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A personagem 2B, de Nier Automata, está de perfil, prestes a empunhar sua espada, com seu Pod ao lado. A imagem parece ser feita ao estilo de uma pintura

Nier Automata e a filosofia por trás do jogo

Nier Automata foi um jogo Hack and slash em terceira pessoa, criado por Yoko Taro e publicado pela Square Enix em 2017, possuindo também uma versão em anime que estreou em 2023, e atualmente está lançando os episódios da segunda temporada de forma semanal. O universo é o mesmo de Drakengard e Nier Replicant, mostrando um mundo distópico causado pela guerra entre humanos e máquinas.

2b, de Nier Automata está caminhando no sentido da câmera, em uma cidade fantasma. É possível ver o Pod a acompanhando e um robô desligado ao fundo

No jogo, você controla 2B, uma androide (robô feito à imagem e semelhança dos humanos) de combate que está na Terra, lutando contra as máquinas (robôs enviados pelos alienígenas para destruir a humanidade) para recuperar o planeta e permitir que a humanidade possa retornar, depois de se refugiar na Lua. Esse é o objetivo do projeto YorHa, do qual 2B e 9S fazem parte. 9S é um androide escâner que te acompanha ao longo do jogo.

No entanto, o que faz Nier Automata se destacar dos seus companheiros é a repaginação de alguns elementos já estabelecidos. É possível ver alguns conceitos clássicos do gênero cyberpunk, como o caráter futurista e melancólico proveniente da tecnologia. No entanto, ao invés de vermos grandes corporações e megalópoles tecnológicas, Nier dá um passo além, e aqui vemos o que praticamente seria o fim dos tempos, se não fosse essa busca pela recuperação, mostrando apenas resquícios do que o planeta poderia ter sido. Esse avanço permite que a melancolia se intensifique, e com ela algumas diferentes correntes filosóficas para buscar sentido a tudo aquilo que está acontecendo.

Atenção, a partir de agora, serão falados aspectos spoilers de Nier Automata. Continue por sua conta e risco.
O jogo nos apresenta logo no início algumas situações que causam estranhamento tanto nos androides quanto na pessoa que está jogando: as máquinas tentam simular comportamentos humanos, fazendo ações das quais sequer são capazes, como criar um filho, ter uma família, tentar comer, mesmo que não consigam ou não tenham a necessidade biológica. 

Mais tarde, descobrimos que muitos robôs decidiram abrir mão de lutar por perderem o contato com os alienígenas, perdendo o sentido da guerra por consequência, optando por viver de forma pacifista. Uma das principais máquinas apresentadas é Pascal, que seguiu esse caminho citado e decidiu fazer sua vila para abrigar outros robôs, o que novamente causa estranhamento nos androides, mas eles evitam o conflito. Pascal é inspirado no matemático e filósofo Blaise Pascal, autor da frase “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, conceito esse que é bem explorado no jogo. 

Além dele, conhecemos duas máquinas: Jean Paul, uma referência clara e bem humorada para Jean Paul Sartre, numa missão chamada “A melancolia de Jean Paul”. Na filosofia de Sartre, esse conceito se deve a alguns fatores e um deles é a percepção da não existência de sentido, podendo causar náusea e angústia. E por último, o jogador conhece Simone, uma máquina quebrada (e um boss) que se tornou obcecada em se tornar a mais bonita para ter a atenção de Jean Paul. Além da brincadeira pelo fato de Jean Paul Sartre ter sido companheiro afetivo de Simone De Beauvoir, a obsessão do robô é uma crítica inspirada nos conceitos filosóficos da francesa, principalmente a forma como a mulher é retratada perante a sociedade, sendo sempre o “segundo sexo” e objetificada pelo homem. No jogo, Simone acaba se corrompendo, vítima das questões apontadas pela filósofa.

É importante ressaltar que Nier Automata possui mais de uma campanha, sendo a campanha A a visão da 2B, B visão do 9S, e C a continuação do que foi visto em A e B. Na primeira campanha, é revelado que os alienígenas foram mortos por suas próprias criações, chamadas Adão e Eva, que evoluíram e se tornaram superiores. Logo, as máquinas comuns já não tinham mais propósito do que fazer, por isso a necessidade de tentar imitar os humanos. Após derrotar Eva, a campanha A se encerra em um monólogo da 2B: “O que separa as máquinas de androides, como nós? Elas ganharam emoções e consciência. Os últimos gritos vociferados por eles na beira da morte ainda ecoam dentro de mim”.

Já na segunda campanha, 9S descobre que a humanidade nunca conseguiu chegar à Lua, sendo extinta antes disso. O projeto YorHa foi apenas algo para motivar os androides. Além disso, a composição deles não era tão diferente das máquinas que enfrentaram por séculos, travando uma guerra inacabável por um motivo que nem existia mais. Já desiludido, 9S ainda se vê obrigado a ver tudo desmoronando de vez, porque, na Campanha C, um vírus começa a corromper os androides, matando todos do Projeto YorHa um por um, incluindo 2B. Isso faz com que a psique de 9S colapse de vez, fazendo uma vingança cega sua única motivação.

O jogo se inicia com um monólogo de 2B, falando que tudo que vive está destinado a morrer, perguntando se isso seria alguma punição divina e se seria possível matar esse deus. Essa é uma referência à clássica frase de Nietzsche “Deus está morto e nós o matamos”. Assim como o filósofo fez essa afirmação após o enfraquecimento de uma crença, no final de Nier Automata podemos entender que o jogador mata esse deus sobre o qual 2B comenta, quebrando crenças pré estabelecidas e questionando quais seriam suas verdadeiras essências, e se elas justificariam tudo o que passaram.

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