Em 2023, o escritor espanhol Javier Cercas recebeu um convite inesperado. Conhecido por seu ateísmo e postura anticlerical, ele aceitou o convite para acompanhar o papa Francisco em uma viagem oficial à Mongólia. O Vaticano enviou o convite diretamente, surpreendendo o autor. Além disso, a oportunidade garantiu à Cercas acesso irrestrito ao pontífice e às estruturas da Igreja. Como resultado dessa experiência, Cercas criou a obra El loco de Dios en el fin del mundo. Por fim, a editora Record lançará o livro no Brasil em setembro de 2025, com o título O louco de Deus no fim do mundo.

Um Diálogo entre Mundos Opostos
Durante a viagem, Cercas e Francisco travaram conversas profundas sobre temas como fé, ressurreição e vida eterna. Além disso, Cercas foi motivado pelo desejo de atender à pergunta feita por sua mãe. Ela queria saber se seria possível reencontrar o marido falecido após a morte. Por isso, Cercas procurou respostas junto ao papa que pudessem consolar sua mãe devota.
Apesar de não acreditar, Cercas se impressionou com a abertura e a disposição de Francisco para abordar questões complexas e até polêmicas sobre a fé. O papa enfrentou temas delicados e demonstrou uma postura de diálogo e compreensão.

A Revolução Silenciosa do Papa
Além disso, a obra mostra como Francisco promoveu reformas dentro da Igreja Católica, buscando uma estrutura mais horizontal e sinodal, ao mesmo tempo em que se afastava do clericalismo tradicional. Cercas destaca, por outro lado, que, se o papa tivesse levado essas reformas ao extremo, poderia ter provocado cismas dentro da Igreja.
O autor também mostra que Francisco tentou resgatar os princípios do cristianismo primitivo. O papa defendeu os pobres e rejeitou alianças com o poder político. Dessa forma, ele contrastou com a história da Igreja na Espanha, que frequentemente se alinhou a regimes autoritários.
Uma Obra Singular
Cercas descreve O louco de Deus no fim do mundo como uma “novela sem ficção”. No livro, ele mescla elementos de crônica, ensaio, biografia e autobiografia. Ao longo de 448 páginas, propõe uma reflexão profunda sobre o papel da espiritualidade e da religião na sociedade contemporânea. Além disso, aborda o anseio humano por transcendência e imortalidade.
A obra proporciona um encontro raro entre ceticismo e fé, oferecendo aos leitores uma perspectiva única sobre o papa Francisco e os desafios que ele enfrenta à frente da Igreja Católica no século XXI.