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Superman – James Gunn sabe o que faz

Embora a DC nadasse de braçada nos anos 1990 quando se tratava de sucessos live action em relação à sua rival das HQs, a Marvel, o jogo meio que virou a partir dos anos 2000, e em 2010 a DC foi atropelada nessa disputa. Alguns culpam o aspecto “sombrio e realista” que se iniciou lá com o (bem aclamado) Batman de Nolan, e foi aprofundado nas obras de Zack Snyder. Já outra parte da crítica especializada comentava da falta de coesão narrativa, onde os filmes não se conversavam – mesmo quando tentaram forçar um universo compartilhado. Agora, sob a tutela de James Gunn, a DC tem uma nova chance de virar o jogo. Sua primeira cartada? Superman, produção que estreia no dia 10 de julho, cercada de expectativas.

Resumo

Superman inicia sem precisar recontar toda a história de origem do herói – afinal, todo mundo que não mora em uma caverna já sabe como ela é.Uma explicação rápida logo no primeiro minuto é o suficiente para colocar a pessoa espectadora no momento onde a história é contada. Em suma, acompanhamos o primeiro revés do Homem de Aço, graças ao estudo minucioso e os recursos tecnológicos do bilionário e gênio contemporâneo Lex Luthor. Aos poucos, descobrimos que o Superman dias antes havia agido para evitar um confronto entre dois países do Oriente Médio, e Luthor aponta o ato como um crime diplomático causado pelo “alienígena” Superman. O enredo então se desenrola acerca da queda da popularidade do super-herói (a ponto dele se sentir forçado a se entregar para ser alvo de uma sabatina do governo estadunidense) e como Luthor se aproveita do fato para reforçar seu ponto de vista: Superman é um extraterrestre perigoso e precisa ser eliminado.

Superman é humano

Um dos traços mais famosos do personagem-título nas HQs – e que indubitavelmente faz parte do motivo do Superman ser tão querido pelo público através dos seus quase 100 anos de existência – é exatamente como ele, mesmo vindo de um outro planeta e com instruções para dominar a Terra, se tornou um ser muito mais humano do que vários dos terráqueos que ele tenta proteger de toda e qualquer ameaça (fica a sugestão da graphic novel “Superman: Paz na Terra” como exemplo de leitura). Óbvio que essa bússola parte da sua própria personalidade, mas se completa pelo fato que Kal-El foi criado por um humilde casal do Kansas que o ensinou desde pequeno a ser a melhor pessoa possível.

Esse traço, entretanto, foi poucas vezes visto nas produções cinematográficas do Homem de Aço, e não é exagero dizer que talvez isso tenha feito o super-herói cair em descrédito produção após produção. O Superman de James Gunn, entretanto, tira um pouco aquele aspecto de “Deus entre Homens” e torna o Superman – ou, quem sabe, Clark Kent – num ser facilmente relacionável, com mudanças de humor, falhas, trejeitos, dificuldades e um senso de empatia igual ao de qualquer outro de nós, seres humanos. Ao apresentá-lo dessa forma, James Gunn entrega um filme do Superman que faz esquecer por um momento que ele é de outro planeta. Ou melhor: nos faria esquecer, se não tivéssemos Lex Luthor a todo momento reforçando que ele é um ser “de fora”, uma espécie de… imigrante.

Sim, vamos falar do elefante na sala

Não há como desvincular a história contada em Superman com a realidade atual, onde conflitos entre países e políticas envolvendo imigrantes estampam manchetes dos portais de notícia dia sim, dia não. Na realidade, está tudo bem explícito: o filme fala de xenofobia e de como questões territoriais (como temos hoje envolvendo Israel e Palestina) parecem ser tratadas como um simples jogo de xadrez pelas grandes potências mundiais, sem se importarem necessariamente com as vidas que podem ser perdidas no processo. Em suma: qualquer semelhança não é mera coincidência.

Em determinado momento do longa, Superman é acusado de ter agido “representando os Estados Unidos” ao cessar um conflito entre dois países fictícios no Oriente Médio, e ele responde com um sonoro “eu estava representando a mim mesmo!”. Ou seja: por mais que o Superman não tivesse nenhuma ligação formal com o Governo, o simples fato do herói agir majoritariamente em solo estadunidense causou o entendimento que é “um recurso dos Estados Unidos”. Nesses momentos, ele não é um alienígena (ou um imigrante). No entanto, quando as ações dele deixam de satisfazer o que o Governo deseja, ele se torna uma “ameaça externa”. Nesse ponto, James Gunn foi cirúrgico no roteiro, dando um pano de fundo que nos faz querer saber para onde a história vai. Mas logo depois entra o “modo James Gunn” – o que não necessariamente é algo ruim.

Galhofa – mas uma galhofa boa

Quem segue o trabalho de James Gunn, sabe que ele é muito fã de uma galhofa. Os Guardiões da Galáxia (onde ele iniciou sua caminhada com super-heróis) eram perfeitos para isso, bem como o Esquadrão Suicida (que tiveram uma redenção nas mãos de Gunn em 2021) e O Pacificador (série da Max). Entretanto, o Superman já não tem tanto essa vibe. O resultado disso é que temos algumas cenas cômicas que parecem não necessariamente se encaixar com todo o contexto denso que ocorre no segundo ato do filme (tem uma cena com macacos que quebra toda a tensão construída), e um ou outro momento de vergonha alheia por conta do excesso de pieguice apresentado em tela.

Esses detalhes, contudo, não são tão sérios quanto o que podemos declarar como o maior problema da produção: o excesso de tramas diferentes. Se inicia com a questão anteriormente citada do conflito no Oriente Médio, depois temos a apresentação de um grupo de heróis já existente em Metrópolis (formado pelo Lanterna-Verde Guy Gardner, junto com Mulher-Gavião e Sr. Incrível), passando por um ser que consegue rivalizar com o Superman no quesito de força e habilidades, e chega num momento onde até um buraco negro se torna uma ameaça – e tudo isso junto e ao mesmo tempo, numa grande bagunça orquestrada por Gunn.

Funciona? Pior que sim. De alguma forma, James Gunn ainda consegue fazer a galhofa funcionar. Precisava de tudo isso? Não. As linhas narrativas previamente apresentadas já eram o suficiente para entregar uma história concisa e robusta. Ainda assim, é um preço pequeno a pagar pelo presente de termos um Superman finalmente bem representado no audiovisual depois de tanto tempo. E sejamos justos: algumas pataquadas são bem-vindas, como qualquer cena onde Guy Gardner aparece, ou os autômatos da Fortaleza da Solidão.

Conclusão

Apesar do inchaço supracitado no enredo (e é impressionante que tudo isso tenha sido abordado em pouco mais de 120 minutos de tela), James Gunn emplacou um senhor início para a nova era da DC nos cinemas. O elenco, encabeçado por David Corenswet como o personagem-título, é magistral e tem boa parte do crédito acerca do bom funcionamento do filme: Rachel Brosnahan é a Lois Lane perfeita, Nicholas Hoult realmente parece ser um gênio do mal (lembrando que a genialidade de um personagem depende da genialidade do roteirista, e talvez por isso os últimos Lex Luthor que foram para as telas não funcionaram tão bem), o Jimmy Olson de Skyler Gisondo parece ter saído diretamente das páginas de quadrinhos, e a “Gangue da Justiça”, com Nathan Fillion (Lanterna-Verde), Isabela Merced (Mulher-Gavião) e Edi Gathegi (Sr. Incrível), são carismáticos o suficiente para querermos mais deles em próximas produções. O relacionamento entre Clark e Lois funciona bem e faz a base para conseguirmos enxergar a humanidade de Kal-El. Porém, quem ganha o real destaque e todos os louros no filme é o cachorro Krypto: James Gunn usa e abusa do personagem, e toda cena onde ele aparece é um deleite. Não seria absurdo dizer que ele é o real herói do longa.

Por fim, o tema abordado nas entrelinhas do enredo é a verdadeira cereja do bolo: assim como vimos recentemente em Thunderbolts*, é possível sim tratar de temas importantes e delicados mesmo em filmes de super-heróis, onde geralmente as metas maiores são recordes de bilheteria e vender brinquedos temáticos. Superman veio para reforçar esse ponto.

James Gunn sabe o que faz, mesmo que às vezes exagere no tempero. Com ele, a DC pode ter um futuro promissor (e mais colorido) nas telonas.

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