“E desde quando homem que é homem dança balé?”. Imagine o Brasil no ano de 1996, com seus preconceitos e modos de enxergar o mundo na época. Um jovem do subúrbio do Rio de Janeiro, apaixonado pelo hip hop, estaria disposto a se desafiar e entrar para uma escola de balé? Um Lobo Entre os Cisnes é o novo longa nacional que conta a história real do renomado bailarino Thiago Soares. Dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, o filme estreia nos cinemas de todo país na próxima quinta-feira, 24.
Se engana quem acha que Um Lobo Entre os Cines é um filme apenas sobre dança ou sobre o balé. A narrativa construída por Schechtman e Varvaki vai muito além, construindo camadas de uma história que mistura preconceito, amizade, desafios e confiança. O diretor e a diretora trabalharam por mais de seis anos no longa, enfrentando a pandemia, para entregar uma biografia tocante.
Sem perder tempo
Thiago, interpretado por Matheus Abreu, é do hip hop, tem um comportamento bruto, uma “heterossexualidade viril” e precisa demonstrar isso no ambiente que vive. No entanto, sua falta de disciplina e a necessidade de ajudar dentro de casa lhe apresentam um desafio e um choque de mundos. Ao entrar na escola de balé, um ambiente que ele julga “delicado”, conhece Dino Carrera, um homem gay, disciplinado, extremamente rigoroso e que aposta as fichas em Thiago. O ator argentino Darío Grandinetti, que trabalhou com Pedro Almodóvar no filme “Hable con ella”, vencedor do Oscar em 2003, interpreta Dino Carrera.
Um Lobo Entre os Cisnes conta a história de Thiago Soares de forma tão sútil que o espectador tem tempo de aproveitar todos os aspectos do filme. Do período no qual esteve ao lado de Dino Carrera, até os amores e deslumbres do bailarino no exterior. A relação aluno e mestre é retratada de forma inteligente e desafiadora. Carrera sabe do potencial de Thiago, mas compreende que o bailarino precisa crescer. “O teu inimigo maior mora aí, nessa sua cabeça dura”, fala para o bailarino em uma das cenas. A severidade não é exagerada, Grandinetti desenvolve um personagem duro, mas humano, que se importa com seu aluno.

Camila Agustini e Guillermo Arriaga, responsáveis pelo roteiro da produção, constroem, com base nessa relação, todo o desenvolvimento da história. Das dificuldades à superação, da saúde à doença, do preconceito à um amor fraterno, Thiago e Dino dançam para que o espectador compreenda como o filme vai muito além do balé. Os embates no decorrer da história trazem a pergunta de quem é o “Lobo Entre os Cisnes”? Seria o mestre implacável, que não aceita perdedores ou o aluno rebelde, que não aceita ser domado? Apesar de ser uma biografia, Thiago não rouba a cena. Assim como numa dança, cada integrante tem sua importância e o tempo correto de aparecer.
Sutileza na construção das cenas
De Tchaikovsky a Marcelo D2, Schechtman e Varvaki reiteram, mais uma vez, que o cinema brasileiro é pensado no detalhe. A música guia as cenas, a entrada dos personagens e a tensão ou leveza do que acontece na tela. A arte do áudio e do visual juntas para contar uma história.
A arquitetura do filme, pensada para mostrar o desenvolvimento de Thiago, também surpreende. O menino simples, que sai de um “puxadinho” na casa da tia, vai para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Posteriormente brilha no Ópera Garnier, em Paris, e se torna um dos melhores do mundo no Royal Ballet, em Londres. As cenas desses acontecimentos retratam a dimensão das mudanças e das conquistas de Thiago, as aberturas de novas portas e novos mundos.


Um Lobo Entre os Cisnes é para a espectadora e para o espectador que está disposto a assistir um filme sem pré-julgamentos. Não vá ao cinema esperando um “filme chato sobre balé”. Vá ao cinema esperando emoção e a arte do audiovisual brasileiro. O filme é o novo lançamento da Sessão Vitrine Petrobras e estreia nos cinemas de todo país na próxima quinta-feira, 24.
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