Na última sexta-feira, a Wizards of the Coast – empresa responsável pela publicação do sistema de RPG Dungeons & Dragons (D&D) e o jogo de cartas Magic: The Gathering – publicou em suas redes sociais o encerramento das traduções de seus materiais para a língua portuguesa, alegando que os custos de tradução não se pagavam no mercado lusófono.
Apesar da revolta causada na comunidade BR – com direito a uma enxurrada de fotos do ex-jogador de futebol Vampeta para uma revista de entretenimento adulto nas postagens das contas verificadas da WotC no X (ex-Twitter) –, a empresa não deve voltar atrás tão cedo. Segundo o anúncio oficial, eles devem se concentrar em materiais traduzidos apenas para japonês, alemão, francês, italiano e espanhol, além do idioma original (inglês).
É inegável que o Brasil possui uma quantidade enorme de jogadores de RPG e TCG (Trading Card Games) e com certeza D&D e Magic são os mais famosos em suas categorias. Então, como podem alegar falta de receita no mercado tupiniquim? Levando mais para o lado do Dungeons & Dragons, não é tão difícil entender: dada a nossa realidade financeira, os livros estão longe de serem baratos (para comprar os 3 livros principais, é necessário desembolsar cerca de R$ 800). Além disso, de 2020 para cá passamos por um período pandêmico, onde grande parte da comunidade migrou seus jogos para plataformas online, nas quais parte do material é disponibilizado gratuitamente ou até mesmo incluso dentro dos custos da plataforma. Por fim, podemos incluir a criatividade do brasileiro: quando queremos fazer algo, damos um jeito – seja emprestando os livros ou até aprendendo o mínimo de inglês só para poder jogar com o que há de conteúdo gratuito de D&D na internet.
Importante dizer: não é a primeira vez que Dungeons & Dragons abandona o mercado nacional. Entre 4ª e a 5ª edição do sistema, houve um grande período onde não era possível jogar D&D por meios oficiais senão através da importação dos livros de regras. Embora a 5ª edição tenha sido lançada em 2014, apenas em 2019 tivemos uma versão traduzida aqui no Brasil, disponibilizada pela Galápagos Jogos.
Tá, mas e agora?
Bom, há duas opções para continuar jogando RPG de fantasia medieval com sistema D20, caso seja sua vontade: fazer um intensivão de inglês para poder utilizar plataformas como o DnD Beyond (conjunto de ferramentas digitais oficial da Wizards of the Coast), ou aceitar que a “Era D&D” está – ao menos, temporariamente – encerrada no Brasil e buscar outras alternativas, como as listadas a seguir:
- Pathfinder: o eterno rival do D&D tem publicação traduzida pela New Order e a 2ª edição, publicada em 2022 por aqui, tem feito muito sucesso;
- Tormenta20: publicado pela Editora Jambô, é o sistema de RPG nacional mais famoso da atualidade. Conta com um universo próprio, que engloba até mesmo literatura oficial para quem gosta de ler uma boa fantasia;
- Skyfall RPG: outro RPG nacional que promete ter muito sucesso, o Skyfall RPG foi idealizado pela CapyCat Games e deve ser lançado em breve. As sessões de acesso antecipado foram amplamente elogiadas;
- 13ª Era: o sistema criado por game designers envolvidos na 3ª e 4ª edições do D&D é outro publicado no Brasil pela New Order e é conhecido pelo sistema de batalha dinâmico e mecânicas específicas para cada classe de personagem.
Já a respeito de Magic: The Gathering, o buraco é um pouco mais embaixo. Não há muitas opções conhecidas no cenário nacional, mas ainda há muito a ser explorado com os conhecidos Pokémon TCG e Yu-Gi-Oh! – ambos contam com cartas traduzidas para português. Mas se quiser algo mais próximo do ambiente fantástico de Magic, que tal dar chance para Vampire: The Eternal Struggle? O jogo de cartas foi inspirado no conhecido cenário do sistema de RPG Storyteller e é distribuído aqui no Brasil pela Conclave Editora.
Sabemos que as comunidades de RPG e TCG são muitas vezes fechadas para mudanças, seja por preconceito com o que é diferente, seja pelo esforço de aprender uma dinâmica nova daquela que está sendo utilizada por anos a fio. Entretanto, esses choques de realidade podem ser úteis para abrirmos os horizontes para o que é novo. Mas cuidado: você pode acabar até gostando da ideia.
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