Existe uma grande dúvida que paira na mente de todos os brasileiros: Capitu realmente traiu Bentinho ou tudo narrado em Dom Casmurro é um delírio da mente do nosso protagonista? Essa mesma dúvida paraíba a cada página de Declínio de um Homem, obra de Osamu Dazai adaptada pelo rei do horror japonês Junji Ito.

A obra, que por muitos é considerada a autobiografia de Dazai, acompanha a vida de Yozo Ohba desde seu nascimento até sua morte. A vida do nosso protagonista é repleta de tragédias que vão desde abusos até mortes extremamente suspeitas, mas por que isso torna o Declínio de um Homem uma obra tão única? A verdade é que existem duas respostas para essa pergunta: a primeira é nosso narrador e a segunda é a adaptação de Junji Ito.

Vamos então começar pelo nosso amado narrador. Basicamente, a obra toda é vista pela perspectiva de Yozo Ohba o nosso protagonista de caráter extremamente duvidoso. Nunca sabemos se tudo o que é apresentado aconteceu da maneira como está sendo contado ou até mesmo se realmente aconteceu! É nesse ponto que podemos traçar um paralelo com Dom Casmurro, já que ambas as histórias foram construídas para constantemente fazer o leitor duvidar de seus protagonistas.

Declínio de um Homem é uma narrativa extremamente pesada, complexa e densa que deixa tudo ainda mais acentuado com os traços únicos de Junji Ito. A verdade é que o mangaká dá um tom muito mais sombrio com uma pegada de terror a obra de Osamu Dazai. Em diversos momentos, nos pegamos pensando que existe algum fator sobrenatural pairando na vida de Yozo Ohba, entretanto a maestria da obra está exatamente nesse ponto.

A vida pode ser sombria e aterrorizante por si sem precisar de explicações do mundo sobrenatural. Isso não torna o mundo ainda mais aterrorizante? Saber que existe maldade pura nos seres humanos e que o mundo pode ser extremamente sombrio? Dazai é conhecido por ser um autor extremamente melancólico e depressivo que transmitiu esses sentimentos em suas obras e que infelizmente tirou a própria vida aos 39 anos.

A verdade é que não existe ninguém melhor para colocar as dores de Dazai em páginas de mangá do que Junji Ito.

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