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ilustração principal da capa de As Crônicas de Castel: O Reino dos Infames

Review: As Crônicas de Castel – Livro 1

Internet. Iniciativas digitais. Plataformas online. Popularização do marketing via redes sociais. Todos esses componentes auxiliaram no surgimento de novos escritores e escritoras nos últimos 10 anos em todo o mundo. Aqui no Brasil – país cuja literatura, no geral, não é muito incentivada –, a oferta é bem maior que a demanda. Soma-se o fato que a oferta interna é constantemente afogada diante dos best-sellers internacionais trazidos aos montes para cá, e temos um árduo e selvagem caminho a ser traçado pelos autores brasileiros cuja visibilidade é constantemente afogada pelo cenário supracitado. Pensando nisso, é sempre bom encontrar obras escritas por gente daqui da nossa terrinha e que merecem mais espaço nas prateleiras – sejam elas virtuais ou não. Um exemplo é a primeira obra do autor mineiro Léo Almeida, uma fantasia clássica intitulada As Crônicas de Castel: O Reino dos Infames, publicada pela Editora Alarde em 2022.

A premissa trazida por Léo para O Reino dos Infames é simples, porém quebra alguns paradigmas tradicionais da literatura brasileira: ele se baseou em uma aventura de RPG – mais precisamente, do sistema Dungeons & Dragons – para criar uma obra de fantasia medieval, porém acessível para qualquer um, mesmo a quem sequer faz ideia do que é um jogo de RPG.

A aventura começa

A obra é narrada em primeira pessoa pelo protagonista Tares, um elfo bibliotecário que, após um evento infortuno durante seu aniversário, se envolve em um acidente, sendo levado pela correnteza de um rio para longe de sua casa. O golpe causou a perda de sua memória, e então o jovem se vê em uma situação completamente caótica e de difícil assimilação: como descobrir suas origens, pistas sobre o passado e o motivo de ter chegado onde está no momento? Alguns dos seus aprendizados parecem ter permanecido no seu inconsciente, tornando Tares um aliado inteligente e, de certa forma, poderoso para Nix – o meio-orc que o resgatou do rio – e Fen, um foragido da justiça que nutre um ódio muito específico por seres humanos. O trio então passa a viajar por lugares do Reino de Umbra, cada qual com sua missão pessoal, e sempre pelos olhos de Tares. O caldo entorna, no entanto, no momento em que eles acabam envolvidos em um grande conflito causado pelos ecos de uma guerra há pouco findada.

Léo escreve de forma simples e dinâmica, com pegadas de humor e um certo desprendimento (bem vindo, inclusive) do arquétipo das obras de fantasia que fazem com que a escrita seja mais rebuscada e formal. Essas características transformam O Reino dos Infames em um bom livro de iniciação à literatura para o público juvenil, tal qual fora nos anos 1980 e 1990 com a saudosa Coleção Vaga-Lume. Isso, no entanto, não pode deixar a falsa impressão que é uma história simplória e sem profundidade, pois temas mais pesados, como vida e morte, escravidão e preconceito racial são amplamente debatidos durante a leitura, tornando-a uma aventura para todas as idades.

Outro ponto positivo de O Reino dos Infames é a diagramação da Editora Alarde, que conta com ilustrações de momentos específicos da aventura (a última é particularmente incrível), um mapa da região onde a história se passa e artes bem feitas para cada página de título dos capítulos.

Abraçar nossas histórias independe da cultura

Os mais conservadores da literatura nacional podem até torcer o nariz, dizendo que é uma utilização de mitologias eurocêntricas para criar uma história, enquanto temos aqui uma cultura riquíssima que poderia ser utilizada (em resumo, menos “elfos” e mais “sacis”). Contudo, Léo deixa claro em meio às 204 páginas do romance que não é porque há elementos de um jogo mundialmente bem quisto que se deveria abrir mão da brasilidade – algo demonstrado em nomes de lugares, pessoas e até mesmo em seres assustadores, como o “Chibamba”. Na realidade, mesmo que não existissem tais elementos, O Reino dos Infames não perderia seu charme: basta ter uma mente aberta para aproveitar o fato que há brasileiros utilizando os elementos dos best sellers estrangeiros para criar literatura de qualidade dentro da nossa terra. É quase a carta de retorno do Uno, só que (ainda) sem o poder necessário para digladiar com as obras de fora.

E quando falamos da “falta de poder” ante as obras internacionais, é importante deixar claro que não estamos falando de qualidade da história, mas sim da visibilidade e apelo ao público mais leigo. É fácil para uma pessoa leitora entrar na livraria e ter a atenção puxada para a grande pilha de livros no mostrador central, com capas bonitas e nomes que ecoam sucesso, como George R. R. Martin, J. K. Rowling e Sarah J. Maas. Os “Léos Almeidas”, por consequência, nas prateleiras do fundo, mal são vistos. As Crônicas de Castel: O Reino dos Infames é um dos exemplos de que basta uma mentalidade mais solta e um pouco de esforço ao buscar novas obras, e você poderá encontrar histórias incríveis no quintal de casa.

Informação

As Crônicas de Castel: O Reino dos Infames é o primeiro livro de uma saga prometida por Léo Almeida, cujo volume 2 foi lançado no primeiro trimestre, intitulado O Dragão de Mar Além. Ambos podem ser adquiridos diretamente no site oficial da Editora Alarde e a versão digital para Kindle de O Reino dos Infames está disponível em Amazon.com.br. Se quiser saber mais sobre o autor, siga-o no Instagram.

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