Janete Clair, uma das figuras mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira, teve seu centenário de nascimento celebrado em 25 de abril de 2025. Nascida em Conquista, Minas Gerais, em 1925, ela construiu uma trajetória brilhante que transformou para sempre a televisão do país. Ao longo de sua vida, Janete conquistou o público com seu talento para criar tramas envolventes, sua ousadia narrativa e sua impressionante habilidade de improviso.
Inicialmente, ela brilhou no rádio, ao escrever e adaptar radionovelas de sucesso como Perdão, Meu Filho e Inocente Pecadora. Em seguida, migrou para a televisão, onde consolidou sua fama como autora de grandes clássicos. Ela então conquistou o título de “Maga das Oito”, uma referência à sua capacidade única de prender a audiência no horário nobre. Janete continuou inovando até sua morte precoce, em 16 de novembro de 1983, aos 58 anos, vítima de um câncer de intestino.
Não há como mencionar o legado de Janete Clair sem citar o emblemático caso do terremoto de Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967), ou ainda citar grandes sucessos como a primeira versão de Irmãos Coragem (1970). A autora também foi a responsável por introduzir nas telenovelas brasileiras um artifício utilizado até os dias atuais- o clássico “Quem matou?”– como exemplos recentes podemos lembrar do “Quem matou Benjamin Argento?” em Beleza Fatal (2025) e o já aguardado “Quem matou Odete Roitman?” em Vale Tudo (2025).
Anastácia, A Mulher Sem Destino (1967)
Anastácia, A Mulher Sem Destino, escrita por Emiliano Queiroz (1936–2024), enfrentava forte rejeição do público. A história complicada, a linguagem rebuscada e o excesso de personagens confundiam quem acompanhava a trama. Para reverter a situação, o diretor de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, agiu rapidamente. Ele contratou Janete Clair, que fazia sucesso na Rede Tupi com o folhetim Paixão Proibida, para salvar a novela do fracasso.

Ao assumir o texto, Janete encontrou uma solução ousada. Ela criou um terremoto que eliminou mais de cem personagens e promoveu uma passagem de tempo de 20 anos. A estratégia deu novo ritmo à narrativa. Embora a novela não tenha alcançado a liderança no ibope, o desempenho melhorou. Satisfeita, a Globo passou a usar Janete como referência de como resgatar roteiros problemáticos.
O primeiro Quem Matou da dramaturgia brasileira
Janete Clair conquistou seu primeiro grande sucesso no horário nobre da Globo com Véu de Noiva (1969). Baseada na radionovela Vende-se um Véu de Noiva, a trama inovou ao apostar em histórias contemporâneas, diálogos coloquiais e cenários brasileiros, sepultando o modelo de melodramas históricos e estrangeiros que dominavam a emissora. Ambientada no Rio de Janeiro, a novela trouxe temas do cotidiano, como conflitos familiares e diferenças sociais, e marcou uma nova era na teledramaturgia brasileira.

A história acompanha Andréa (Regina Duarte), jovem de origem humilde, que descobre a traição do noivo Luciano (Geraldo Del Rey) com sua irmã Flor (Myriam Pérsia) no dia do casamento. Após um acidente de carro que deixa Andréa com uma cicatriz no rosto, ela se apaixona pelo piloto Marcelo Montserrat (Cláudio Marzo) e enfrenta a oposição da futura sogra e da vilã Irene (Betty Faria). Entre disputas familiares, cirurgias, segredos e a luta pela guarda de uma criança, o drama culmina com o assassinato de Luciano, levantando suspeitas entre vários personagens.
Quem Matou Salomão Ayala?
Janete Clair introduziu o recurso do “quem matou?” com Véu de Noiva (1969). No entanto, só em O Astro (1977) ela conseguiu prender de verdade a atenção do público. Na trama, os telespectadores ficaram vidrados para descobrir quem matou Salomão Ayala, personagem de Dionísio Azevedo, assassinado no capítulo 44.

A tensão se manteve até o último capítulo, o 185, quando Clair finalmente revelou a verdade: a mandante do crime era Clô (Tereza Rachel), esposa de Salomão. A estratégia de suspense virou marca registrada da autora e consolidou de vez o envolvimento do público com as novelas brasileiras.
Superando a final da Copa do Mundo e 100% de audiência
Em várias ocasiões, a mineira Janete Clair fez suas narrativas se entrelaçarem com a História do Brasil. Um dos exemplos mais marcantes aconteceu com Irmãos Coragem (1970), novela protagonizada por Tarcísio Meira, que, em termos de audiência, superou até a final da Copa do Mundo de 1970, liderada por Pelé. Esse feito extraordinário de mobilizar um país inteiro com suas histórias se repetiu nos anos seguintes, consolidando ainda mais o nome de Janete como uma das maiores forças da teledramaturgia nacional.

Em 1972, Janete Clair conquistou outro feito histórico com Selva de Pedra. No capítulo exibido em 4 de outubro, quando Simone (Regina Duarte) era desmascarada, a novela alcançou 100% de share no Rio de Janeiro, segundo o Ibope. O episódio marcou a maior audiência já registrada na história da televisão brasileira até então.

Criando um garnde sucesso em poucas semanas
Com a proibição pela ditadura militar brasileira da novela Roque Santeiro (1975), escrita por Dias Gomes (marido de Janete Clair), a Rede Globo precisou agir rapidamente. Assim, recorreu à autora para criar uma nova história, que substituísse a novela censurada no horário. Na época, embora ainda fizesse sucesso com seu estilo romântico, Janete já começava a enfrentar um leve desgaste junto ao público. Ela então promoveu uma nova virada em sua carreira. Enquanto escrevia Bravo para a faixa das 7, foi chamada às pressas para voltar ao horário nobre. Em poucas semanas, criou Pecado Capital, reafirmando de forma brilhante sua genialidade e capacidade de adaptação.

Legado da autora
Janete Clair desempenhou um papel fundamental na consolidação da telenovela como um dos principais produtos culturais do Brasil. Suas histórias, repletas de emoção, suspense e personagens cativantes, refletiam as aspirações e dilemas da sociedade brasileira, tornando-se espelhos do cotidiano nacional. A partir de Irmãos Coragem (1970), Janete Clair dominou completamente a audiência. Mais do que isso, ela foi fundamental para criar no brasileiro o hábito de acompanhar telenovelas diariamente, um costume que atravessa gerações até hoje. Além disso, com a trama, ela quebrou barreiras e conquistou também o público masculino, que passou a incorporar as novelas em sua rotina. – como explica o pesqusiador Nilson Xavier.
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