Se você é fã de jogos narrativos e sobreviveu emocionalmente à experiência de Until Dawn, lançado pela Supermassive Games em 2015, já sabe do que estamos falando. Para quem não conhece, basta uma frase: um slasher psicológico onde cada escolha pode ser letal. O game que redefiniu a tensão interativa agora ganha uma nova forma de vida nas telonas, e o filme Until Dawn, que está em cartaz nos cinemas, traz consigo altas expectativas, pressão e promessas de reinventar o terror no cinema baseado em games.
Mas será que consegue?
Until Dawn: entre o controle e a cadeira do cinema
O game original mergulhou jogadores em uma atmosfera claustrofóbica nos Alpes canadenses, com um grupo de adolescentes presos em uma cabana, sendo perseguidos por algo – ou alguém – enquanto decisões morais e escolhas rápidas determinavam quem vive e quem morre. A fórmula deu certo por um motivo: era pessoal, emocional e brutalmente imprevisível.

A adaptação cinematográfica, portanto, não teria vida fácil. Afinal, transformar a experiência de um jogador em algo coletivo e visual requer mais do que sustos – exige atmosfera, roteiro e coragem de inovar.
E o filme entrega exatamente isso. Com direção precisa e um elenco que equilibra bem os arquétipos do gênero com atuações acima da média, Until Dawn não tenta ser um simples slasher. Ele é, acima de tudo, um exercício de tensão prolongada.
O diferencial de Until Dawn no cinema de terror
O que separa Until Dawn dos outros filmes de terror baseados em jogos como Resident Evil ou Silent Hill é a sua proposta intimista e cerebral. Aqui, o horror não está nos monstros em si, mas nas decisões humanas – e isso permanece intacto no filme. A sensação de impotência diante do inevitável, os conflitos entre os personagens, o uso de jumpscares contidos (e bem posicionados) e o mistério que envolve as lendas indígenas do Wendigo são elementos que mantêm o público engajado até o último minuto.
Outro ponto alto é a ambientação: claustrofóbica, gelada e constantemente ameaçadora. O filme respeita a estética do jogo, mas evita fanservice gratuito, o que garante uma independência narrativa rara nesse tipo de adaptação.
Expectativas e recepção
Antes da estreia, a comunidade gamer e cinéfila já estava dividida. Por um lado, havia medo de mais uma adaptação rasa. Por outro, a esperança de ver um dos jogos mais impactantes da década finalmente ganhar vida em um formato acessível a todos. Felizmente, Until Dawn acerta em cheio ao manter a essência do jogo enquanto constrói uma linguagem própria.
A tensão construída cena a cena é sentida fisicamente. O roteiro equilibra bem os momentos de silêncio absoluto com picos de pavor – daqueles que não dependem apenas do susto, mas da antecipação dele. O espectador é colocado no lugar do jogador: passivo, mas emocionalmente envolvido. Você não tem como intervir. Só resta assistir – e torcer para que tudo acabe bem.
Until Dawn vale a pena?
Sim. Especialmente para quem busca um terror psicológico de qualidade, que respeita a inteligência do público. Until Dawn é mais do que uma adaptação de game: é uma resposta às críticas sobre a superficialidade do terror moderno. Ele entrega uma narrativa envolvente, atuações sólidas, mistério na medida certa e, principalmente, uma tensão genuína que nos relembra por que gostamos de ter medo.
Um novo patamar para o terror adaptado de jogos
Until Dawn, o filme, é uma experiência catártica para quem já jogou, e uma excelente porta de entrada para quem nunca ouviu falar no game. Ele consegue algo raro: conversar com dois públicos distintos sem perder a própria identidade.
E num mercado saturado de fórmulas previsíveis, isso já é um feito e tanto.