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Luminária: Estoure a bolha e saia do monopólio da Romantasia

Como leitora e criadora de conteúdo literário, sempre fico de olho nas trends de livros através de outros influencers, seja no YouTube ou nas redes sociais. E não é de hoje que o mercado literário usufrui da hegemonia das romantasias como carro-chefe de suas vendas, sendo retroalimentada pelos algoritmos das redes sociais, que indicam outras obras de teor similar àquela que foi lida ou apenas pesquisada. Com isso, os conteúdos literários tornam-se, em sua maioria, propagandas apenas de romantasias e, caso não se policie, acaba consumindo sempre o mesmo subgênero. Por isso, vamos conversar um pouco sobre este fenômeno e o conforto de se manter enclausurado nele. Abaixem as espadas, interrompa os beijos, acenda a Luminária e vamos falar um pouco sobre a bolha da romantasia.

O fenômeno da Romantasia

Não há um consenso na comunidade literária sobre o termo “romantasia”. Muitos entendem como a junção de “romance com fantasia”, porém outros também utilizam tal termo aglutinado para as histórias que se enquadram na “fantasia com romance”. De modo geral, o termo abrange histórias de ficção com elementos fantásticos e com um romance envolvendo o(a) protagonista, em maior ou menor proporção.

Autoras como Sarah J. Maas, Cassandra Clare e Holly Black vendem milhares de livros através de suas sagas “Trono de Vidro”, “Instrumentos Mortais” e “O Povo do Ar”, respectivamente. A Forbes Portugal estipula que Sarah J. Maas já vendeu cerca de 4,8 milhões de exemplares até 2024. Na Amazon, na lista dos mais vendidos até então, o primeiro volume de Quarta Asa (Rebecca Yarros) está na 8ª posição e possui mais de 16 mil avaliações, com pontuação de 4,9 em uma escala até 5,0. Nas ofertas de e-books, uma das primeiras opções é o recém-lançado “Quicksilver” (Callie Hart).

Um movimento recente na comunidade independente e que vem ganhando forças cada vez maiores são as histórias “dark romance”. Este termo refere-se aos romances voltados para o público adulto, que exploram temas sombrios (crimes, obsessão, sequestro e relacionamentos tóxicos) e possuem personagens moralmente ambíguos. Dentro desse subgênero, há livros que se enquadram na romantasia, ou seja, há obras que envolvem romances entre os personagens, associados a situações mais violentas e inseridas no espectro fantástico. Posso citar como exemplo as séries “De Sangue e Cinzas” de Jennifer L. Armentrout, “Um Beijo de Sombras” de Laurell K. Hamilton e “O Príncipe Cruel” de Holly Black.

A bolha do algoritmo

Tendências, hypes e ondas, queira chamar como quiser, sempre aconteceram no mercado editorial. Por exemplo, a primeira década dos anos 2000 foi marcada por livros de romance contendo vampiros (“Crepúsculo”, “Diário de um Vampiro”, “House of Night”, entre outros), depois vieram as distopias (“Jogos Vorazes”, “Divergente”, “Maze Runner”, “A Seleção”…) e hoje estamos na fase da romantasia e do dark romance, mas eu sinto que estas últimas tendências escalonaram em popularidade e domínio de mercado devido às redes sociais, trends no Instagram e no TikTok alavancam as vendas destes subgêneros e retroalimentam as preferências do leitor, fazendo-os consumir apenas estas opções e ficarem presos em uma bolha literária.

Sandro Magaldi, autor e especialista em gestão estratégica e vendas, explicou que o que a inteligência artificial e o algoritmo fazem hoje é o que Jeff Bezos, CEO da Amazon, começou há anos. Na década de 1990, o empresário propôs que os clientes pudessem avaliar o item comprado, os grandes editores afirmaram que isso prejudicaria as vendas, mas Bezos ignorou esta preocupação e passou a focar nos interesses dos consumidores. Ou seja, o empresário moldou o mercado consumidor, priorizando os gostos dos clientes e ofertando aquilo que eles já têm interesse em consumir ao invés de trabalhar em convencimento. Então se você curte ler Sarah J. Maas, o algoritmo irá redistribuir o conteúdo pelo qual você tem acesso e irá lhe indicar outros livros da própria autora ou outras obras de temática semelhante, ao invés de te convencer a experimentar um de Franz Kafka, por exemplo.

É muito confortável consumir conteúdos e ler livros que estejam dentro do seu gosto, não há nenhum mal nisso, o problema é quando essa exposição privilegiada te engloba em uma bolha segura e confortável, fazendo-o um leitor preguiçoso e limitado. Para tentar combater esta zona de conforto e incentivar o desafio de consumir outros gêneros literários, alguns influencers abordam o assunto.

Mayra Sigwalt, em seu vídeo “O Problema da Romantasia”, aborda o lado positivo da romantasia o qual as escritoras são majoritariamente mulheres, mas também expõe o seu lado negativo ao propor que as trends sufocam as histórias que não necessariamente se enquadram neste subgênero, como é o caso da fantasia “O Veneno da Montanha” de Bianca Jung ou até mesmo de outros gêneros literários que têm seu espaço de divulgação diminuído. Ou seja, ao mesmo tempo que a trend beneficia os autores que escrevem histórias com esta temática romântica e fantástica, por outro lado, limita a visibilidade de escritores que não escrevem romantasia, obtendo menor possibilidade de alcance do público leitor.

Recentemente, o influenciador literário Paulo Ratz (Livraria em Casa) postou um vídeo também no YouTube falando sobre este mesmo assunto, intitulado “As Tendências Literárias Estão nos Emburrecendo?”. Em sua percepção, ele relata um pressionamento do mercado que reflete também o querer dos consumidores, em ler cada vez mais histórias de romantasia incrementadas com cenas eróticas. Além de explicar como o algoritmo, silenciosamente, faz o leitor adquirir limitados produtos similares uns aos outros, transformando-o numa pessoa restringida intelectualmente. Paulo Ratz ainda propõe a diversidade na leitura para combater o conforto da bolha e expandir os horizontes.

Faço da dica dele a minha também, leia algo além do que está acostumado. Experimente romances policiais, Freida McFadden e Harlan Coben possuem bons e eletrizantes livros nesta categoria. Ou aventure-se no mistério e no terror com o renomado Stephen King, aproveitando para assistir alguma adaptação de suas obras. Saia da literatura americana e busque por outras nacionalidades, como o livro brasileiro “Sonho e Pesadelo” (Marina Dutra) ou a duologia asiática O Livro do Chá (Judy I. Lin). Também tente ler os clássicos, Frankenstein (Mary Shelley) ou Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë) são boas opções para aqueles que gostam de algo mais trágico.

Outra dica que incentiva a diversidade de leituras é a assinatura de um clube do livro, como relatado na Revista Problemas Brasileiros. Receber em sua casa uma obra proveniente de uma curadoria e acompanhada de reuniões e debates com outros leitores, pode promover maior expansão literária, conhecimentos diversos, imersão em diferentes realidades e aprendizado de novos vocabulários. Também proponho que acompanhe criadores de conteúdo com repertório de leitura variado, às vezes, ao ouvir outra opinião desperta-se o interesse por uma obra que nunca imaginou ler antes.

A minha proposta é que você, leitor de romantasia, não abandone o gênero, o ser humano também precisa consumir o que lhe é de conforto, eu mesma gosto muito de histórias de romances e/ou de fantasia. Mas não se limite a um só tipo de subgênero narrativo, o mundo e a criatividade humana são muito maiores do que uma saga feérica, desafiar-se a ler outras obras trará benefícios para seu próprio repertório de leitura. Bug seu algoritmo, quem tem o poder de escolha é você e não uma máquina.

Luminária é a coluna literária na qual conversaremos sobre livros a cada quinze dias. Para mais conteúdos literários, acesse o portal.

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