Fernanda Montenegro protagoniza Vitória no novo original Globoplay que chega aos cinemas brasileiros amanhã (13). O longa apresenta uma idosa que, indignada com a violência que tomou seu bairro, filma as atividades do tráfico para ajudar a polícia. A produção adapta a história real de Joana Zeferino da Paz e se passa em Copacabana, em 2005.
É difícil assistir Vitória e não se identificar ou enxergar alguém próximo em alguma das personagens apresentadas. O longa de Andrucha Waddington e Breno Silveira, cineasta brasileiro que veio a falecer em 2022, apresenta um história genuinamente brasileira. Para além de ser uma narrativa extraída diretamente da vida real, as cenas nos mostram a vida e as dores do povo brasileiro por um olhar sensível. Acompanhar o filme significa presenciar os horrores da criminalidade e ver em primeira mão a habilidade brasileira de conviver com as dificuldades. E é, assustadoramente, perceber como nos acostumamos com a violência e a corrupção ao ponto de já não nos restar forças para resistir.
Em termos técnicos, a fotografia do longa valoriza o estilo estético da direção de arte que mistura metáforas e uma brasilidade nua e crua. Por sua vez, o elenco (com Alan Rocha e Linn da Quebrada) dá vida às personagens com tamanha maestria que vemos as pessoas reais por trás da história. Fernanda Montenegro, por sua vez, entrega uma performance monumental, digna da carreira que trilhou até aqui. Aos 95 anos, a atriz já deu a entender que essa seria sua despedida do cinema – e não poderia ter sido melhor. O longa como um todo transborda dedicação e carinho em contar a história de uma mulher corajosa que simplesmente não podia ser esquecida.
Vitória, o grito de socorro e a carta de amor
Além de ser uma experiência ímpar, Vitória é um grito de socorro assim como Ainda Estou Aqui é uma denúncia. Isso porquê, apesar da coragem de Joana da Paz, e das prisões decorrentes de seus atos, o Brasil 20 anos depois é quase o mesmo. Os traficantes seguem disseminando a violência, as drogas ainda são um problema interminável e a luta contra a corrupção do sistema se mostra como uma batalha inútil. O longa é um grito de socorro porque nos lembra que tudo isso ainda é a nossa realidade – e que é preciso muita coragem para mudar ela.
Por outro lado, Vitória também é uma carta de amor. Para todos os brasileiros que buscam justiça, para todos que resistem à corrupção e, principalmente, aos corajosos como Joana da Paz. Essa carta também é uma prece silenciosa em nome de todos que perderam suas vidas para o tráfico, de uma forma ou de outra. E, finalmente, é um muito obrigado a todos que escolhem não se calar e lutam com as armas que têm ao seu alcance, sejam elas quais forem. Vitória já nasce um clássico do cinema brasileiro e, em uma época tão cheia de produções polêmicas, mostra perfeitamente como apresentar as dores de um povo de forma respeitosa e honesta, sem sacrificar o impacto da narrativa.
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