Still Wakes the Deep, a obra mais recente da The Chinese Room, desenvolvedora de jogos do Reino Unido sitiada em Brighton. O jogo apresenta uma plataforma de petróleo chamada de “Beira” que sofreu um acidente nos meados dos anos 70. O acidente desperta um ser sobrenatural que invade o ambiente e o jogador enquanto Cal, um eletricista, deve sobreviver neste ambiente hostil.
A proposta da obra é um jogo de horror ambientado em uma plataforma de petróleo, um ambiente limitado. O modelo single-player de um horror com um escopo delimitado é seguido à risca pelos desenvolvedores. Este tipo de proposta segue a mesma ideia que Dead Space, um ambiente fechado onde é preciso escapar, junto a isto há neste espaço seres que podem facilmente matar o protagonista. Por isso é preciso correr, resolver problemas e se esconder. Há algo sobrenatural para ser enfrentado que um simples eletricista não possui capacidade de combater. Para completar a experiência há a intimidade criada a partir de uma visão em primeira pessoa, além dos problemas pessoais que rondam a vida do protagonista.
Em relação a história, é apresentado Cas, um eletricista recém contratado para trabalhar em uma plataforma de extração de petróleo. O padrinho de suas filhas e grande amigo, Roy, que conseguiu o emprego para o homem. Cas aceita a vaga para fugir da polícia que o está perseguindo por ele ter se envolvido em um briga em que um homem foi hospitalizado. Logo no início da obra sua mulher, Suze, o manda uma carta pedindo para que ele volte para casa no natal, pois eles precisam conversar, o casamento não anda nada bem. Com esta premissa dada ocorre o fatídico acidente na plataforma. A perfuratriz trava após colidir com algo não identificado, esta coisa tornará a vida de todos os trabalhadores um verdadeiro pesadelo.
“A coisa” na verdade é apresentada como um organismo vivo que se expande, mata os humanos e toma controle de seus corpos os deformando. A obra bebe da fonte do Biopunk, subgênero da ficção científica que surge a partir do Cyberpunk. O gênero trata da formatação biológica para a modificação dos humanos. Unir esta perspectiva ao horror é comum em diversas obras que querem transmitir a ideia de uma entidade viva. Um elemento que auxilia nesta perspectiva são as diferentes imagens de microorganismo nas telas de carregamentos, radar de proximidade de inimigos com os microorganismos nos cantos da tela e toda a estética de membranas e músculos que invadem os diferentes ambientes da plataforma, assim como os seres humanos modificados.
A dinâmica narrativa é cadenciada para aumentar a ansiedade e consequentemente o horror. O protagonista aos poucos vai perdendo as possibilidades de escape daquela situação. Em um primeiro momento os botes não funcionam, assim como o helicóptero, depois ocorre problemas com a energia, a plataforma começa a afundar, as comunicações para de funcionar. A cada novo momento uma possibilidade de fuga é desmantelada ao tempo que o organismo cresce, mata e se desenvolve. Esta progressão aumenta a ansiedade, já que a cada novo problema a chance de sobrevivência decai ainda mais.
O ambiente delimitado cria uma dinâmica específica no modo campanha que a obra propõe. A plataforma possui diferentes ambientes e há diversos acontecimento que ocorrem durante o jogo que precisam ser resolvidos, muitos deles nos mesmos lugares. A progressão do organismo vivo entre as ferragens da plataforma fornece o arcabouço necessário para modificar o ambiente, mesmo que pouco, a cada nova incursão do protagonista em lugares já visitados. Outra coisa que auxilia na variação é o fato de o organismo estar afundando a plataforma no oceano, então há água entrando nos diferentes setores a cada momento, logo, visitar o mesmo ambiente horas depois fornece uma experiência diferente, porém não nova. Por fim, como elemento para aumentar o horror neste ambiente limitado há os humanos modificados pelo organismo, Cas está preso com estes monstros na plataforma. Eles são o fator predominante na geração do medo pelo fato de conseguirem matar o protagonista facilmente. Para piorar não há armas para enfrentá-los, esconder e fugir são as únicas opções.
A resolução da breve campanha é um tanto esperada. Não há muito de surpreendente no ocorrido dado a trajetória do enredo. Há uma tentativa de significação mais profunda em relação a família com cenas da mulher e as filhas de Cas, mas isto dificilmente comove o jogador. Não que a família não fosse importante para o protagonista ou coisa do tipo, porém a distância e falta de contato entre eles transforma a relação de empatia do jogador com eles em algo banal. Este efeito esperado com a família ocorre somente com a morte do melhor amigo de Cas, este momento é provavelmente o mais impactante na obra.
Esteticamente a obra conta com um realismo avassalador, principalmente no que diz respeito aos efeitos do organismo. Partículas, detalhes e vicissitude são o que regem a estética do ambiente de Still Wakes the Deep. As partículas estão presentes nos momentos em que é desejado potencializar a magnitude da Coisa. Os detalhes da água e estrutura dos navios são praticamente impecáveis. Por fim, a vicissitude fica por conta das mortes e deformações criadas pelo organismo, eles ganham grande destaque como momentos mais nojentos e desagradáveis que foram entregues.
Concluindo, Still Wakes the Deep provavelmente cairá na vala comum e será esquecido. O jogo se baseia em um modelo conhecido, testado e aprovado por outras obras do mesmo estilo. O problema é que ele não apresenta nada de inovador. Apenas ambientar o já realizado em um novo ambiente e oferecer novas roupagens não é o suficiente para criar algo relevante. A temática, jogabilidade, mecânica, progressão da narrativa é o mesmo que em várias outras obras, falta originalidade. Uma grande decepção considerando o tamanho do estúdio que produziu a obra.
Still Wakes the Deep é desenvolvido pela The Chinese Room, para saber onde está disponível o jogo ou comprar produtos da obra basta acessar o site deles clicando aqui. Para ficar por dentro de notícias do mundo dos jogos fique atento à BlackCompany em Games.
Uma resposta
Tinha um conceito muito legal, uma pena não ter entregado na execução =(