Após 1 mês de lançamento de Children of the Sun, a nova obra da publisher Devolver conta com uma aprovação de 93% na plataforma Steam e com a nota de 81% no Metacritic. A obra surpreende por diversos fatores, entre eles o fato de ser um jogo indie desenvolvido por uma única pessoa.
Children of the Sun, primeiro título de René Rother, desenvolvedor de jogo alemão. A obra é publicada pela Devolver Digital, famosa por investir em indies promissores. Apresentando uma garota sem nome com um passado sombrio, é proposto um puzzle game 3D dividido em fases, que não abre mão de contar a história sangrenta e visceral.
A obra propõe um puzzle game que trabalha com uma perspectiva diferenciada, a personagem principal tem o poder de telecinese e com isso ela consegue controlar livremente diferentes objetos ao seu redor, inclusive a bala de um rifle que ela possui. A ideia está posta, um tiro para conquistar cada fase, depois do disparo é necessário controlar a bala de diferentes formas para matar todos os inimigos, este é o momento que o puzzle entra em cena, os elementos referentes a quais mecânicas utilizar, qual inimigo matar primeiro e a possibilidade de trajetórias são levados em conta para concluir as fases e avançar no jogo.
A história da obra é contada através de curtas cinemáticas ao começo de determinadas fases, através delas é possível entender mais sobre o culto que a personagem está perseguindo e as motivações por trás de tudo. A dinâmica entre o culto e os pais da personagem, assim como o ódio para o líder é explicitada e dá sentido a cachina propaga pela garota que o jogador controla. Garota esta que é tem uma relação bastante impessoal, pois além de não possuir fala, seu rosto completo só é mostrado ao final da obra, é, inclusive, complicado entender o sexo da personagem até uma parte consideravel da obra.
A ambientação da obra é incrível, a ideia de um culto religioso que busca a “filha da luz”(Children of the Sun) e que cultua um Deus pagão é transmitido naturalmente de forma impecável. As fases com seus elementos sobrenaturais, sejam os inimigos sacerdotes ou objetos flutuantes, ambientam o jogador ao sobrenatural que inclusive se relaciona diretamente com o poder da protagonista. A ambientação consegue transmitir o que é mais importante nesta obra, que conta somente com as fases e curtas cinemáticas para contar a história, sentimentos de raiva, ódio e desprezo. Estes são transmitidos através dos elementos estéticos muito bem implementados, eles corroboram a história contada além de intensificá-la.
Em relação à jogabilidade, a complexidade e simplicidade andam de mãos dadas. O cenário 3D apresenta aberturas para diversas estratégias no que diz respeito ao controle da bala, porém a personagem é limitada a um círculo (às vezes nem isso) para sua movimentação. É possível rodear o ambiente para marcar os inimigos e analisar o cenário, porém qualquer movimentação de aproximação ou afastamento é inexistente, esse modelo abre espaço para a estratégia, já que o escopo inicial é limitado mas se expande conforme a bala é disparada e seu controle é iniciado, tornando a jogabilidade simples em complexa.
No que diz respeito à progressão, esta ocorre em dois aspectos diferentes, há a progressão mecânica e da história. A progressão mecânica ocorre conforme o jogador avança nas diferentes fases e uma nova forma de controlar a bala ou um novo inimigo é apresentada. Essas mecânicas criam um nova variação no puzzle já que inimigos específicos tem métodos específicos para serem lidados, como o encouraçado que necessita da bala estar em alta velocidade para penetrar a armadura, ou o inimigo com o escudo que geralmente vai precisar de uma bala desviada para ser morto, etc. Ainda há, mecanicamente, variações de bala e cenário, como a mudança sutil de direção do projétil e a habilidade de mudar completamente a direção da bala após o jogador acertar dois pontos fracos, já o cenário se comporta como elemento integrador já que os carros e pássaros são objetos atingíveis que muitas vezes oferecem um novo ângulo para a trajetória da bala. Obviamente que cada cenário novo exige que o jogador utilize as novas mecânicas apresentadas para completar a fase, logo o escopo e complexidade dos puzzles aumenta gradativamente até o final da obra, tendo assim uma progressão linear e desafiadora na medida certa.
Ainda sobre a progressão, a da história é gradual e na dosagem certa, as informações passadas são o suficiente para sanar parte da dúvida do objetivo final da garota ao tempo que o passado é explicado. Não há saltos bruscos e todo o processo é bem entendido.
Em relação às variações das fases, há elementos interessantes e outros nem tanto. As fases apesar de haverem variações passam uma ideia de repetição em vários momentos, por isso fases como o cemitério e a perseguição de carro são importantes para variar o que está sendo apresentado. O complicado que este intuito gera algumas distorções estranhas como a fase que é um mini-game de coletar munições e depois matar os inimigos, esta fase é completamente desconexa com o resto da obra, é uma variação que não faz nenhum sentido com o contexto, é um apêndice sem função.
Esteticamente a obra é estonteante, talvez este seja um dos aspectos que mais impressiona. As cores vivas e contrastadas, geram um alarde excessivo em tudo, seja nos inimigos em si, nas explosões ou nos efeitos de morte. Esse alarde corrobora com o sentimento que a personagem está sentindo: ódio e desejo de vingança; este funciona bem para um efeito de quebra da realidade, é bem aplicado, inclusive nas cinemáticas. Outro ponto da estética que é importante para essa ambientação psicodelicamente odiosa são os efeitos sonoros, tudo é estridente e exagerado, a raiva é transmitida claramente através desses elementos, o trabalho executado é fantástico.
Concluindo, Children of the Sun consegue apresentar uma proposta diferenciada de puzzle que surpreende pela mecânica e conquista pela estética. A obra apesar de ter uma camada densa de estratégia com diversas mecânicas que enriquece a jogabilidade e expande o escopo do puzzle, não abre mão de contar sua história que é impactante apesar de não ser inovadora. A história tem pouco impacto se for levado em conta as cinemáticas apenas, elas ajudam mas não são elas que transmitem o sentimento mais visceral. Estes sentimentos somente são abstraídos com a estética da obra como um todo, os efeitos sonoros, efeitos visuais, a escolha da paleta de cores e sua saturação elevadíssima que causam um contraste tenebroso e impactante. A obra é uma grata surpresa de um desenvolvedor alemão independente, os elementos dispostos estão integrados formando uma unidade que consegue, facilmente, transmitir sua mensagem e divertir o jogador.
Children of the Sun é publicado pela Devolver Digital, para saber onde está disponível o jogo ou comprar produtos da obra basta acessar o site deles clicando aqui. Para ficar por dentro de notícias do mundo dos jogos fique atento à BlackCompany em Games.
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