no tempo e descobre que suas ações no passado contribuíram para o surto de um vírus.
O ponto central da trama — a descoberta de que os personagens principais são a mesma pessoa em diferentes momentos da vida — é uma das reviravoltas mais ousadas já vistas no cinema. Esse conceito, que desafia as noções de identidade e livre-arbítrio, continua tão impactante hoje quanto foi em seu lançamento, demonstrando o cumprimento perfeito e inevitável dos acontecimentos como algo que de maneira maestral seguem sua lógica e destino.
Atuações que elevam a experiência
O maior trunfo do filme está na atuação de Sarah Snook, que entrega uma performance arrebatadora. Dessa forma, sua transformação física e emocional ao longo da trama dá profundidade a uma personagem que carrega consigo os traumas de uma vida marcada pela solidão e pela busca de propósito. Assim, revela sua ignorância para consigo mesma, incapaz de compreender que caminho tomar em sua vida. Enquanto Ethan Hawke faz um trabalho sólido e carismático, é Snook quem conduz a narrativa, trazendo um peso dramático que torna a história pessoal e emocionalmente ressonante, sendo incapaz de não se imaginar em sua pele.
Por que assistir O Predestinado agora?
Visualmente, O Predestinado é impecável. A direção de fotografia de Ben Nott cria um equilíbrio perfeito entre a atmosfera sombria e os tons retrofuturistas que dão ao filme uma identidade única.
Os figurinos, por sua vez, evoluem junto com a personagem principal, passando de tons neutros para cores mais escuras, refletindo sua transformação psicológica. A atenção aos detalhes visuais contribui para que o espectador seja imerso em cada linha temporal apresentada. Mesmo em um cenário cinematográfico cada vez mais dominado por narrativas complexas e multiversos, O Predestinado se destaca por sua coesão e ousadia.
Consequentemente, com uma trama inteligente, o próprio roteiro é um convite à reflexão, desafiando o espectador a questionar o destino e a identidade. Apresentando atuações memoráveis e uma experiência de caráter extremamente filosófico, questionar até onde vai o livre-arbítrio é questionar uma experiência cinematográfica que transcende seu gênero. Sua narrativa inteligente, atuações marcantes e abordagem visual impecável o tornam uma obra indispensável para qualquer fã de ficção científica.
Assistir hoje é mais do que uma opção — é uma oportunidade de revisitar ou descobrir uma história que continua sendo uma das mais desafiadoras e fascinantes já contadas no cinema. Se você ainda não viu, prepare-se para uma jornada que vai mexer com sua mente. E se já assistiu, pode ter certeza: sempre há novos detalhes a serem descobertos nesse ciclo eterno.