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Creatures of Ava, um enredo e temática incrível com uma gameplay comum

Creatures of Ava é o segundo jogo desenvolvido pela Inverge Studios, um estúdio de desenvolvimento de jogos espanhol situado em Valência. O mundo de Ava é apresentado como um planeta interdependente, um sistema fechado onde todos os seres que o habitam dependem uns dos outros, sejam eles inteligentes ou não. A problemática principal envolve questões de geopolítica da biodiversidade e teorias filosóficas clássicas.

A obra propõe um jogo de puzzle com uma dinâmica de combate que consiste na captura de monstros e em alguns minigames. São apresentadas quatro diferentes regiões de mundo aberto para serem exploradas. A exploração é outro elemento constituinte da obra, diretamente relacionado à árvore de habilidades, uma vez que existem itens que melhoram os perks dessa árvore que somente são obtidos através da exploração. A existência de níveis e da própria árvore de habilidades introduz elementos de RPG ao jogador. O último elemento constituinte está ligado à tentativa do jogo de ser um cozy game, propondo minigames para a captura dos monstros e uma dinâmica de combate que visa a restrição das criaturas, em vez de um enfrentamento agressivo.

O objetivo do jogo, em um primeiro momento, é a preservação, o que exige o resgate das criaturas. Elas estão presentes no ambiente de duas formas: a primeira é em seu estado natural, onde para cativá-las é necessário um minigame de notas musicais, no qual é preciso encontrar a melodia correta para cada animal. A segunda forma são as criaturas infectadas, que, para serem capturadas, exigem uma purificação, introduzindo o elemento de combate. Derrotar a criatura infectada a libertará das amarras da mazela, fazendo com que ela retorne ao estado natural; nesse caso, não é necessário o minigame para cativá-la. Essa é a mecânica principal do jogo e o que movimenta todo o enredo.

A história de Creatures of Ava gira em torno da ideia de preservação, exigindo que o jogador percorra os quatro diferentes biomas de Ava, resgatando as criaturas deste planeta e enviando-as para a bioarca, uma nave espacial preparada para receber diferentes espécies alienígenas. À medida que a história avança, um novo objetivo surge: salvar o próprio planeta. Ava está morrendo, corroída por uma infecção chamada Mazela, e seu fim parece iminente. Com ambos os objetivos em mente, o jogador, no controle de Victoria Hamilton, deve fazer tudo o que for necessário para salvar o planeta.

Essa dualidade de objetivos cria uma tensão única, amplificada pela presença do povo Naam. Esses seres inteligentes habitam Ava, mas aparentemente não se preocupam com o bem-estar do planeta. A atitude deste povo dominante é estoica; eles acreditam que tudo o que está acontecendo deveria acontecer e que nada deve ser feito para impedir, pois esse seria o desejo de Ava. Pelo menos é o que eles alegam quando questionados sobre suas ações. Em contraste, Victoria Hamilton se recusa a deixar isso acontecer e, felizmente, possui uma forma de salvar esses seres. Em diferentes ruínas espalhadas por Ava, uma antiga civilização conhecida como Antaris deixou uma tecnologia capaz de combater a Mazela. Vic utilizará essa tecnologia na tentativa de salvar o planeta. Toda a relação entre a bioarca e o resgate das criaturas parece estranha, e o enredo revela as verdadeiras intenções, que estão ligadas a questões de geopolítica da biodiversidade e ao capitalismo selvagem, mais precisamente à biopirataria. O estoicismo aparente dá lugar a uma teoria do tempo cíclico, abandonando um suposto final feliz em favor de uma temática contundente e histórica.

Em termos de jogabilidade, o jogo propõe algo leve e descontraído, sem abrir mão de contar uma história filosófica e crítica da sociedade atual. O que é apresentado é divertido e bem cadenciado, com o escopo de habilidades e mecânicas se expandindo ao longo dos biomas, sempre oferecendo algo novo e interessante para ser explorado. De forma integrada, os puzzles são divertidos, pois exigem a participação das criaturas, que são envolvidas no elemento principal da jogabilidade. Elas não permanecem apenas como um objetivo a ser conquistado, mas atuam como um elemento ativo na gameplay.

As personagens presentes na obra são divertidas, com personalidades distintas que frequentemente servem como alívio cômico. Infelizmente, elas são mal aproveitadas, principalmente devido à qualidade insatisfatória das missões secundárias. A maioria das personagens está presente apenas para dar corpo à gameplay, sem contribuir significativamente para o aprofundamento das relações entre elas. Algumas cumprem esse papel, mas a maioria não. Já as personagens que não estão presentes fisicamente, mas são constantemente mencionadas — os doutores — desempenham um papel importante na construção do enredo. O contato com eles ocorre através dos dados deixados para trás em tablets, o que é impressionante. Geralmente, essas informações em folhetos são irrelevantes e têm pouco impacto na obra; felizmente, em Creatures of Ava, isso é diferente, demonstrando um excelente trabalho de game design.

O design de personagens do jogo é bem executado. A fauna diversificada é surpreendente e cativante, e tanto os personagens principais quanto os secundários são marcantes à sua maneira. Em termos estéticos, destacam-se as belíssimas cinemáticas, que alternam entre um estilo de desenho ocidental e oriental. No entanto, há um problema com alguns efeitos sonoros, especialmente os relacionados à proximidade de recursos especiais. Esses sons são estridentes e fora de sintonia, provavelmente devido a algum problema na programação.

Concluindo, Creatures of Ava não inova realmente em termos de jogabilidade ou na proposta dos elementos constituintes, como puzzles, mini-games, RPG, etc. No entanto, a história que se propõe a contar é interessante, principalmente por não ser simples e por seguir uma temática mais densa em contraste com o restante do jogo, que é leve e suave. Esse contraste torna a exposição da temática ainda mais impactante, pois tira o jogador da zona de conforto. Além disso, a escolha de uma temática crítica e necessária faz com que Creatures of Ava se destaque como um jogo corajoso, que não tem medo de desafiar os jogadores e os obriga, pelo menos um pouco, a refletir sobre o que está sendo apresentado.

Conheça mais sobre a Inverge Studios. Para ficar por dentro de notícias da semana do mundo dos jogos fique atento à BlackCompany em Games.

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