Quem está incomodado entendeu bulhufas sobre a história de The Witcher
Na última quinta-feira, 12, durante a cerimônia The Game Awards, a desenvolvedora CD Projekt Red revelou o trailer de The Witcher 4. O quarto título da franquia — esta baseada nos livros de mesmo nome do autor polonês Andrzej Sapkowski — apresenta a personagem Cirilla, apelidada de Ciri, como protagonista, o que foi o suficiente para diversas pessoas afirmarem que o jogo é “woke“.
O termo afro-americano woke significa, originalmente, estar acordado para injustiças raciais. Nos últimos anos, a palavra ressurgiu durante o movimento Vidas Negras Importam, que denunciou, na época, as agressões por policiais brancos a cidadãos afrodescendentes, nos Estados Unidos. Recentemente, devido à cultura do cancelamento, a palavra passou a ter outra definição. De acordo com o dicionário Merriam-Webster, woke pode ser usado com desaprovação para referir-se a alguém “politicamente liberal ou progressista (como em temas de justiça racial e social), especialmente de uma forma considerada insensata ou extremista”.
Em outras palavras, woke tem duas denotações: ser alguém com consciência racial e social ou ser alguém que acredita que as suas ideias são corretas e devem ser impostas às demais. No último, o termo é utilizado no sentido de “lacração”, ou seja, buscar visibilidade de uma maneira nem um pouco genuína.
Por questões de representatividade, muitas empresas passaram a abordar pautas inclusivas, como direitos LGBTQIA+ e ideologias feministas, em seus produtos. Por um lado, há quem fale que as corporações estão certas porque é preciso haver diversidade, entretanto, por outro, há quem diga que as companhias não se importam com os temas apresentados, mas com o dinheiro arrecadado, o que resulta em personagens e histórias apelativas. Obras como Assassin’s Creed Shadows (2025), A Pequena Sereia (2023), Velma (2023) e She-Hulk (2022) dividiram a opinião pública, tornando-se “necessárias” ou “woke“, dependendo do ponto de vista.
No universo criado por Sapkowski, a princesa Ciri é a responsável por movimentar a história. Tanto nos livros como em Wild Hunt (2015), as aventuras do bruxo Geralt de Rívia e as tramas da feiticeira Yennefer de Vengerberg só acontecem porque ambos percorrem reinos à procura dela.
Em relação ao terceiro jogo da série, tudo gira em torno de encontrar e proteger Zireael, como é conhecida na língua élfica. Muito antes de Geralt aposentar-se em um vinhedo, em Blood and Wine (2016), ele prepara a garota já na infância dela para ser uma bruxa. É um completo equívoco alegar, portanto, que a criança do Sangue Antigo foi escolhida como protagonista de The Witcher 4 com o intuito de “lacrar”. A narrativa foi construída para ser dessa maneira desde o início.
A real preocupação deveria ser sobre como e quais decisões realizadas anteriormente serão levadas em conta, e não se Ciri será capaz de ser uma boa protagonista como Geralt, que participará do enredo, embora não de uma maneira ativa. No fundo, a dona dos cabelos cinzas sempre foi a verdadeira protagonista da saga The Witcher — e uma ótima protagonista, por sinal.
Ao mesmo tempo que gamers homens querem jogos com protagonistas mulheres sexualmente apelativas, como Eve, de Stellar Blade (2024), e 2B, de NieR:Automata (2017), eles não querem jogos com outros tipos de protagonistas mulheres, pois são considerados “woke“.