Um homem responde em um tribunal, quatro anos depois, pela morte de diversas pessoas em um motel. Ao mesmo tempo, estas parecem se encontrar ainda no dia da fatídica tragédia, revelando como tudo haveria de estar predestinado. Um a um os personagens adentram as paredes daquela espelunca, envolvidos em suas próprias tramas. Sem dúvida, a premissa de Identidade (2003) soa extremamente cativante em pleno 2024. Graças a isso, mostra seu potencial avassalador mesmo datando 21 anos desde seu lançamento. Porém, a pergunta que não quer calar é: ainda vale a pena assistir?
Do que se trata esse filme, afinal?
Uma estrela de cinema, um antigo policial, uma prostituta, o dono do motel, um casal surtado, uma família com seu filho, um policial com um preso, e uma única vontade: Que a chuva passe e cada um siga seu caminho. Como se condicionados, a perda do sapato pela prostituta ocasiona o pneu furado da família, que leva a um trágico acidente pelo ex-policial que carregava a estrela de cinema. No final, todos os personagens acabam no mesmo local naquela noite.
Envolvidos pela urgência em salvar a mulher atropelada, observa-se com grande interesse a ação se desenrolar. Enquanto isso, as estradas parecem alagar cada vez mais, o que impossibilita a passagem de quem quer que seja. Eis que, então, o policial chega com o preso, e logo em seguida a primeira morte movimenta todo o cenário do filme. Enquanto se é aguardado ansiosamente o desenrolar dos fatos, uma nova perspectiva toma protagonismo. A audiência do assassino daquela mesma noite de quatro anos atrás parece se estender lentamente devido à forte chuva que atrasa sua chegada. Todavia, a descoberta de um diário parece causar uma nova reviravolta na constatação do caso, suspendendo à condenação de morte.
Identidade gera “identidade” com o público?
Com um protagonismo dividido dos personagens, o foco na maior parte do tempo passa a ser nas ponderações e decisões do antigo policial, que junto ao que ainda exerce, parece caçar o preso foragido e de caráter extremamente perigoso. Convictos que ninguém mais morreria aquela noite, um a um as conexões confusas e relatos cada vez mais soturnos parecem se formar, questionando a sanidade dos presentes e espectadores e de que forma tal homem haveria de ter feito tudo aquilo a qual era julgado no dia em que o trecho é contado.
Desafiando a capacidade de compreensão e interpretação dos envolvidos e dos que assistem a todo momento, Identidade (Identity, 2003), suspense dirigido por James Mangold (Garota, interrompida), trás consigo ponderações e questões dignas de grandes filmes. Observar a todo momento novos fatores se apresentarem é poder, pouco a pouco, traçar junções que somente um bom filme seria capaz de levantar. Não somente, Ed, o motorista de limusine e ex-policial que assume o protagonismo do filme, brinca tranquilamente entre a realidade e a verdadeira face do assassino, tornando o último minuto do filme o mais impactante que poderia ser, abordando temáticas ainda pouco exploradas pelo cinema, valendo cada minuto gasto em assistir um filme que já comemora bodas de zircão.