Arte e ousadia são palavras que combinam muito bem. Um artista arrojado com frequência brinda o público com criações artísticas inusitadas, de vanguarda. É preciso ter coragem para romper com paradigmas sociais e criar uma obra singular. O Álbum Derivacivilização de Ian Ramil é extremamente ousado e incrivelmente audacioso. Esta ousadia credenciou a ele o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa. Derivacivilização é segundo álbum de estúdio de Ian Ramil, lançado em 2015 e tem pouco mais de 40min de duração, distribuídos em dez músicas, dentre elas, destacam-se três:
Coquetel Molotov
A primeira faixa do álbum é também a mais impactante de todas. Com uma letra extremamente forte, agressiva e perspicaz, Ian Ramil incomoda no mesmo nível em que alivia o ouvinte, que parece ter no cantor um locutor capaz de externalizar toda a angústia que a vida social atual nos causa. O início já começa de forma ácida com o verso ‘Eu to sentado em casa vendo qualquer merda na TV’. Quando a música cresce e o peso das guitarras aparecem, Ian explode: ‘Dinheiro, corpo farto, social, sangue-frio, opaco, eu compro um tênis novo e morre alguém.‘ A tensão aumenta gradativamente e o artista vai adiante: ‘Corro, paro, olho, choro, grito, eu ando a cada dia mais vulgar e aflito, O mundo é um skinhead eu sou um gay’. A faixa termina de forma estrondosa e começa a ficar claro porque o álbum foi ganhador de um Grammy.
Artigo 5º
A música começa com uma melodia um pouco mais calma, suave. A voz de Ian surge quase que falada, declamando o Artigo 5º da Constituição Brasileira. ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza’. Além do violão, é possível ouvir barulhos ao fundo, que trazem um ar levemente irônico. Inesperadamente, a música aumenta de peso e a ironia fica clara quando Ian eleva o tom para dizer ‘Mas você se quiser, pode cagar neste artigo. E se tiver poder, pode cagar nesta constituição’. A surpresa que causa esta mudança de direção na música é de muito atrevimento e ao mesmo tempo de muita classe.
A Voz da Indústria
Deboche é a palavra que define esta música do início ao fim. A letra já começa com: ‘Martelo você, Pra você se perder. Eu quero te ver me ouvindo sem pensar em nada’. O título da música deixa claro a intenção de Ian: mostrar como funciona a indústria musical. A letra da canção, uma marca de todo o álbum, é direta, sem rodeios. ‘Você vem dizer, Que escolhe o que ouvir, Bobinho você que acha que a escolha existe (é livre), Esmago você de um jeito que você nem vai notar, Neném’. A melodia e o ritmo não poderiam ter sido escolhidos de uma forma mais inteligente: uma batida sincopada, repetitiva, que convida o ouvinte a dançar.
Quem é Ian Ramil?
Ian Ramil é cantor e compositor nascido em Porto Alegre em 1984. Em seu currículo, tem o curso de Formação de Atores e Estilos Cênicos no TEPA. Atuou como ator e diretor de espetáculos, filmes e séries entre os anos de 2005 e 2011. É filho do renomado cantor, compositor e escritor Vitor Ramil, sobrinho de Kleiton & Kledir, famosa dupla gaúcha da música popular brasileira. Ian tem três álbuns lançados, sendo o primeiro em 2014 e o último no ano de 2023, intitulado TETEIN. Este último álbum recebeu elogios dos músicos Lenine e de Jorge Drexler e teve como primeiro single a música Macho Rey:
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