The Holy Gosh Darn é o jogo mais novo da Perfectly Paranormal, estúdio de desenvolvimento de jogos Norueguês. A obra é o terceiro jogo do estúdio, sendo que todos os jogos do estúdio se passam no mesmo universo, com personagens de Manuel Samuel (o primeiro jogo) e Helheim Hassle (o segundo jogo) aparecendo no novo título. O novo momento deste universo exige que Cassiel, a anja da celeridade, salve o paraíso da destruição.
A obra propõe uma aventura 2D com elementos de puzzle e exploração. O objetivo proposto é salvar o paraíso que é ameaçado duas vezes durante a jornada, neste percurso será necessário superar os vários desafios ao tempo em que o cenário é explorado. O jogo é extremamente satírico, sendo por vezes bastante divertido, principalmente por brincar com o imaginário da terra, Helheim, inferno e céu. A jornada é vivenciada e experienciada através de uma mecânica retorno no tempo, que torna a narrativa linearmente cíclica.
Em relação a história, a premissa está na necessidade de salvar o céu que se encontra ameaçado por fantasmas devido a um erro grotesco de Azrael, o demônio da morte. Azrael sabe de sua culpa e tenta ajudar Cass a salvar o céu, ele oferece seu relógio que permite viajar pelo tempo, o problema é que o relógio só consegue voltar no máximo 1 dia, e esse dia começa quando Cass acorda, às 12h. Então com somente 6h disponíveis será necessário salvar o paraíso, e como fazer isso? Usando o The Holy Gosh Darn, um artefato capaz de impedir os fantasmas. Nesta jornada, Cass e Azrael irão a terra, Helheim e ao inferno.
A história se torna extremamente divertida ao adicionar o elemento da sátira em tudo que ocorre no jogo. As personagens, os acontecimentos e o próprio cenário estão recheados de sátiras. O paraíso, inferno, terra e Helheim são divertidíssimos, apenas alguns diálogos e cenários já demonstram o tipo de humor que é esperado no jogo. É a partir do humor que a história é contada, ele se relaciona com todos os aspectos da obra e está presente nos detalhes, como o paraíso onde todos habitantes xingam o tempo todo e o inferno onde é proibido xingar.
Por mais absurda que a história pareça ser, ela tem espaço neste tipo de obra, pois a mesma não se leva a sério. O jogo brinca consigo mesmo o tempo todo e sabe que a sua história tem que ser bizarra para fazer sentido nesse cenário satirizado que foi desenvolvido. Os absurdos são o que torna tudo realmente divertido, a fonte deste tipo de abordagem é antiga: Simpsons, South Park, entre outros, já apresentam esta abordagem em suas obras há anos. Apesar de não haver inovação neste quesito, não é fácil desenvolver este tipo de história absurda e mais difícil ainda é ela ser boa, como é o caso de The Holy Gosh Darn. O elogio a Perfectly Paranormal está relacionado à execução impecável de uma proposta consolidada.
As mecânicas que dão vida ao enredo são simplesmente incríveis. A volta ao tempo consegue tornar a narrativa cíclica mas com pontos de interseção interessantes. Sempre que parte do dia é reiniciada todos os itens obtidos são perdidos, a ideia é realizar certo grupos de ações que ofereçam um item ou uma informação e partir deste ponto não precisar mais serem acessadas, como conseguir saber onde se localiza o The Holy Gosh Darn e a partir daí não precisar mais acessar o cofre, logo o grupo de ações para chegar lá não precisarão mais serem repetidas. Com esta proposta a ideia de tudo estar acontecendo ao mesmo tempo mas em linhas temporais diferentes é implementada, tornando a narrativa mais dinâmica, pois há várias coisas que estão acontecendo e ainda às 18h não chegaram.
Diversos pontos interessantes da viagem no tempo são considerados pelos desenvolvedores. Assim, mecânicas interessantes como o guarda-roupa e inventário fora do espaço-tempo são implementadas para que seja possível progredir na história sem desobedecer a dinâmica do paradoxo temporal. Estas mecânicas oferecem até certo ponto um elemento estratégico no jogo, como o apresentado no tutorial da xícara de café. Em vários momentos o jogador deve considerar o que deve ser guardado para ser preservado na volta ao tempo, além de se preocupar com as horas de cada acontecimento. Este teor estratégico somado às mecânicas, criam espécies de puzzles onde é necessário decidir a sequência de ações corretas para que o objetivo seja alcançado, até porque a descrição da missão principal só expõe o sentido geral da missão sem oferecer especificamente qualquer dica. É importante ressaltar que nenhum desses elementos e características torna a obra difícil ou qualquer coisa do tipo, a obra é uma narrativa 2D bastante casual.
A duração do jogo não é longa e a variedade de ambientes não é grande, e por incrível que pareça a obra não se tornou repetitiva. Isto se deve ao excelente desenvolvimento da narrativa utilizando a mecânica de viagem no tempo da melhor forma possível. O jogo com quase 6h de duração possui um cenário pequeno com quatro cenários relativamente pequenos, para não tornar a obra monótona, a proposta é apresentar os ambientes de formas diferentes conforme a história progride. As mudanças em cada um dos ambientes são pequenas mas suficientes para conforme a história avança, ainda fazerem sentido, mesmo visitados diversas vezes durante as viagens temporais. O game design tem que ser bom para que a proposta transmita essa sensação, o trabalho dos desenvolvedores é impecável neste sentido.
Esteticamente a obra apresenta um cartoon interessante, com uma arte de 2D clássica saída dos desenhos animados tradicionais de antigamente. Além disso, os efeitos sonoros e os detalhes do ambiente são o que realmente capturam o jogador, como por exemplo, uma fonte de Jesus que bebe vinho e urina água ou o gemido clássico dos anciões ao serem ofendidos. A estética é tão responsável pela característica satírica da obra quanto os diálogos, é ela que dá vida ao humor transcendental (literalmente) da obra.
Concluindo, The Holy Gosh Darn é divertidíssimo, a obra tem um tamanho ideal e possui um ritmo incrível, é difícil o jogador se sentir preso ou que não está progredindo. A alteração dos parâmetros “conhecidos” de céu, inferno, Helheim e terra, por si só já tornam o que foi apresentado extremamente divertido, as sátiras vão do diálogo ao cenário, tudo é engraçado. A história fantasiosa ao extremo tem espaço em uma obra que brinca o tempo todo consigo mesma, elas se une ainda a mecânicas que reaproveitam o ambiente ao máximo, tornando-o muito dinâmico. No que The Gosh Darn se propõe, ele é fantástico, o que é requerido deste tipo de obra é entregue na melhor qualidade possível, tornando assim a experiência ímpar.
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