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Split Fiction

Split Fiction: raízes renovadas acompanhadas de uma crítica contundente e atual

Split Fiction é o mais novo jogo da Hazelight Studios, estúdio sueco responsável por jogos de grande sucesso, como: A Way Out e It Takes Two, sendo o segundo o ganhador do prêmio Game of the Year de 2021. A nova obra segue a premissa da mecânica base de todos os jogos do estúdio até hoje, a tela dividida em duas, com a obrigatoriedade de ter dois jogadores para ser jogado.

A obra propõe a tela dividida, uma mecânica clássica dos jogos antigos, que foi originada nos fliperamas com os seus famosos jogos de corrida. Esta mecânica se tornou um clássico do estúdio, em qualquer jogo que foi produzido ou que será, a certeza será a presença desta mecânica. A mecânica somente por si proporciona uma experiência diferenciada. Ela origina-se na seleção do amigo/companheiro que será a dupla do jogador e leva até a vivência das outras, que trabalham com a proposta de sincronia e trabalho em equipe, além da influência na história, que é pensada para ser vivenciada por duas pessoas. A história pretende explorar a pessoalidade de cada personagem ao tempo que é desenvolvida a relação entre elas de forma gradual e contínua.

Ainda sobre a proposta, o jogo se baseia bastante em mecânicas de puzzles. Além desta clássica, que também estava presente nos outros jogos do estúdio, há aqui uma ode aos diferentes jogos da história dos videogames. As referências são infindáveis, partindo de Donkey Kong, Assassin’s Creed, Mega Man até jogos bem antigos como o famoso Snake (ou “jogo da cobrinha”). As referências são divertidas pois além de homenagearem grandes jogos da história, também conseguem adicionar mini jogos como uma mecânica extra, o que acaba deixando os puzzles ainda mais divertidos e interessantes. Por último, os puzzles inéditos, trazidos pelo jogo, são excelentes, suas mecânicas por vezes são inovadoras e divertidas, sempre proporcionando algo novo e fora da caixa para que os jogadores aproveitem.

Em relação à história, ela está intrinsecamente ligada à jogabilidade, afinal somente ela consegue dar sentido a “ficção dividida” entre a fantasia e o cyberpunk. A temática somente por si já é boa o suficiente para cativar os jogadores, afinal, vivenciar diferentes histórias, criadas em diferentes momentos da vida de duas escritoras, sejam essas de fantasia ou cyberpunk, é simplesmente incrível. Cada história possui suas peculiaridades que estão ligadas ao desenvolvimento e momento de vida das personagens, ao tempo em que possuem mecânicas únicas e referências aos clássicos jogos do passado. O foco na vivência dessas histórias passa pela salvação das histórias escritas pelas personagens, pela salvação das próprias personagens e pela construção de uma amizade entre ambas. O aspecto da confiança em Split Fiction, que é trabalhada na relação das personagens, se assemelha mais a A Way Out, onde a cooperação entre indivíduos que não se conhecem é necessária para um bem maior.

Além das questões pessoais envolvendo família, realização profissional e superação do passado, a história propõe uma discussão atual e necessária. A máquina da indústria Rader, que possibilita o roubo das histórias, se assemelha bastante aos problemas relacionados às inteligências artificiais atualmente. Os modelos generativos da IAs são treinados a partir de textos já escritos, pinturas já pintadas, roteiros já formulados e histórias já criadas. Utilizar obras e trabalhos sem consentimento (ou mesmo com), é um dos grandes problemas da moralidade que envolve as IAs. Split Fiction dá um passo além: a história não é mais copiada e utilizada como “base” para um algoritmo, ela é realmente extraída do cérebro dos artistas. O exagero da ficção proposta pela Hazelight Studios somente aponta a realidade presente que alguns negam pelo “bem maior da sociedade”, há trabalhos sendo roubado de artistas de todo o mundo. O debate é levantado com uma pitada a mais de ênfase, dado o exagero que a ficção traz, porém não deixa de ser importante o debate em relação a este ponto. Mais importante ainda é os jogadores entenderem a crítica realizada pela obra e apoiarem aqueles que sofrem com este problema, os artistas.

Split Fiction por tempo se foca no fechamento das brechas nos mundos ativos, que são alternados entre as histórias escritas pelas duas personagens. O ponto onde a obra se torna espetacular é quando se propõe a utilizar sua mecânica “raiz”, a tela dividida, de forma inovadora, isto ocorre quando há a combinação e alternamento em tempo real dos universos das personagens. Este momento além de épico, é de um nível de complexidade de game design, estético e de jogabilidade dos mais incríveis já produzidos. Esta última parte é curta mas é simplesmente sensacional, trocar entre as diferentes realidades e utilizar a limitação entre a tela dividida leva esta mecânica a um novo nível, um que não havia sido explorado até agora, as raízes do estúdio foram renovadas. A Hazelight Studios conseguiu superar barreiras que os jogadores e consumidores nem sabiam que existiam.

No que diz respeito a estética e desempenho, a obra também é impecável. Ela é executável em PCs modestos, com uma qualidade excepcional. Esteticamente, o trabalho executado é bom, tanto na modelagem dos personagens e do cenário quanto nos efeitos especiais. O que torna este trabalho ainda mais impressionante são as diferentes propostas estéticas que foram apresentadas, a troca entre elas é constante e todas seguem uma espinha dorsal comum, algo admirável e de difícil execução.

Concluindo, Split Fiction talvez seja o melhor trabalho da Hazelight Studios até aqui, melhor inclusive que It Takes Two. Nesta nova obra, a profundidade das histórias continuou com sua excelência e a jogabilidade e mecânica conseguiram dar um passo além, o game design evoluiu muito e deu vida a algo único na história dos jogos. Além disso, o estúdio decidiu tocar em uma ferida aberta que está machucando a indústria da qual a Hazelight Studios faz parte. Houve coragem para apontar para os próprios “companheiros” e sinalizar os erros que eles estão cometendo neste momento. O mais genial é como a mensagem é transmitida, a mensagem é clara e direta, mas é passada através de uma história espetacular em um produto que é comum a todas essas empresas, o jogo. Josef Fares, o diretor do estúdio, utiliza a arte para criticar o fazer artístico contemporâneo, e de sobra ainda homenageia suas duas filhas gêmeas, que são inspiração para as protagonistas.

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