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imagem dividida, com a figura de Max no primeiro filme (1979) à esquerda e a de Furiosa à direita (2024)

Opinião – Furiosa mostra a importância do universo além do protagonismo

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Furiosa: uma saga Mad Max está nos cinemas e tivemos o privilégio de assistir ao filme na pré-estreia (leia nossos reviews aqui e aqui). Esperávamos um filme de origem, com a apresentação do passado da protagonista, mais detalhes sobre o universo pós-apocalíptico criado e apresentado por George Miller a partir do filme de 1979, além, claro, de muita perseguição automotiva no deserto, explosões e cenas incríveis de ação. E o filme entrega exatamente o que era esperado. Então, por que ainda assim a produção foi capaz de nos surpreender?

A questão talvez seja respondida não necessariamente por Furiosa, mas sim por como estivemos acostumados a prequels que focam apenas em seus protagonistas e no que deu certo no passado ao invés de enriquecer o universo apresentado em produções anteriores.

Quando o universo é maior que o protagonista

Mad Max. He-Man. Rocky. Robocop. Indiana Jones. Independente da mídia utilizada, os anos 1970 e 1980 foram uma mina de ouro para protagonistas que, alheios ao universo onde estão inseridos, faziam toda a história girar ao seu redor. Podemos ainda incluir franquias cujo nome pode sugerir o universo, mas geralmente ficam atreladas ao seu protagonista (ou protagonistas), tal qual Star Wars, O Exterminador do Futuro e Duna. Foi uma época onde a Jornada do Herói (subvertida ou não) era levada à risca em vários roteiros e literaturas, e é fato várias funcionaram muito bem. Entretanto, algumas franquias chegaram a secar após incontáveis usos do protagonista: Rocky, sempre muito aclamado, chegou a ter um filme feito basicamente para mostrar que a União Soviética era malvada na época da Guerra Fria, e anos depois (2006) ainda teve mais um filme envolto no protagonista, para só então receber continuações spin-off com Creed. Da mesma forma, Indiana Jones recebeu uma continuação em 2008 que foi bastante criticada, bem como sua continuação em 2023. Por fim, podemos gastar horas falando do que foi feito com Star Wars nos cinemas na última década.

O fato é que, embora nem todas essas franquias possuam um universo bem estruturado e que valha a pena explorar, é inegável que o futuro pós-apocalíptico de Mad Max, Robocop e O Exterminador do Futuro, ou a galáxia a ser explorada em Star Wars e Duna, e até mesmo a lore do mundo onde temos o reino de Eternia de He-Man poderiam ter grandes histórias a serem contadas além de seus protagonistas ou famílias principais (sim, estou falando com vocês, Skywalkers). E é aqui que Mad Max se sobressai diante das demais franquias supracitadas (comentamos sobre isso em nosso Overview 43 – assista aqui!).

A coragem de mudar de protagonista

Talvez muitos não tenham notado lá em 2015, quando tivemos Mad Max: Estrada da Fúria lançado nos cinemas (aproveitando o embalo de “produções feitas para atingir a nostalgia do público mais velho”), mas George Miller, Brendan McCarthy e Nico Lathouris aos poucos removeram a mística aplicada a Max Rockatansky nos três primeiros filmes e foram aos poucos mudando o foco para uma nova protagonista. Vimos que Max não era tão único e especial como mostrado antes (o melhor piloto, o melhor lutador, etc.) e de quebra fomos apresentados à Furiosa, uma mulher fugitiva, sem um braço, que era tão boa piloto e lutadora quanto o (ex) protagonista da franquia. É quase como se Miller nos dissesse “sim, Max é muito legal, mas olha essa personagem aqui!”.

O resultado? Ao fim do filme, quase esquecemos que Max era “o cara“ da franquia e estamos muito mais investidos em saber o passado e o futuro de Furiosa – algo que foi brilhantemente providenciado em Furiosa: uma saga Mad Max.

O possível futuro após Furiosa e a lição para os demais

Assim como Estrada da Fúria nos apresentou Furiosa, esse último filme nos apresentou, por exemplo, Dementus, um antagonista super complexo e bem estruturado. No caso de um sexto filme da franquia, por que não explorar mais sobre o passado e o que o tornou um vilão? Ou então, irmos mais a fundo na comunidade das Muitas Mães, a fim de entender como ela se formou e quais desafios enfrentaram para poder manter o Vale Verde em segurança (e até mesmo a derrocada do Vale, conforme descobrimos em Estrada da Fúria)? É possível também se desprender por completo do núcleo visto nas aventuras de Max e analisar como o apocalipse afetou outras sociedades. Desde que Miller e sua trupe continue criando roteiros originais e com conteúdo – e não caia na tentação de fazer filmes “caça-níqueis”, como tantos por aí que são descartáveis –, a “uma saga Mad Max” ainda pode ter muita estrada para percorrer (com o perdão do trocadilho).

Com Furiosa, Miller teve a coragem que Star Wars, por exemplo, não teve em seus episódios VII, VII e IX: será que era necessário envolver o vínculo com os Skywalker em toda a trama, ou seria mais interessante acompanhar a história de Finn, Rey e Poe (e devidos cameos que se encaixassem na trama, pois o fan service é sempre bem vindo) na luta contra Kylo Ren (com uma possível redenção) e os tais Cavaleiros de Ren (que nunca apareceram)? Rocky fez isso com Creed e merece méritos por isso; Indiana Jones teve o potencial de fazer isso em A Relíquia do Destino, mas pareceu que o timing do Indy já havia passado; O Exterminador do Futuro continuou tentando mudar as formas de contar a mesma história, mas no fim tudo voltava a circundar Sarah e John Connor.

Então, para responder a pergunta lá do início: como uma franquia que apresenta o que já é esperado dela ainda pode surpreender? Simples (e complexo ao mesmo tempo): basta subverter a ideia do protagonismo, mas honrando o universo criado em volta dele – e com roteiro e equipe técnica de qualidade, por óbvio. Talvez esse último ponto seja o mais complicado de alcançar.

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Thiago Pe

Thiago Pe

Nascido e criado em Curitiba - PR, Brasil. Programador, escritor, rpgista, musicista, marido e pai. Tenta efusivamente conciliar todas as ocupações acima – e raramente consegue.

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